No dia 25 de Abril de 2017, reuni-me no café Piolho com pessoas do Porto e de Lisboa para discutir a possibilidade da formação de um partido liberal. Nesse dia fiz duas observações:

  1. É para fazer uma maratona ou uma corrida de 100 metros? Para uma corrida de 100 metros não contem comigo.
  2. Embora seja legítimo que neste projecto cada um tenha as suas motivações e ambições pessoais, o partido não pode ser a soma dessas motivações e ambições, mas sim algo muito superior a nós. Terá de ser uma visão de futuro ao serviço dos portugueses.

O tempo acabou por me responder.

Sou fundador e membro (agora demissionário) da Comissão Executiva da Iniciativa Liberal (IL). Mesmo antes de ter ajudado a fundar a IL defendia que não bastava apenas uma nova forma de fazer política. Também advogava uma nova forma de estar na política, assente em dois vectores. Primeiro, a Liberdade implica Responsabilidade e Responsabilização. Segundo, a verdade não pode estar subordinada às conveniências momentâneas. Por isso, não basta o que dizemos. A coerência entre o pensamento e acção é também um valor indispensável. É-o, por maioria de razão, num partido político.

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Desde o início que deixei muito claro o que pensava. Quer relativamente à articulação entre as dimensões interna e externa – descentralização; independência e autonomia dos órgãos [das funções e competências (observância ao Princípio da Separação de Poderes)] –, quer relativamente ao posicionamento e à mensagem política – respeito pelas opções individuais e defesa inequívoca dos direitos sociais, económicos e políticos de cada um; menos Estado; mais liberdade; crescimento económico. Fi-lo antes do partido ser partido. Fi-lo enquanto membro do partido. Fá-lo-ei sempre, respeitando a decisão dos membros, especialmente as que forem tomadas em Convenção.

Sem excepção, todas as três pessoas – Miguel Ferreira da Silva, Carlos Guimarães Pinto e João Cotrim de Figueiredo – que já lideraram a IL merecem reconhecimento. Todavia, reconhecimento não implica cegueira. Nem tampouco obediência cega. A lealdade é uma via de dois sentidos. E a lealdade institucional tem limites.

Por isso, e por achar que é no interior dos órgãos que se expressam posições, várias vezes manifestei a minha discordância sobre determinadas decisões na Comissão Executiva. Posso estar enganado, mas penso que isto é transparência. O mundo não é preto ou branco. O maniqueísmo ou o pensamento binário não é algo com que me identifique. Não há ninguém que esteja sempre certo, nem ninguém que esteja sempre errado. Como tal, apoiei medidas por concordar com as razões das mesmas e critiquei outras com base no mesmo pressuposto. Estranhei a procura de unanimismos e estranho que uma opinião diferente possa ser entendida como oposição ou “traição”. Felizmente, não fui o único a discordar em várias situações.

Com a demissão do João Cotrim de Figueiredo, a IL vai entrar numa nova fase. Fui conselheiro nacional na vigência do Miguel e vogal nas Comissões Executivas do Carlos e do João. Se o João se recandidatasse não aceitaria fazer parte da sua equipa e não farei parte da equipa do Rui. Em termos pessoais não tenho nada contra nenhum dos candidatos. Ambos são pessoas decentes. A continuidade ideológica está garantida. Mas isso, por si só, é insuficiente. É preciso algo mais. É essencial fortalecer o carácter reformista da IL e aproveitar a energia individual de todos os membros e simpatizantes para fazer crescer o liberalismo.

Já expressei o meu apoio à Carla Castro. Reitero-o aqui. A Carla já provou o seu valor. A sua gestão do Gabinete de Estudos foi irrepreensível. Foi instrumental na elaboração dos programas eleitorais. Como assessora foi imprescindível para as boas prestações do João. A sua competência na Comissão Parlamentar de Orçamento e Finanças é inegável. A sua capacidade de trabalho é inquestionável. A sua educação e moderação é notável. A sua empatia é uma certeza. A sua liderança é inspiradora. E a sua firmeza vai surpreender quem não a conhece.

A Carla não se serve das pessoas. Pelo contrário. Serve as pessoas e motiva-as. Não tenho a menor dúvida de que a Carla Castro é quem melhor representa uma nova forma de estar na política.

Membro Comissão Executiva demissionária da Iniciativa Liberal