Não vale a pena escondê-lo. A Convenção da Iniciativa Liberal (IL) revelou um partido profundamente dividido e até extremado que secundarizou as ideias aos ataques pessoais. Basta recordar os votos de quem foi reeleito para a gestão do partido relativamente à reafirmação de princípios e do liberalismo. Não o fizeram por não concordarem com a ideia, mas antes pela autoria da mesma. É, pois, inegável que a discordância de ideias resvalou para o campo pessoal ao ponto de haver desrespeito e desconsideração ao nível individual e, pior, à promoção do cancelamento de pessoas. Lamento, mas num partido liberal este tipo de comportamento preocupa-me e, mais ainda, choca-me quando é praticado pelos principais dirigentes do partido.

Jamais questionei os resultados de eleições ou as consequências das mesmas. Por consequências refiro-me, por exemplo, à formação da geringonça. Não gostei, mas António Costa formou Governo legalmente e até legitimamente. Quando os detentores da democracia se manifestam, essa manifestação deve ser sempre respeitada. Por isso, nada a dizer sobre a decisão dos membros da IL para além de a respeitar. Rui Rocha ganhou e, como tal, o rumo para o partido foi escolhido. Dou os parabéns ao Rui e só desejo que tenha sucesso no cumprimento dos objectivos que expressou.

Porém, é importante salientar que a sua vitória não foi triunfante. Antes pelo contrário. Foi uma vitória de alívio. No sábado à noite, depois do discurso da Carla Castro, os que criticaram negativamente a disputa do poder como se a manutenção deste fosse mais aceitável e desejável tremeram estruturalmente. O esmorecer do comportamento de claque revelou o ânimo dos incumbentes e da máquina do partido, tendo a incerteza perdurado até ao anúncio dos resultados, festejados euforicamente.

Uma coisa é certa. Sem o apoio do João Cotrim de Figueiredo, o Rui teria perdido. E até nisto a diferença de votos foi curiosa. O João é incomparavelmente mais popular do que o Rui, razão pela qual não acredito que o Rui consiga manter os 9.5% de intenção de voto que a sondagem da Aximage indicou. Seja como for, cabe agora ao Rui Rocha decidir o futuro do partido. Tendo os resultados demonstrado uma divisão interna, seria desejável que se trabalhasse para a união do partido. Contudo, a persistência na afirmação e reafirmação da obtenção da maioria absoluta interna levanta algumas questões. Não pelo facto em si, mas pela mensagem implícita na mesma. Veremos o que os dias nos trarão.

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Quanto ao meu futuro, apesar de ser a primeira vez que não faço parte dos órgãos sociais da IL, continuo a ser liberal. Já o era antes da IL e continuarei a sê-lo. Desejo profundamente que Portugal seja um país mais liberal e, dentro da minha escala e do meu alcance, empenhar-me-ei para esse fim. Como tal, da minha parte, não haverá oposição interna. Ter um país mais liberal é mais importante.

No entanto, não deixarei de defender o que sempre defendi, incluindo como comissário executivo na equipa do Cotrim de Figueiredo. Um modelo de gestão mais descentralizado e mais, muito mais, transparência quanto às decisões tomadas, incluindo sobre as verbas gastas pelo partido – principalmente em vencimentos e contratos de prestação de serviços. Se isso é ser “oposição”, paciência. Estou farto das inconsistências que só nos prejudicam. Não é possível exigir para fora o que estamos indisponíveis para fazer internamente.

Por fim, três referências:

Primeiro, estranhei que houvesse quem pensasse que eu alguma vez aprovaria desrespeito às regras da Convenção. Não tive qualquer problema em concordar com a decisão tomada pela mesa, dirigida pela Mariana Leitão, em quem anunciei previamente que não votaria. A integridade também é sustentada pela coerência entre o que pensamos e fazemos, especialmente sem a preocupação de agradar a ninguém.

Segundo, uma palavra a todos aqueles que foram agradecendo as minhas intervenções, quer pessoalmente, quer através de mensagens, pelo empenho posto na causa liberal. Durante o fim de semana de 21 e 22 de janeiro último, confirmei o que já tinha sentido na Convenção do ano passado. Os membros da IL respeitam as minhas ideias. Podem ter a certeza de que continuarei a expressá-las.

Terceiro, sou fundador da Iniciativa Liberal e tive a honra de exercer vários cargos e funções no partido. Entre outros, fui Conselheiro Nacional, Comissário Executivo, coordenei o programa eleitoral de 2019, director de campanha da candidatura presidencial do Mayan, coordenador autárquico e assessor parlamentar. A 26 de Janeiro deixei de colaborar com o gabinete parlamentar. Não posso deixar de agradecer todas estas oportunidades, assim como as pessoas que tive o prazer de conhecer.

Bem hajam!

Dito isto, independentemente dos cargos e das funções, independentemente das minhas ideias e propostas agradarem ou não a quem decide, serei uma voz em prol dum Portugal mais Liberal.

Vicente Ferreira da Silva. fundador da Iniciativa Liberal