A candidatura de Donald Trump é uma vergonha para o Partido Republicano, como de resto reconhecem muitos dos seus dirigentes, e indigna para a democracia americana. Não me recordo de um candidato tão perigoso para a segurança do seu país, e do mundo ocidental, e tão afastado dos valores americanos. Trump é ordinário e rasca com comentários inaceitáveis para uma figura pública. O pedido para expulsar uma mulher com um bebé de um comício é simplesmente inaceitável. Os comentários sobre uma família muçulmana violam qualquer conceito de decência pública. O filho desse casal, e soldado americano morto no Afeganistão, fez mais pela segurança dos EUA do que alguma vez fará Trump.
Mas o momento mais baixo da campanha de Trump – como se ainda fosse possível — foi o pedido a Putin para “libertar os emails de Hilary Clinton.” Verdadeiramente extraordinário. Um candidato à Casa Branca pediu a um rival geopolítico para espiar outro candidato presidencial. Se as ofensas a mães republicanas e a famílias muçulmanas revelam falta de educação e ordinarice, os apelos a Putin podem ter sido fatais para as ambições de Trump. Espero que o eleitorado norte-americano ainda pense e vote como cidadãos da maior potência mundial. Trump não reúne as condições para ocupar a Casa Branca.
Esta estranha proximidade a Putin acontece num momento muito difícil para a segurança europeia. Após a invasão da Ucrânia, os russos continuam a provocar os seus vizinhos Bálticos, assim com a Finlândia, países membros da Aliança Atlântica e da União Europeia. Ora, apesar da ameaça russa, Trump já afirmou que não se sente vinculado pelo artigo 5 da Aliança Atlântica. Ou seja, os Estado Unidos com um Presidente Trump não garantem a defesa dos países bálticos e, presume-se, da Polónia. Putin tem o caminho aberto para atacar um dos vizinhos bálticos. Se os americanos nada fizessem, como sugere Trump, seria o fim da NATO. E ninguém consegue imaginar como reagiriam os mercados internacionais a uma agressão militar a um país da zona Euro. A irresponsabilidade política de Trump é ilimitada.
Mas Trump conseguiu ir mais longe e já afirmou a sua oposição à União Europeia. Seria o primeiro Presidente norte americano contra a integração europeia desde o Tratado de Roma. Tudo o que a União Europeia despensa nesta altura. A posição de Trump seria ainda mais grave no contexto das negociações entre o Reino Unido e a União Europeia para concretizar o “Brexit”. As negociações vão conhecer momentos muito complicados e os EUA poderão desempenhar um papel positivo e construtivo. Um bom acordo entre Bruxelas e Londres pode ter que passar por Washington. Hilary Clinton seria certamente uma ajuda. Trump tornaria tudo mais difícil.
Escrevi há uns meses que Trump poderia ganhar as eleições americanas. Hilary Clinton fez uma campanha fraca nas primárias democratas. Sem garra, sem capacidade de mobilização e com um discurso monótono. Trump estava cheio de energia e com uma grande vontade de ganhar. As últimas semanas correram muito mal a Trump. O partido republicano está dividido e assim continuará até às eleições. Os democratas colocaram a sua máquina eleitoral em funcionamento e aproveitaram bem as semanas desastrosas de Trump, especialmente na questão da segurança externa.
Continuo a achar que Clinton não é uma candidata forte – se for eleita, talvez seja melhor Presidente do que candidata. Também acho preocupante que os republicanos e os democratas não consigam nomear outros candidatos (o que mostra que a democracia americana atravessa uma crise séria), mas neste momento tudo isso é secundário. A eleição de Trump seria uma tragédia política. Uma razão muito forte para desejar a vitória de Hilary Clinton.