A descoberta das vacinas constituiu um dos marcos mais importantes do progresso da Medicina. Ao longo da História, diversas patologias foram controladas mediante a aplicação de vacinas: sarampo, rubéola, pneumonia, hepatite A, hepatite B, poliomielite, gripe, etc.. Foi, também, graças à respectiva vacina, que, há 40 anos, a Organização Mundial de Saúde declarou a erradicação da varíola em todo o mundo.

O tema “vacina” está intimamente relacionado com o que em Fisiologia se designa por “mecanismos de defesa”.

O Homem, quando sujeito a uma invasão externa – e após reconhecimento do que lhe é estranho –, responde com a produção de anticorpos pelo seu sistema imunitário, como mecanismo de defesa.

Estranho, o antigénio é, portanto, qualquer substância que determinado organismo não reconhece como própria e que leva a que ele produza anticorpos. Bactérias e vírus são antigénios.

A resposta do sistema imunitário caracteriza-se por ser eficaz e de alta especificidade. Sabemos que uma segunda resposta imunológica, na sequência de uma segunda exposição a um antigénio, comparativamente com a primeira, demora muito menos tempo e é de nível superior. Assim, a concentração de anticorpos numa segunda exposição a um mesmo antigénio é bastante mais rápida e intensa.

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É nesta dinâmica de produção de anticorpos, aqui explicada sucintamente e em termos muito simples, que se baseia o que pretendemos com a administração de uma vacina: preparar o organismo, mediante uma primeira exposição a um antigénio, para − perante a possibilidade de uma infecção futura − uma resposta imunológica adequada combater com rapidez e eficácia a patologia em causa.

O processo de desenvolvimento de uma vacina, além de moroso, reveste-se de grande complexidade.

Facilmente se depreende, pelo exposto, a importância que tem para a Humanidade uma vacina que reúna todas as características necessárias para ajudar a controlar a Covid-19. Ajudar? Sim, ajudar. A vacina será um contributo, será parte da solução. Uma solução, que, por enquanto, passa também por manter distanciamento entre pessoas, lavagem frequente das mãos e uso de máscaras.

Do mesmo modo, podemos imaginar quão trágicas poderiam ser as consequências da administração de uma vacina de qualidade duvidosa. Sem alarmismos. Não podemos, todavia, deixar de ser realistas.

Muito recentemente, assistimos a alguns episódios de inesperada demagogia, com origem em certos políticos, a respeito da prioridade da administração da vacina nos mais idosos. Como se fosse plausível que a comunidade científica não tivesse o dever de ser invariavelmente sensível à questão de proteger os mais vulneráveis, nomeadamente do vírus SARS-CoV-2… Na verdade, nenhuma outra razão, para além da falta de informação suficientemente robusta que garantisse a sua segurança, poderia desaconselhar a vacina em determinados grupos. Fossem eles relacionados com a idade, a religião ou certos estados clínicos… A especial solicitude e cuidado para com o idoso, o menor, o deficiente, ou pessoa particularmente indefesa é, de resto, uma questão de Deontologia Médica.

Os métodos de análise que levam à aprovação de uma vacina variam conforme as entidades reguladoras, nomeadamente a Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, e a Agência Europeia de Medicamentos (EMA), na Europa, não obstante a segurança, a qualidade e a eficácia serem a esse título requisitos fundamentais e questões absolutamente transversais, incontornáveis e cruciais em todos os reguladores. Daí, que o tempo necessário para a emissão dos respectivos pareceres possa variar, de acordo com cada entidade emissora.

Esta pandemia está a ter uma repercussão terrível nas pessoas. As consequências sanitárias, económicas, sociais e nas finanças públicas são devastadoras, é um facto. Os interesses económicos e políticos não deixaram de existir; há muita pressão, demasiada pressão. Porém, cumpre-nos estar vigilantes e manter a esperança. Aristóteles disse: “A esperança é o sonho do homem acordado.” Com efeito, manter a esperança é essencial. Vamos manter a esperança e confiar no trabalho, seguramente imparcial e competente, das entidades reguladoras.