Este inverno, enquanto procurávamos destino para um muito desejado retiro de Inverno em família, decidimos experimentar uma solução que há muito me intrigava.
Já tínhamos ouvido falar deste tipo de plataformas e, nas pesquisas feitas, a www.guest2guest.com pareceu-nos a mais fiável. Entrámos e começámos a procurar alojamento nos Pirenéus.
Depois de várias tentativas encontrámos um sítio que reunia as condições que procurávamos: perto de Barcelona, por motivos familiares, de estações de ski, por motivos lúdicos, e com pouca densidade habitacional, para aproveitar o ar de montanha e os passeios em família.
O funcionamento é em (quase) tudo semelhante ao AirBnB. Encontramos uma opção que nos agrada, lemos sobre os proprietários e enviamos a primeira mensagem. Depois de saber mais sobre o apartamento em vista, fizemos o pedido de reserva, recebemos a confirmação e combinámos a entrega da chave. Uma pequena diferença: não se fala de dinheiro nem de pagamentos.
Quem usa este tipo de plataformas não pretende ganhar dinheiro a alugar o seu apartamento, quarto extra ou segunda casa, tal como não pretende encontrar na plataforma alojamento mais barato que o dos hotéis e outras alternativas. Pelo contrário, dá um pouco daquilo que tem e recebe um pouco do que têm os outros em troca.
Quem põe a sua casa à disposição, sem períodos de disponibilidade obrigatória, e tem centenas de outras casas que pode utilizar. Pensando bem são centenas de tipologias de casas e destinos que passam a estar ao nosso alcance, com o “custo” único de partilhar um pouco do que é nosso.
Plataformas como a UBER, o AirBnb ou todas aquelas a que normalmente nos referimos como “sharing economy” ou economia da partilha, vieram de facto abalar os mercados em que se inserem e trazer possibilidades adicionais de remuneração a proprietários e investidores, bem como alojamento barato ou deslocações cómodas aos utilizadores.
Mas diferem de plataformas como esta num fator fundamental: a confiança. Enquanto nestes exemplos o utilizador continua a comprar um serviço, no caso do intercâmbio de casas é apenas uma troca, uma partilha. O que rege o nível do “serviço” é o princípio básico de não fazer na casa de terceiros o que não faríamos em nossa casa. É um princípio bastante simples e universal, que deveria ser aplicado em todas as circunstâncias, mas quantas pessoas não se comportam assim?
Acabámos as férias com vontade de repetir a experiência mas, bem mais importante, com a convicção reforçada de que ainda é possível a partilha e a confiança entre pessoas que não se conhecem.
Se pensarmos na quantidade de recursos não-utilizados (ou pelo menos com largos períodos de não-utilização), entre casas vazias, carros parados, ou até vestidos guardados nos armários, o crescimento deste tipo de soluções vai evitar muito desperdício e dará acesso e oportunidade (de diversificar as férias, usar roupas diferentes ou conduzir carros distintos) a muitas mais pessoas. São como livros lidos nas estantes à espera de serem trocados.
Este Inverno tivemos uma casa de férias ao custo de um “muito obrigado” e duas garrafas de vinho (português claro!). Também já confirmámos a disponibilidade do nosso apartamento no verão para um casal francês.
Esta experiência obrigou-me a distinguir aquilo a que nos referimos como economia da partilha da verdadeira partilha: o que vivemos é partilha, o resto também é completamente legítimo, mas não é partilha, é rentabilização.
Fundador da GoParity.com