A nossa filha mais velha, que vai votar pela primeira vez, mostra-se indecisa acerca do seu sentido de voto. Queixa-se de que todos lhe parecem choninhas e os menos choninhas parecem ser os candidatos mais ideologicamente afastados. Aproveito a descrição que faz do seu dilema para lhe dizer que é precisamente nessa dúvida que uma pessoa como eu encontra a sua certeza.
Do que já li acerca de política, encontro mais hesitações do que seguranças. E, se entendi bem o que ao longo dos anos tenho lido, também é isso que pode fazer de mim um conservador. A palavra “conservador” é por si mesma alvo de debates acesos. Tenho encontrado alguma paz numa definição tão pessoal quanto provisória: conservador é quem encontra paz em votar em choninhas.
Quem não vota em choninhas encontra-se emocional e intelectualmente empenhado na pessoa em quem vai votar. A pessoa que não vota em choninhas sente-se reflectida no candidato em quem vota também e flagrantemente porque ele não é choninhas—de certo modo, o votante em não-choninhas vota em si mesmo de cada vez que vota. Um conservador, como penso ser, tenta viver bem com o facto de votar em quem não o inspira.
Compete a quem não vota em choninhas ter sonhos políticos; compete ao conservador prescindir deles. Isto não significa que um conservador abdica de olhar para a política como a busca da justiça. Simplesmente um votante em choninhas desconfia da qualquer busca da justiça que dependa de o candidato inspirar o eleitor. Afinal, o votante em choninhas deverá reconhecer que, ao sermos inspirados por tantas coisas desinspiradas, é melhor ter cuidado.
Candidatos inspiradores inspiram sistemas políticos passionais. Existem paixões políticas em todos os lados, da esquerda à direita, e um votante em choninhas desconfia dessa temperatura emocional. Afinal, haverá coisa mais triste do que a política chegar-nos ao coração? Com tanta coisa boa que nos pode chegar ao coração, vamos entregá-lo a ser preenchido por políticos?
Daí haver alguma prudência em votar em choninhas. O choninhas que merecer o nosso voto está mais impedido, por força de ser choninhas, em fazer estragos desnecessários no nosso coração. Alguém que, como eu, é votante em choninhas não precisa de se envergonhar na hesitação que sente com ideologias. É a falta de paixão ideológica que nos pode conduzir à liberdade política imensa que é votar em choninhas.