“Por amor de Deus, eles são uns porreiros, uma fonte de inspiração e exemplos a seguir”, dizem alguns catraios que vêem os youtubers como deuses e modelos a seguir, quando eu, no meu tempo (referir “… no meu tempo” desperta em mim o crasso peso da idade), idolatrava gajos como João Vieira Pinto, Paulo Futre, Kurt Cobain, Pamela Anderson ou Vegeta, agora reencarnado mais ou menos no Nuno Graciano. De qualquer das formas, há quem os ache também “meigos, queridos e fofos”, inocentando-os de todas e quaisquer trafulhices em que possam estar mergulhados. Porquê? “Porque sim. Eles são brutais e não iam enganar a malta. Eu só perdi 500 euros porque, olha…, porque, huuummm…, olha, não sei…! Tive azar! Só isso”. Talvez seja só isso mesmo, sim.
Pelo que se escuta aqui e além, há uma série de bacanos que ministram cursos de criptomoedas e de apostas. Gente com uma vida vingada e provada, que leva milhares de putos – entre outros com idade para facultarem o juízo à razão – a depositarem esperanças de amealharem euros fáceis nestes indivíduos, que sustentam a vida nabada que têm através de vídeos interessantes, tais como “concurso de piadas secas”, “ficámos presos numa tempestade tropical”, “comi comida de cão”, “eu e a minha namorada a jantar no Dubai, a andar de carro no Dubai, num sinal vermelho no Dubai, às voltas de um iate de gajo de meia-idade no Dubai” e, a melhor, “explodi a maior bomba de fumo em casa”, uma ideia que me suscita particularmente bastante interesse, com muito potencial para quebrar definitivamente os poucos laços que ainda me ligam à minha mãe.
Acontece que, pelos vistos, os malandrecos não têm habilitações para ministrar curso algum. É provável, até, que meia-dose de bacalhau à moda de Fafe tenha mais crédito para falar de criptomoedas e apostas desportivas. Também, até ver, ganharam muito dinheiro à custa destas brincadeiras, o que os leva a jantar lagosta com açafrão duas ou três vezes por semana e a comprarem carros daqueles à “Fast and Furious” todos os meses, para depois os exibirem pomposamente às mentes mais vulneráveis que continuam a idolatrar esta gente. Ah, é verdade, parece que existe muito carcanhol não declarado. Muito mesmo. Mas pouco importa para quem passa a ideia de que, por lá por casa, se vive num conto de fadas, no Olimpo de uma inteligência parca que carece de regularização por quem manda nisto tudo sobressai o luxo paupérrimo, ilustrado por mentiras e fantochadas. Pior: há quem deposite todas as esperanças num futuro melhor na vida pseuso-vivida destes fulanos. É mundo artificial, onde se contempla o brilho do sol e da lua onde ele não existe, como aquela atriz que por aí anda que confunde um poste de iluminação de um estádio com o satélite do nosso planeta. Adiante, “os estupores estão bem uns para os outros”, afirma a minha avó enquanto ministra um pudim de ovos.