Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e autor do clássico da literatura brasileira “Viva o Povo Brasileiro”, João Ubaldo Ribeiro não resistiu a uma embolia pulmonar. A assessoria de imprensa da ABL confirmou ao jornal “Folha de S. Paulo” que Ubaldo Ribeiro, 73 anos, morreu na madrugada (no Brasil) desta sexta-feira, 18 de julho, na sua casa no Leblon, Sul do Rio de Janeiro. O escritor foi distinguido em 2008 com o Prémio Camões.

Nascido a 23 de janeiro de 1941 na Ilha de Itaparica (estado da Bahia), no Brasil, João Ubaldo Ribeiro licenciou-se em Direito na Universidade Federal da Bahia, em 1962 — a mesma que, como revelaria em 2005, em autobiografia escrita para o Jornal das Letras, formou os seus pais. Nunca, porém, chegou a exercer Direito. “Por ter terror a cartórios, escrivães, procuradores, juízes e assemelhados”, admitiu.

Na mesma instituição, na Bahia, tirou uma pós-graduação em Administração Pública, antes de se tornar mestre, na mesma área, pela Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA. A escrita, contudo, sempre foi a sua arte. “Virei escritor porque não sei fazer outra coisa. Eu já escrevia desde que aprendi a ler”, chegou a confessar.

Em 1968, o primeiro livro publicado: “Setembro não tem sentido”. Escreve-o aos 21 anos, originalmente com o título “A Semana da Pátria”, que a editora alterou contra a sua vontade, segundo a biografia disponível no site da Academia Brasileira de Letras (ABL).

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Em 1971, eis a segunda obra, intitulada “Sargento Getúlio”, uma das mais célebres que, no ano seguinte, lhe dá o Prémio Jabuti de “Melhor Autor”, atribuído pela Câmara Brasileira do Livro. O livro foi aclamado pela crítica. “A história é temperada com a cultura e os costumes do Nordeste brasileiro”, recordou a ABL, ao classificar a obra como um “marco do moderno romance brasileiro” — repleta de “regionalismos” que, aliás, obrigaram a que fosse o próprio Ubaldo Ribeiro a traduzir a obra para a língua inglesa.

Em 1974 surge o conto “Vencecavalo e o outro Povo”, de novo com um título distinto ao que o autor criara (“A Guerra dos Paranaguás”). Depois, João Ubaldo Ferreira vê “Vila Real” ser publicada, em 1979.

Dois anos passam e o escritor chega a Lisboa. Na capital portuguesa fica durante um ano (1981), fruto de uma bolsa concedida pela Fundação Calouste Gulbenkian — o pai de João Ubaldo Ribeiro, um juiz, era filho de um português. Em 1984, já de volta ao Brasil, publica “Viva o Povo Brasileiro”, a sua obra mais conceituada e que, pela segunda vez, o faz vencer o Prémio Jabuti, desta feita na categoria de “Melhor Romance”.

Publicaria mais seis romances: “O Sorriso do Lagarto”, em 1989, “O Feitiço da Ilha do Pavão”, em 1997, “A Casa dos Budas Ditosos”, em 1999, “Miséria e Grandeza do amor de Benedita”, em 2000, “Diário do Farol”, em 2000, e, por último, “O Albatroz Azul”, em 2009. No total, a sua obra seria traduzida para 12 línguas, de acordo com a ABL.

O JORNALISMO POR EMPURRÃO DO PAI

Foi aos 16 anos, ainda adolescente, que João Ubaldo Ribeiro arrancou a carreira de jornalista. “Meu pai, sem me consultar, me pôs na redação de um jornal”, lembrou, quando se referiu às experiências no Jornal da Bahia, primeira, e no Tribuna da Bahia, entre os quais se dividiu como “repórter, redator e diretor de redação”.

Com a obra literária, veio o resto. Entre 1990 e 1991, viveu em Berlim, a convite do Instituto de Intercâmbio Alemão (DAAD – Deutscher Akademischer Austauschdienst), e chegou a ser colunista do Diet Zeit e do Frankfurter Rundschau. Em 1999, foi um dos escritores escolhidos pelo francês Libération para escrever um depoimento sobre o Terceiro Milénio. Colaborou também com o The Times Litterary Suplement, de Inglaterra, com os portugueses O Jornal e o Jornal de Letras e, no Brasil, com o Folha de São Paulo, o Estadão, A Tarde e, por exemplo, o Globo — para o qual ainda escrevia.

O jornal, aliás, publicou esta sexta-feira a coluna que, inicialmente, estava agendada para sair a 20 de julho. Nela, e sob o título “O correto uso do papel higiénico”, João Ubaldo Ribeiro disserta sobre temas como a privacidade e o direito à liberdade de escolha, com guloseimas, palmadas, sexo e papel higiénico à mistura. Ao longo da vida, Ubaldo Ribeiro viveu em Sergige e na Bahia (Brasil), em Iowa City e Los Angeses (EUA), em Lisboa e em Berlim.

Em 1993 passou a integrar a Academia Brasileira de Letras e, em 2008, venceu o Prémio Camões, a maior distinção literária da língua portuguesa. “Sempre fui o retardado da turma, o mais abestalhado, o último a publicar e o que não arranja mulher”, revelou, na autobiografia que publicou no Jornal das Letras. Vivia atualmente no Rio de Janeiro, na zona do Leblon, com a segunda mulher, com quem teve dois filhos, Bento e Francisco. Do primeiro casamento teve outras duas filhas, Emília e Manuela.