Marshall Wace LLP, TT International e Altair Investment Management são algumas das sociedades gestoras de fundos que, de acordo com o Wall Street Journal (WSJ), terão realizado “dezenas de milhões” de euros em mais valias depois de terem apostado na queda das ações do Banco Espírito Santo (BES) durante os meses mais recentes.
Geridos por aquelas entidades, os hedge funds, que apostam em investimentos de risco com o objetivo de obterem rendibilidades elevadas, pediram emprestadas ações do banco em colapso para as venderem em bolsa, recomprando-as depois de a cotação cair e conseguindo, desta forma, realizar ganhos em operações que são conhecidas como short selling ou vendas a descoberto.
O jornal norte-americano revela que o Marshall Wace, fundado pelos investidores Paul Marshall e Ian Wace e que dispõe de uma carteira avaliada em 18 mil milhões de dólares [13 mil milhões de euros], terá conseguido realizar lucros de 27 milhões de euros. O fundo vendeu as ações pedidas de empréstimo a 15 de maio passado, quando o preço de mercado estava em 99 cêntimos, e comprou-as a 12 cêntimos, cotação a que os títulos estavam a ser transacionados na sexta-feira passada, dia em que a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) optou por suspender o BES da cotação na Euronext Lisbon.
No caso do TT International, a aposta na queda das ações do BES terá começado mais cedo, em julho de 2013, e terá sido reforçada em junho de 2014, segundo os documentos a que a publicação norte-americana teve acesso. Cálculos do WSJ indicam que os ganhos obtidos estarão próximos de 15 milhões de euros. Quanto ao Altair Investment Management, assumiu “posições curtas” no capital do BES depois de a CMVM ter levantado a proibição de short selling sobre as ações do banco e terá arrecadado 11 milhões de euros.
A deterioração da situação do BES funcionou como um poderoso isco para os hedge funds e operadores do mercado que recorrem às vendas a descoberto, mas a sua atuação terá sido limitada pela quantidade de ações disponíveis para transação em bolsa. O WSJ cita números da Markit para afirmar que a quantidade de ações do BES que foram emprestadas a short sellers representavam mais de 60% do número de títulos disponíveis para empréstimo na segunda-feira passada, quando este peso era de apenas 22,7% três semanas antes. Mas a quantidade total de ações susceptíveis de serem cedidas para vendas a descoberto representariam somente 7,3% do capital social da instituição financeira.
Durante o período de turbulência em bolsa que culminou com a decisão do Banco de Portugal, anunciada a 3 de agosto, de cindir o BES em duas instituições financeiras, com a separação dos ativos maus daqueles considerados de boa qualidade, a CMVM decidiu, em várias ocasiões, impedir a realização de operações de short selling, perante a queda acentuada nas cotações. A mais recente foi comunicada a 31 de julho, quinta-feira que antecedeu o fim de semana em que as autoridades portuguesas e europeias decidiram intervir no BES.
Entre os investidores que estão em risco de ver as suas aplicações no BES reduzidas a zero, o WSJ identifica as sociedades gestoras de ativos Silchester International Investors, detentora de 4,7% do capital do banco, e a BlackRock, proprietária de 4,65%, de acordo com dados relativos a julho, posteriores à concretização do aumento de capital em que a instituição ainda liderada por Ricardo Salgado recolheu mais de mil milhões de euros.