Membros dos órgãos de administração e de fiscalização e quadros superiores do Banco Espírito Santo (BES) venderam ações da instituição financeira, nos 12 meses que antecederam a divulgação do prospeto do aumento de capital realizado em junho de 2014, e conseguiram um encaixe total superior a 1,9 milhões de euros. A informação sobre estas operações está incluída na página 84 daquele documento, datado de 20 de maio de 2014, em que se acrescenta que, durante o período considerado, nenhum daqueles altos quadros do banco procedeu a “quaisquer aquisições de ações do BES”.
Rui Pires Guerra, membro da administração do Banco Espírito Santo Angola (BESA), foi o mais ativo na alienação de posições. Entre 24 de março e 10 de abril de 2014, o gestor vendeu dois lotes de ações, de 250 mil e 189,1 mil títulos, respetivamente, o que proporcionou um encaixe de 588,4 mil euros, já que o preço de venda em ambas as situações foi de 1,34 euros por ação.
Aníbal Reis de Oliveira, presidente do conselho de administração do banco, também optou por alienar posições no capital do BES. Concretizou duas operações durante o período assinalado no prospeto, no início de outubro de 2013 e em 6 de janeiro do ano seguinte e obteve um ganho bruto de 319 mil euros. Pedro Mosqueira do Amaral, elemento da administração da instituição financeira que chegou a ser dado como possível sucessor de consenso à liderança de Ricardo Salgado, fez três operações de venda de ações. A 8 de janeiro de 2014, a 17 de fevereiro e no dia que se seguiu, fez um encaixe de 187 mil euros ao alienar 142,5 mil títulos a cotações que se situaram entre 1,23 e 1,4 euros por título.
António Rodrigues Marques, gestor da Tranquilidade, e Jorge Carvalho Martins, membro do conselho de administração do BES e da comissão executiva do banco, integram, igualmente, a lista de altos quadros do Grupo Espírito Santo (GES) que deram ordens de venda de ações. No primeiro caso, o valor obtido foi superior a 157 mil euros, enquanto no segundo as duas operações de venda efetuadas, a mais recente das quais em 18 de fevereiro de 2014, renderam 116,5 mil euros.
As vendas concretizadas, que podem ser consultadas no prospeto do aumento de capital que foi completado em junho deste ano e que rendeu 1.045 milhões de euros ao BES menos de dois meses antes de este ser alvo da intervenção do Banco de Portugal, totalizam 19 operações, 15 das quais foram consumadas em 2014. Entre os nomes de altos quadros que se desfizeram de posições incluem-se outros nomes como o de Horácio Afonso, membro do conselho de administração e presidente da comissão de auditoria do BES, e João Freixa, gestor executivo.
A informação estampada no prospeto revela que todas as operações de venda foram realizadas a preços superiores àquele que foi praticado no aumento de capital que antecedeu a cisão que transformou o BES num “banco mau” e deu origem ao Novo Banco. Na oferta pública de subscrição, o preço praticado por ação foi fixado em 65 cêntimos. As vendas concretizadas pelos membros dos órgãos de administração e de fiscalização e quadros superiores do BES envolveram preços situados entre 81 cêntimos e 1,4 euros.
Se os quadros do banco tivessem vendido as ações pelo valor que foi pedido aos acionistas que agora correm o risco de verem os investimentos reduzidos a zero, o encaixe total teria sido inferior em 873,4 mil euros. No total, os 12 protagonistas das operações em causa teriam realizado cerca de um milhão de euros.