Há inúmeros aspetos da fisiologia humana que ainda estão por compreender e muitos estão relacionados com o funcionamento do cérebro. Os casos que sintetizamos de seguida são registos científicos que confundem, fascinam os especialistas e representam pistas para a investigação e compreensão do mais misterioso dos órgãos.
Uma mulher de 24 anos deslocou-se a um hospital na província de Shandong, na China, com queixas de náuseas e tonturas. Uma TAC (Tomografia Axial Computadorizada) revelou rapidamente o mistério: a mulher não tinha cerebelo. É um dos nove casos registados na literatura científica de pessoas que sobrevivem sem esta estrutura cerebral. Não só sobrevive como vive relativamente bem; a paciente relatou dificuldades de aprendizagem e locomoção na infância, mas apesar disso vive uma vida relativamente normal. O cerebelo é uma estrutura que se encontra na base do cérebro e que possui uma grande concentração de neurónios e é responsável pelo controlo do equilíbrio, pela motricidade e pelos movimentos musculares involuntários (p.ex. a respiração). Os neurologistas pensam que o córtex cerebral conseguiu compensar a ausência do cerebelo.
Outro mecanismo de compensação ainda por explicar foi o descoberto a um paciente de 88 anos que apresentava descoordenação motora moderada na mão esquerda. Os exames funcionais e de coeficiente de inteligência revelaram-se normais mas os testes neurológicos demonstraram outra descoberta rara: este homem idoso viveu toda a vida sem corpo caloso, uma estrutura que se encontra na base do cérebro e que é responsável pela comunicação entre os dois hemisférios. A ausência desta estrutura é designada por agenesia do corpo caloso, é uma anomalia congénita geralmente parcial (verifica-se um a três casos por cada mil nascimentos) e só raramente é total e, ainda mais raro, a sua ausência ser completamente assintomática, como neste caso.
A capacidade adaptativo do cérebro revela-se em exemplos ainda mais radicais: um rapaz italiano a quem foi removida a totalidade do hemisfério esquerdo aos dois anos de idade, revelou com 17 anos ter recuperado a quase totalidade da competência da fala. Se o leitor é dos que ainda acredita que usamos apenas 10% do cérebro, encontra nestes casos exemplos da capacidade de adaptação extraordinária do órgão mais complexo (e misterioso) do corpo humano.