No dia 3 de dezembro de 2013 o Banco de Portugal (BdP) enviou uma carta a Ricardo Salgado onde alertava o então presidente da comissão executiva do BES para os riscos de insolvência da Espírito Santo Internacional (ESI) e dava ao grupo um prazo para isolar o BES de todos os riscos emergentes das entidades não financeiras, escreve esta quinta-feira o jornal i.

Segundo o mesmo jornal, o BdP pediu ao BES para criar até 31 de dezembro uma conta bancária com cerca de 1700 milhões de euros, um montante equivalente à dívida emitida pela ESI junto de clientes do BES. Ricardo Salgado, que no mesmo dia da receção da carta tinha estado numa reunião na sede do supervisor bancário, ligou ao vice-governador desta instituição, Pedro Duarte Neves, e disse-lhe: “Esta carta é inexequível, inexequível”, conta o i. O antigo presidente do BES apresentou alternativas e vinte dias depois o Banco de Portugal começou a ceder, com um novo plano mais próximo do que o GES tinha proposto.

Logo no dia 17 de dezembro surgiram os primeiros sinais da disponibilidade do BdP para abrandar as exigências impostas: a linha de crédito que devia ser de 1.700 milhões de euros passou a ser de 750 milhões. A data de criação dessa conta foi estendida até janeiro. “Eles tinham pedido que levantássemos uma linha de crédito até ao fim do ano do (total do) montante da dívida. Isso ficou reduzido a levantar os 750 milhões com a garantia das nossas ações da área financeira, da ESFG, e esse crédito tem de estar lá durante o mês de janeiro. Vamos ter de nos envolver com alguns bancos internacionais”, disse Ricardo Salgado ao Conselho Superior do GES, de acordo com o i. Mas o Banco de Portugal negou ao jornal “qualquer redução no grau de exigências”.

Como escreve o jornal i, durante o primeiro semestre de 2014 o Banco de Portugal ainda afirmava que a situação do BES era “sólida”, não existindo risco sistémico. Isto apesar de, continua o diário, o supervisor já ter conhecimento do estado das contas da Espírito Santo Internacional desde o final de setembro de 2013, altura em que o resultado da análise das contas do GES revelou que a ESI tinha uma dívida de 1,3 mil milhões de euros que nunca havia sido registada nas contas da holding.

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No início de dezembro, Salgado e três representantes do grupo deslocaram-se à sede do BdP e entregaram uma carta onde reconheciam estar “muito conscientes da preocupação já expressa pelo BdP quanto à situação económica e financeira do GES”, pedindo mais tempo para pôr em prática um plano de ação, escreve o i. Nesse dia, Salgado esteve reunido com o governador Carlos Costa e terá saído “satisfeito”, segundo o jornal. Até receber a carta, três horas mais tarde.

Dois dias depois, a 5 de dezembro, o grupo envia um “documento de reflexão extremamente confidencial”, onde se pede ao BdP que “pense nas implicações que isto pode ter”. Nesse dia volta a reunir-se com Carlos Costa, que lhe terá dito: “Este documento revela uma surpresa da vossa parte pela carta que receberam mas nós é que estamos verdadeiramente surpreendidos com o aumento do endividamento do grupo”.

No dia 17 de dezembro, depois de uma nova carta enviada ao BdP pelo GES e de uma nova reunião de Salgado com o regulador, o ex líder do banco disse numa reunião do Conselho Superior que tinha havido uma “redução do contexto em relação à carta inicial do BdP” e que as partes tinham chegado “a uma plataforma de entendimento”, escreve o i.