Cara pintada de branco, o nariz, inflacionado por uma bola, colorido a vermelho. O resto é feito com roupas largas e cobertas com cores berrantes. E pronto, está mascarado de palhaço, figura de humor que já vem desde os tempos do século XVIII. Em França, porém, deixou de o ser. A mal. A polícia gaulesa já recebeu dezenas de queixas de pessoas que, desde o início de outubro foram assustadas ou mesmo atacadas por indivíduos vestidos de palhaços. No sábado, em Agde, na província de Hérault, quatro adolescentes foram detidos após percorrerem as ruas com tacos de basebol e facas, enquanto assustavam transeuntes.

Um exemplo entre muitos do fenómeno que, desde o início de outubro, se tem espalhado por várias regiões de França. Também no sábado, em Montpellier, um cidadão de 35 anos foi golpeado cerca de 30 vezes com uma barra de ferro por um jovem de 18 anos, mascarado de palhaço, que o tentava assaltar. O suspeito, na segunda-feira, foi condenado a quatro meses de prisão efetiva, escreveu o Le Monde.

No mesmo dia, uma rapariga de 14 anos, em Chelles, nos subúrbios de Paris, também foi detida enquanto tentava atacar uma mulher, na rua. Estava mascarada de palhaço, noticiou o Le Figaro. Dezenas de casos já foram registados em várias localidades: Pas-de-Calais, Guingamp, Perpignan e Bordéus são algumas delas. A província de Hérault, no sul do país, tem sido a área onde mais casos têm ocorrido. Ou seja, a ameaça é real — existe uma onda de assaltos e violência em França com pessoas vestidas de palhaços. Mas, afinal, o que se passa?

Já houve quem desse pistas. Uma delas veio de um adolescente, detido em Marsellain após tentar assaltar um carro, mascarado de palhaço, que, revelou o Le Dauphine, admitiu ter “sucumbido” a uma moda nascida nos EUA. E o rasto conduz a uma moda: de vídeos publicados na Internet, sobretudo no YouTube, nos quais são filmadas pessoas vestidas de palhaços a pregarem sustos e partidas a transeuntes ocasionais.

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Um deles, por exemplo, publicado a meio de junho, já vai com mais de 31 milhões de visualizações. Aí, porém, não há violência nem agressões. Apenas sustos. Até ao dia. Tudo começou na Califórnia, estado norte-americano onde começaram a surgir queixas relacionadas com palhaços. A 13 de outubro, por exemplo, a revista Time avançou que a polícia já tinha registado casos, em várias cidades, de pessoas a serem perseguidas por palhaços na rua.

E, por lá, os casos têm-se sucedido. Como em França, onde até o Bernard Cazeneuve, ministro do Interior, já reuniu, segundo o Le Figaro, com responsáveis da polícia francesa, para determinar uma estratégia que detenha o fenómeno que está a alastrar pelo país.

A 24 de outubro, quando apenas se tinham registado casos de palhaços a perseguirem e assustarem pessoas, sem violência, a Direção Geral da Polícia Nacional francesa lamentou, em comunicado, que este fenómeno tenha “inflamado a Internet e as redes sociais”. E conduzido a outro problema — a formação de brigadas de cidadãos anti-palhaços.

Na passada semana, em Bordéus, as autoridades detiveram 12 adolescentes, com armas, que afirmaram estar juntos para perseguirem e apanharem pessoas mascaradas de palhaços. Em Agne, outros quatro jovens foram presos no parque de estacionamento de uma escola, por carregarem consigo armas, facas e tacos de basebol. Porquê? Estavam à “caça de palhaços”, como descreveu o Le Figaro. Eis, portanto, um exemplo de como uma partida pode ir longe de mais. Resta ver onde e como vai acabar.