Carlos Costa veio esta terça-feira “refutar veementemente diversas informações feitas pelo Dr. Ricardo Salgado durante a audição da CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito]”. Em especial, o governador do Banco de Portugal desmente a “alegada aceitação do Dr. Morais Pires para futuro presidente da comissão executiva do Banco Espírito Santo”. Para isso, o Banco de Portugal publica várias cartas trocadas entre Salgado e Carlos Costa, cartas em que surgem os apelos a mudanças no banco de forma “manifestamente urgente”, o que Carlos Costa escreveu a 7 de abril.
O governador do Banco de Portugal diz que ouviu a audição de Ricardo Salgado e “retive a autorização por este dada para divulgação de troca de correspondência com o Banco de Portugal relativa à avaliação da respetiva idoneidade”. Assim, numa carta de 7 de abril, da qual foi enviada uma cópia a Xavier Musca – vice-presidente do Crédit Agricole –, em que Carlos Costa diz que “o Banco de Portugal entende que os titulares dos órgãos que resultem da futura solução de governo devem resultar de um amplo e sólido consenso acionista e não envolver riscos em termos de avaliação de idoneidade”.
Assim, o Banco de Portugal escrevia que “a aprovação das alterações estatutárias que acolham o novo modelo de governo é manifestamente urgente, face aos riscos reputacionais que impendem sobre o BES“. Era “da maior conveniência que esta aprovação tenha lugar na próxima reunião da Assembleia Geral, que em princípio será convocada para o dia 5 de maio. Tal constitui a melhor defesa face aos riscos reputacionais latentes e a melhor forma de responder à sucessão de notícias surgidas na comunicação social, que tem vindo a contribuir para criar um clima de instabilidade indesejável antes do aumento de capital”.
Na comissão parlamentar de inquérito desta terça-feira, Ricardo Salgado por várias vezes diz que o Banco de Portugal nunca lhe indicou “com clareza” a perda da idoneidade. Se isso tivesse acontecido, “teria saído na hora. Mas é que era na hora”, garantiu Ricardo Salgado.
Em 7 de abril, segundo a carta que o próprio Banco de Portugal acaba de divulgar, o banco central continuava nesta altura a confiar que seria possível uma “transição ordenada na liderança do BES”. Carlos Costa estava confiante que “na próxima AG, os acionistas saberão aprovar as alterações estatutárias necessárias para a implementação de um modelo de governo que garanta, inequivocamente, uma gestão sã e prudente do BES, respeitando os princípios oportunamente transmitidos pelo Banco de Portugal”.
Foi nesta linha que Carlos Costa escreveu, a 20 de junho, a pedir a Ricardo Salgado que “como já tive oportunidade de lhe referir, o Banco de Portugal não está em condições de validar um nome proposto, por um acionista de referência, para a presidência da comissão executiva, sem avaliar o preenchimento dos requisitos de idoneidade”. “Cada candidato deverá avaliar individualmente se preenche indubitavelmente os requisitos estabelecidos na lei para a avaliação da idoneidade e deverá ponderar os riscos de poder vir a ter uma decisão negativa neste domínio”, atirou Carlos Costa.
Ricardo Salgado afirmou na CPI que numa primeira conversa com Carlos Costa, o governador do Banco de Portugal deixou ao critério deste a escolha de “quem o senhor quiser” para lhe suceder à frente do BES. O antigo presidente do banco indicou Carlos Costa viria, depois, a recuar, e a reprovar o nome de Morais Pires.