Já lá vão seis dias desde que os irmãos Kouachi, autores do ataque à redação do Charlie Hebdo que provocou 12 mortos, e Amedy Coulibaly, que matou cinco pessoas, perderam a vida. São os três franceses que nenhuma cidade em França quer enterrar. Por enquanto os corpos estão com as autoridades e, de acordo com o New York Times, ainda ninguém os reclamou. Mas o jogo do empurra não poderá durar muito mais tempo.
A lei francesa dita que os mortos devem ser enterrados no seu distrito ou no local da morte. Mas nem Gennevilliers, nem Reims, querem ceder uma última morada a Cherif e Saïd Kouachi, que ali residiram até serem mortos na passada sexta-feira, em Dammartin-en-Goële. Esta última também não os quer enterrados no seu território mas, em declarações ao Le Figaro, as autoridades disseram que serão obrigadas a cumprir a lei caso recebam um pedido para sepultar os dois irmãos.
“Se me pedirem para enterrar Saïd Kouachi, recusarei categoricamente”, disse ao New York Times Arnaud Robinet, o presidente da Câmara de Reims, cidade no nordeste de França onde morava o mais velho dos dois irmãos. “Não quero que uma sepultura em Reims se torne local de oração e adoração para alguns fanáticos”.
Amedy Coulibaly vivia em Fontenay-aux-Roses (Hauts-de-Seine) e morreu na capital francesa, Paris. Também ainda não se sabe para onde irá o corpo. A família tem uma última palavra a dizer sobre o local do enterro. Mas também aqui as coisas não são simples. Depois dos ataques, alguns familiares pronunciaram-se contra as ações dos três jihadistas e os desejos das famílias não são conhecidos. Os irmãos Kouachi eram órfãos de ascendência argelina e Coulibaly é originário do Mali. Tentar enviar os corpos para os dois países africanos não deverá ser solução.
O jornal francês Le JDD recorda o caso do francês de origem argelina Mohamed Merah, que em 2012 matou sete pessoas na cidade francesa de Toulouse. Após muita discussão, acabou por ser enterrado num pequeno cemitério muçulmano de Cornebarrieu, nos arredores de Toulouse. A Argélia, de onde era a família, recusou receber o corpo. E o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy pediu que o jovem fosse sepultado em França, para que a polémica acabasse de vez.
No final, os três franceses deverão ser enterrados de forma anónima, para evitar aquilo que o presidente da Câmara de Reims teme: que a sepultura se torne local de peregrinação de jihadistas.