Marcelo Rebelo de Sousa pensa que o acordo conseguido na passada sexta-feira entre o Eurogrupo e a Grécia “é uma sopa de pedra” que deita por terra muitas das promessas eleitorais do Syriza. “É o aluno a ser admitido a um exame de recurso”, disse Marcelo, que usou a metáfora da escola várias vezes ao longo do comentário semanal na TVI.

Uma outra ocasião em que o professor usou essa metáfora foi para comentar o desempenho de Maria Luís Albuquerque esta semana, que Marcelo considera não ter sido positivo. “Em política, o que parece é”, disse, a propósito da ida da ministra das Finanças a Berlim, na passada quarta-feira, para se encontrar com o homólogo alemão. E continuou: “Não há nada pior do que um aluno bom, chamado pelo professor, e o professor diz ao aluno mau: ‘olha, põe os olhos neste’. Não há ninguém numa turma que goste deste menino.” Ou seja, para Marcelo, a visita de Maria Luís a Schäuble terá contribuído para as notícias que surgiram na sexta-feira, segundo as quais Portugal tinha sido um dos países que mais se opôs a um acordo com a Grécia.

Sobre esse acordo, o comentador afirmou ainda que ele foi resultado de uma boa estratégia de comunicação do governo grego. Recorrendo à parábola bíblica do filho pródigo, segundo a qual um filho regressa a casa do pai depois de uma vida de devassa e é recebido com uma festa, Marcelo explicou porque fracassaram as negociações no Eurogrupo de segunda-feira. “Não esperamos que na política o pai tenha a generosidade de dizer ‘vem cá, filho pródigo'” e, como isso não aconteceu, o governo grego rejeitou as propostas em discussão. “Acho que o senhor Varoufakis, que é um exemplo de comunicação, criou ali um aparente braço-de-ferro para parecer que foi duro. Porque ele no fim da semana acabou por aceitar um texto pior”, disse.

E pior porquê? Porque, segundo o comentador, “o Syriza já engoliu o perdão da dívida, uma série de condições” e “tem de apresentar reformas”, quando uma das promessas eleitorais tinha sido o fim da austeridade. Por isso, repetiu, “os gregos [governo] só têm sopa de pedra” para comunicar ao povo.

Falando em comunicação, e a propósito agora das declarações de Juncker sobre a austeridade e a troika na quarta-feira, o comentador – que não ficou “chocado” com o que disse o presidente da Comissão Europeia – acha que a resposta dada pelo CDS foi melhor do que a do PSD. “No fundo Portas é um mini-Varoufakis. É um sabidão”, comentou, para depois disparar sobre o governo e o PSD: “Este Governo não acerta uma em termos de comunicação e gestão política. Por amor de Deus, afinem o discurso.”

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