Pedro Passos Coelho fez passar ontem uma mensagem ao presidente do Conselho Europeu, “pelos canais diplomáticos normais”, sobre a sua “perplexidade” com as palavras “infundadas” de Alexis Tsipras, ditas ontem perante o comité central do Syriza, disse ao Observador uma fonte próxima do primeiro-ministro.
Este domingo, a imprensa espanhola dá conta que Mariano Rajoy ligou ao presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, assim como ao presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, pedindo a ambos que “condenem as palavras de Alexis Tsipras”. Segundo a mesma fonte, contactada pelo jornal espanhol, Rajoy acredita que essas declarações “são contrárias ao espirito de solidariedade que deve reger as reações entre estados-membros”. Uma fonte da Moncloa disse mesmo ao El Mundo que o primeiro-ministro-ministro português tomou idêntica iniciativa, o que é negado por São Bento.
O jornal ABC dizia, também esta manhã, que haveria uma iniciativa conjunta dos chefes de governo ibéricos, com uma carta que Passos Coelho teria tido a iniciativa de mandar a Jean-Claude Juncker e a Donald Tusk, presidente do Conselho, onde “por escrito” Passos se queixaria da “falsidade” das declarações e com o facto de serem “desapropriadas a um líder europeu”. O jornal conservador anotava que Rajoy falou na tarde de sábado com o presidente da Comissão e que manifestou “acordo com o protesto do português”.
“Não houve iniciativa conjunta”, garantiu, porém, a fonte contactada pelo Observador. Mas houve, isso sim, uma mensagem transmitida pelos habituais canais diplomáticos dando conta do desagrado de Passos Coelho.
Esta manhã, Mariano Rajoy falou pela primeira vez em público sobre a polémica: “Não somos responsáveis pela frustração gerada pela esquerda radical grega”, disse, numa iniciativa de campanha na Andaluzia (região que vai ter importantes eleições, vistas como teste para as legislativas do fim do ano).
Já a Comissão Europeia não comentou quaisquer declarações. “Para a Comissão Europeia”, disseram fontes comunitárias citadas pela Efe, “é difícil comentar os comentários dos outros, especialmente porque a Comissão quer agir como um mediador e facilitador de acordos”. “Não somos surdos nem cegos e ouvimos o mundo todo. Sabemos que há vozes construtivas e vozes menos construtivas. Mas não vamos comentar”, ressalvaram as mesmas fontes.
Passos pediu silêncio aos ministros
No sábado, Passos Coelho deu ordens no Governo para ninguém reagir às acusações de Alexis Tsipras, que acusou os governos de Portugal e Espanha de liderarem um “eixo de poderes”, que “tentou levar a Grécia para o abismo durante todas as negociações”. O primeiro-ministro português quis deixar a resposta apenas para os partidos, dando a voz ao vice-presidente Marco António Costa, que justificou as palavras do primeiro-ministro grego com as dificuldades de gerir um recuo perante o seu próprio partido.
“Todos nós percebemos que aquelas palavras [de Alexis Tsipras] foram proferidas na qualidade de presidente do Syriza, todos sabem que tem havido um ambiente muito conturbado dentro do Syriza, em resultado dos compromissos assumidos dos dirigentes enquanto governantes dentro do Eurogrupo”, disse Marco António Costa, à entrada para o encerramento das jornadas do PSD e do CDS sobre investimento, no Porto.
Em deslocações pelo país estavam dois ministros, um de cada partido da maioria, que preferiram não falar sobre a polémica.
Mesmo assim, a reação do PSD acabou por ser muito alinhada com a do Governo espanhol, que resolveu responder diretamente a Tsipras. Com as sondagens em Espanha a colocarem o Podemos muito perto da liderança (e também a menos de um ano de eleições legislativas), a primeira reação veio pela voz do secretário de Estado para os Assuntos Europeus:
“Os últimos dados económicos divulgados demonstram que a Grécia ia no bom caminho, eram positivos e esperamos que não haja retrocessos nesta matéria. Por isso, o Eurogrupo, que toma decisões por unanimidade, concordou com o pedido grego de prolongar o programa e os compromissos que a Grécia assumiu perante ele”, disse Méndez de Vigo.
A próxima reunião do Conselho Europeu está prevista para dia 19 de março, altura em que Passos (segundo disse ao Expresso) previa falar pela primeira vez com o novo chefe de Governo grego.