Portugal, Espanha e Itália, alguns dos países mais afetados pela crise que se abateu sobre a Europa, são os Estados-membros da União Europeia que desde 2008 mostram mais crescimento na diferença salarial entre homens e mulheres. O país que mostrou o maior aumento da diferença nos salários dos homens e das mulheres foi mesmo Portugal, com um aumento de 3,8% entre 2008 e 2013, fazendo com que, no total, as mulheres ganhem menos 13% que os homens. Mesmo assim, este número fica abaixo da média europeia que se encontra atualmente nos 16,4%, onde países como a Estónia apresentam diferenças de quase 30%. Quanto a gestores de topo na Europa, apenas um terço são mulheres.

Sobre a Grécia não há dados desde 2010, mas segundo os dados apurados pelo Eurostat – que datam de 2013 – e divulgados esta quinta-feira, a tendência entre os países mais afetados pela crise como Portugal, Espanha, Irlanda e Itália, mostra que a diferença salarial se tem vindo a alargar desde 2008. Portugal é o país de toda a União Europeia em que esta diferença mais se acentuou (em Espanha teve um aumento de 3,2%, em Itália de 2,4% e na Irlanda, aumento face a 2008 é de 1,9%).

Ainda nas disparidades salariais, há vários países europeus em que as mulheres ganham quase menos 30% que os homens. É o caso da Estónia, onde o salário feminino é em média 29.9% mas baixo que o masculino e a tendência tem-se vindo a acentuar desde 2008, mas também é o caso da Áustria (23%), da República Checa (22.1%) e da Alemanha (21.6%). Portugal fica abaixo destes países, mas em 2008 tinha uma diferença de salarial de 9,2%, situação que se agudizou em 2012 quando atingiu 14,8%, baixando agora para os 13%. Um mapa de desigualdade que ilustra que a diferença entre salários de homens e mulheres que executam trabalhos similares na indústria, na construção e nos serviços.

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Segundo Sara Falcão Casaca, professora auxiliar no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) e que está atualmente a desenvolver o projeto Igualdade de Género nas Empresas nesta mesma universidade, estas diferenças estão ligadas ao processo de “tomada de decisão dentro das próprias empresas” e na dificuldade de as mulheres acederem a estes cargos. Em média, os números do Eurostat também divulgados esta quinta-feira, mostram que apenas um terço dos gestores é mulher. Esta é a situação também em Portugal, onde em 2013, apenas 34% das mulheres tinham cargos de gestão embora constituam 49% da força laboral. Já no Luxemburgo a situação é ainda mais desigual pois apenas 19% das mulheres detêm cargos de gestão face aos homens.

A professora do ISEG explicou ao Observador que “a segregação horizontal e vertical do mercado de trabalho” explicam este número, resultando que em Portugal haja apenas 9% de mulheres nos conselhos de administração das maiores empresas – número que só é superior ao de três outros países europeus. O projeto Igualdade de Género nas Empresas visa oferecer às empresas portuguesas “metodologia” para a aplicação das boas práticas de igualdade de género assim como “desenvolver instrumentos à medida da realidade de cada empresa de modo a promover a igualdade de mulheres e de homens, nomeadamente na esfera da tomada de decisão e da liderança”.

O dia da desigualdade salarial costumava ser assinalado a nível europeu a 28 de fevereiro, mostrando que as mulheres trabalham 59 dias de graça em relação aos homens devido à diferença salarial de 16,4%, mas segundo fonte oficial da Comissão Europeia adiantou ao Observador, este dia passará para novembro. Sara Falcão Casaca considera que o dia deveria continuar a ser assinalado com a sua carga simbólica, já que “em Portugal se tem debatido pouco a igualdade salarial e era uma forma de os meios de comunicação dedicarem mais atenção ao tema.