José Sócrates acusou o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho de lhe ter feito um “cobarde ataque pessoal”, num gesto que “revela o seu caráter e o quanto está próximo da miséria moral”. Numa carta escrita a partir do estabelecimento prisional de Évora e entregue ao Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF, o ex-primeiro-ministro deixou duras críticas a Passos Coelho, acusando-o de estar a “fazer uma política desprezível” ao usar o processo judicial que está em curso contra si como arma de defesa política.
“Esta forma desprezível de fazer política diz tudo sobre quem a utiliza. Ao atacar um adversário político que está na prisão a defender-se de imputações injustas, o senhor primeiro-ministro não se limita a confirmar que não é um cidadão perfeito, antes revela o seu caráter e o quanto está próximo da miséria moral”, lê-se.
O ex-primeiro-ministro socialista, que está preso preventivamente há quatro meses, reagiu desta forma à intervenção que Pedro Passos Coelho fez na terça-feira durante as jornadas parlamentares do PSD, no Porto, onde admitiu não ser um “cidadão perfeito”, em alusão às notícias sobre os seus incumprimentos contributivos (entre 1999 e 2004) e fiscais (entre 2003 e 2007), e onde acusou implicitamente o PS de estar por detrás daquelas notícias para tirar vantagem eleitoral.
Na carta de defesa da moral, Sócrates “reafirma” que não enriqueceu nem beneficiou ninguém quando exercia o cargo de chefe de Governo, lembrando um dos argumentos usados por Passos de que, apesar de ter “imperfeições”, “nunca usou [usei] o cargo para enriquecer” ou “prestar favores”. A comparação implícita seria com o ex-primeiro-ministro agora preso, mas o nome José Sócrates não chegou a ser referido por Passos Coelho. Sócrates, no entanto, acusa Passos de estar a “atirar lama para cima dos outros” para salvar a pele.
“Naturalmente não espero que o senhor primeiro-ministro, para quem manifestamente vale tudo, compreenda o valor da presunção da inocência num Estado de Direito, a extrema importância da separação de poderes, e muito menos que entenda que, no meu caso, não só ainda nada foi dado como provado como não foi sequer deduzida qualquer acusação”, escreve.
José Sócrates serve-se ainda das palavras de Passos na terça-feira para alegar que ele próprio “tinha razão” sobre o facto de o seu caso ter “contornos políticos” e de se tratar de uma “perseguição política”. “A perseguição política e a tentativa de condicionamento do resultado das próximas eleições ficou agora clara aos olhos dos portugueses”, atira Sócrates.
E em jeito de conclusão, Sócrates afirma que o que tem feito no seu caso é “explicar aos portugueses” a “verdade”, e insta Passos a fazer o mesmo. “Em vez de atirar lama para cima dos outros, o senhor primeiro-ministro faria melhor em explicar aos portugueses se ele próprio cumpriu ou não cumpriu a lei. Pela minha parte é o que tenho feito. Em nome da verdade é o que continuarei a fazer”, diz.