O empresário e ex-deputado do PS Henrique Neto vai apresentar quarta-feira a sua candidatura às eleições presidenciais de janeiro de 2016, no Padrão dos Descobrimentos em Lisboa. A candidatura está a ser preparada desde o ano passado e acelerou em janeiro deste ano. Sempre no máximo secretismo. Já existe programa, site, sede e até lema – “Por Uma Nova República” –, mas o alerta de que algo podia estar a acontecer nos bastidores socialistas só chegou com um envio muito restrito de um email a convocar para a apresentação do candidato.

O email, com o título em maiúsculas VAI ACONTECER, convoca para as 16h00 de quarta-feira, no simbólico Padrão dos Descobrimentos, a apresentação da candidatura presidencial que só alguns, muito poucos, sabiam quem era o protagonista. “As próximas eleições presidenciais não estão condenadas a ser um simples complemento das legislativas, nem a Presidência da República está condenada a ser uma mera extensão da representação partidária”, pode ler-se apenas. “Com um conjunto preciso de propostas para Portugal, o candidato é um cidadão que, na sua vida profissional, se destacou pela sua competência e capacidade de concretização, tendo levado o nome de Portugal a níveis de referência mundiais”, é o pouco que o email desvenda, ficando desde logo a promessa: “Com provas dadas ao longo da sua vida, com um trajeto de posições políticas frontais e claras, há muito que defende a necessidade de introduzir profundas alterações no sistema político, de modo a fazer dele uma referência de cidadania lúcida, exigente e ativa”. Contactado pelo jornal i, que avançou com a notícia este domingo, Henrique Neto não quis fazer comentários.

Fontes próximas do candidato afirmam tratar-se de uma candidatura completamente independente, que não vai pedir apoios partidários, e que irá até ao fim. Ou seja, leia-se, não desistirá a meio, nem caso António Guterres (claramente a mais unânime figura do PS para o cargo) decida mesmo avançar.

Esta é uma candidatura completamente à margem do PS. António Costa não foi informado. Neto, recorde-se, é um dos críticos de José Sócrates e em todos os congressos do PS tem apresentado moções controversas.

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Henrique Neto, um ‘self made man’ que começou operário e acabou industrial, veio da esquerda, mas tem boas relações com algumas figuras da direita. Entre os seus amigos próximos estão por exemplo Veiga Simão (com quem escreveu um livro), Mira Amaral e João Salgueiro.

Num dos seus livros recentes (vai em segunda edição) – “Uma Estratégia para Portugal” –, Henrique Neto já apontava algumas das soluções que defende para o País e que farão parte do seu programa.

Henrique Neto, de 78 anos, foi deputado entre 1995 e 1999 pelo círculo de Leiria. Durante os anos de governação de Sócrates, era uma das poucas vozes incómodas para o líder do partido, que chegou a classificar de “aldrabão, um vendedor de automóveis”. Dono da empresa Iberomoldes, o empresário fez do combate à corrupção uma das suas bandeiras. Em novembro, quando Sócrates foi preso, não teve papas na língua e declarou ao i não ter ficado surpreendido. “Há anos que esperava que isso acontecesse. Os indícios eram mais que muitos”, disse.

No ano passado, foi ouvido na comissão parlamentar de inquérito à compra de sete equipamentos militares, incluindo os submarinos, a seu pedido. Considerava que este processo foi “escuro” e “serviu interesses partidários”.

Uma chuva de candidatos

À esquerda, o leque de candidatos presidenciais alarga-se. António Guterres, o preferido pelo PS, ainda não encerrou o tabu sobre o seu destino. Sampaio da Nóvoa, ex-reitor da Universidade de Lisboa, é uma hipótese e teve o apoio de peso do presidente do PS, Carlos César, há uma semana. António Vitorino e Luís Amado são também outras das personalidades faladas, embora estes sejam menos consensuais dentro do PS. Na semana passada, também a deputada Maria de Belém Roseira admitiu que possa ser candidata, aos microfones da RR. No fim de semana, o histórico socialista Edmundo Pedro assinava um artigo de opinião no Público em que sugeria como candidato presidencial Carlos César. António Guterres, por seu lado, segundo o Expresso, considera que Guilherme d’ Oliveira Martins, presidente do Tribunal de Contas, tem perfil para candidato presidencial. A lista é, assim, grande e variada.

Para lá da área do PS, é certo que o PCP vai apresentar candidato – como sempre tem feito. Manuel Carvalho da Silva, ex-secretário-geral da CGTP, não exclui avançar para as presidenciais, presumivelmente com o apoio dos setores de ex-bloquistas. O BE, por seu lado, tem sempre Francisco Louçã como o seu presidenciável.

As eleições presidenciais serão em janeiro de 2016 e, ao contrário das legislativas, as candidaturas não são decididas pelos partidos. Trata-se de uma candidatura unipessoal a que depois cada partido decide se dá apoio.