Há uma droga legal que aumenta os níveis de dopamina e torna as pessoas mais justas. Segundo um estudo publicado na revista Current Biology, os investigadores da Universidade da Califórnia descobriram que a presença das moléculas desta substância no córtex pré-frontal do cérebro conduz as pessoas a repartirem recursos de forma mais equitativa.

A sensação que nos move a procurar informação ou a ânsia por satisfazer um determinado prazer, como sexo ou comida, são perceções da responsabilidade deste neurotransmissor. A hormona entra na corrente sanguínea sempre que existe a possibilidade de uma determinada ação se poder traduzir numa recompensa. A droga com as mesmas capacidades chama-se tolcapona e costuma ser utilizada nos tratamentos do Parkinson, uma doença em que a falta de dopamina tem impacto na motivação, no controlo motor e na memória.

Para chegar a estas conclusões, os investigadores fizeram um jogo que tentava demonstrar o altruísmo do ser humano, mesmo perante situações em que não recebiam recompensas. Por duas vezes, os cientistas entregaram uma certa quantidade de dinheiro a uma pessoa que devia dividi-lo com uma segunda: no primeiro caso, os voluntários tomaram tolcapona. Num segundo foi usado um placebo. O primeiro grupo dividiu os bens de modo mais igualitário com diferenças em relação ao segundo grupo de 10 a 15%.

Ignácio Sáez, um investigador espanhol em Berkeley, diz que este comportamento “pode dever-se ao efeito do medicamento na ínsula, uma região do cérebro que se ativa quando há um desvio sobre a expectativa social”. O medicamento torna os indivíduos mais sensíveis aos valores sociais, contrariando os comportamentos negativos que a dopamina pode catalisar, como a traição ou a cedência aos vícios.

Mas o objetivo dos investigadores não está em lançar uma solução para a injustiça. “A dopamina está relacionada com a esquizofrenia, as dependências, a depressão e a tomada de decisões”, por isso conhecer o seu efeito no cérebro pode ajudar a aliviar o sofrimento daqueles que padecem destas doenças. “Medir os efeitos deste neurotransmissor na interação social é importante porque há transtornos, como o autismo, que tem relação com essa interação”, acrescenta Sáez.

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