O Banco Central Europeu (BCE) duplicou os valores das injeções de liquidez de emergência junto dos bancos gregos desde a semana passada, segundo fontes citadas pela Bloomberg, dando indicação de que a fuga de depósitos no país está a acelerar, num cenário de dificuldades nas negociações para um acordo entre Atenas e os credores internacionais. A soma entregue aos bancos da Grécia ao abrigo da Emergency Liquidity Assistance (ELA) aumentou 1,5 mil milhões de euros, para 75,5 mil milhões de euros, nesta quarta-feira. Este mecanismo é financiado pelos bancos centrais nacionais da zona euro e os montantes são cedidos contra a entrega de colaterais de menor qualidade do que aqueles que o BCE aceita noutras operações de financiamento.

“A subida do teto mostra que a fuga de depósitos da Grécia continua”, afirmou Andreas Koutras, analista da Touch Capital Markets, em Londres. E a “questão está agora em saber quanto tempo resta para os colaterais entregues à ELA estarem esgotados, isto é, quanto tempo resta” para que o sistema bancário grego fique sem dinheiro.

Esta situação acontece nas vésperas de uma reunião dos ministros das Finanças da moeda única europeia, que decorre em Riga, capital da Letónia, na sexta-feira, 24 de abril, e que era suposto já se pronunciar sobre um acordo com a Grécia para um novo programa de resgate, o que não deverá suceder. Responsáveis europeus e dos credores internacionais, grupo que inclui o BCE, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Comissão Europeia, têm insistido junto do Governo grego para que apresente um programa de reformas e medidas orçamentais, necessárias para que sejam desbloqueados novos financiamentos ao país antes de este entrar em bancarrota. Sobre o tema, Yanis Varoufakis, ministro das Finanças da Grécia, afirmou ver uma “convergência” de pontos de vista, enquanto Benoit Coeure, administrador executivo do BCE, disse estar a haver progressos nas discussões.

Ao jornal grego Kathimerini, Coeure declarou que “nos dias mais recentes houve progressos tangíveis nas negociações”, mas adiantou que persistem “diferenças substantivas” nas posições assumidas pelas partes. Num outro sinal das graves dificuldades de liquidez sentidas pelo Estado grego, Atenas ordenou, no início desta semana, que o poder local depositasse as suas reservas de liquidez junto do banco central grego, medida que enfureceu os autarcas da Grécia. A decisão visou assegurar que a administração central terá recursos para honrar os compromissos com o pagamento de salários e pensões no final de abril, embora contribua para secar os depósitos dos bancos comerciais do país.

Holger Schmieding, economista-chefe do Berenberg Bank, na capital britânica, afirmou existirem “30% de hipóteses” de a Grécia entrar em incumprimento e, na sequência, abandonar a zona euro, acrescentado que o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, devia fazer a “escolha certa e fazê-la rapidamente”. Os bancos gregos têm reservas de liquidez de 2,9 mil milhões de euros após o aumento realizado na ELA, disseram fontes contactadas pela Bloomberg, e o objetivo é o de manter esta “almofada” em redor de três mil milhões de euros, de forma a dar margem ao banco central grego e ao BCE para acorrerem a uma emergência.

Sobre as negociações que estão a decorrer, a recusa de Atenas em privatizar ativos detidos pelo Estado, reformar o sistema de pensões e liberalizar o mercado laboral são os principais bloqueios que estão a travar um acordo no grupo de trabalho do Eurogrupo. Perante este cenário, o BCE estará a estudar formas de manter os financiamentos concedidos sob a ELA no caso de as conversações políticas chegarem a lado algum.

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