O secretário-geral do Partido Socialista, António Costa, enviou um SMS polémico a um dos diretores-adjuntos do semanário Expresso, na noite do 25 de abril, a propósito de um texto que o jornalista especialista em Economia escreveu sobre as propostas económicas apresentadas pelo PS. João Vieira Pereira revela esta sexta-feira na íntegra a mensagem que recebeu do líder socialista, afirmando que chegou a pensar tratar-se de um “engano”.

“Senhor João Vieira Pereira. Saberá que, em tempos, o jornalismo foi uma profissão de gente séria, informada, que informava, culta, que comentava. Hoje, a coberto da confusão entre liberdade de opinar e a imunidade de insultar, essa profissão respeitável é degradada por desqualificados, incapazes de terem uma opinião e discutirem as dos outros, que têm de recorrer ao insulto reles e cobarde para preencher as colunas que lhes estão reservadas. Quem se julga para se arrogar a legitimidade de julgar o carácter de quem nem conhece? Como não vale a pena processá-lo, envio-lhe este SMS para que não tenha a ilusão que lhe admito julgamentos de carácter, nem tenha dúvidas sobre o que penso a seu respeito. António Costa”

A mensagem foi enviada no último sábado, dia de publicação do semanário, na sequência da habitual opinião que João Vieira Pereira assina na página 3 do caderno de Economia. Sob o título “Perigosos Desvios do PS à direita”, que pode ler aqui, João Vieira Pereira analisava as propostas que o grupo de economistas elaborou para o PS e que farão parte do programa eleitoral que Costa dará a conhecer em junho.

“O que me leva a pensar que o relatório “Uma década para Portugal” está muito mais à direita do PS do que seria de esperar. A grande mais-valia do estudo é que centra o debate político em políticas económicas, de onde nunca deveria ter saído”, escreveu João Vieira Pereira a 25 de abril, sem nunca referir o nome de António Costa.

O diretor-adjunto do Expresso classifica o “estilo do PS” como de “falta de coragem”, ao entregar o programa a um grupo de independentes. “Nada como pedir a uns independentes que façam umas contas que não comprometem ninguém. Se correr bem o partido tinha razão. Se correr mal eram apenas umas ideias loucas de uns economistas bem-intencionados”, escreve João Vieira Pereira, que depois até realça alguns pontos “positivos” do estudo, no que toca a algumas políticas económicas sugeridas, como é o caso “da criação de um imposto negativo para os trabalhadores de menores rendimentos; a descida da TSU para as empresas; a eliminação da sobretaxa do IRS e a reposição dos salários da função pública de forma mais rápida”.

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Segundo o próprio autor, João Vieira Pereira, que esta sexta-feira responde no mesmo espaço (o jornal foi antecipado por ser feriado) ao SMS do líder socialista, o texto “não contém qualquer julgamento de caráter à pessoa de António Costa ou a qualquer outra”. À crónica desta semana chamou, em jeito de resposta: “É a liberdade, António Costa” (e pode ser lido aqui).

“Denunciar esta situação é a forma mais transparente que encontro para que todos possam julgar e criticar as ideias que defendo, que sempre defendi e continuarei a defender”, escreve João Vieira Pereira.

Recorde-se que António Costa é irmão de Ricardo Costa, diretor do jornal Expresso. Mal António Costa se disponibilizou para liderar o Partido Socialista, Ricardo Costa colocou o seu lugar à disposição por possíveis questões éticas. Mas a administração do Grupo Impresa rejeitou esse cenário.