A Jerónimo Martins está a desvalorizar-se em 2,4% e o BCP derrapa 3,4%. Esta é a reação em bolsa das duas empresas cotadas na bolsa de Lisboa com maior exposição ao mercado polaco, país onde no domingo o partido eurocético Lei e Justiça venceu as eleições com maioria absoluta. O partido anunciou durante a campanha a intenção de tomar medidas que afetam negativamente as duas empresas, pelo que os investidores estão a reajustar as suas expectativas em relação às operações polacas da retalhista e do banco.

Uma vez no poder, o partido Lei e Justiça deverá aplicar um imposto especial de 2% sobre as vendas nos supermercados. O banco de investimento francês Exane BNP Paribas escreve aos clientes, esta manhã de segunda-feira, que o resultado pode trazer uma “visão negativa” para as operações da Jerónimo Martins na Polónia, ainda que reconheça que a unidade local – a Biedronka – esteja em “boa forma” para suportar a taxa.

Ainda não se sabe ao certo como será aplicado este imposto, mas a intenção de aplicar a taxa sobre os supermercados voltou ontem a ser reiterada por Zbigniew Kuzmiuk, principal responsável pelo programa económico do partido. “Queremos, provavelmente já a partir de janeiro de 2016, introduzir dois impostos que são importantes para nós: uma taxa sobre os bancos e outra sobre os supermercados”, afirmou o responsável.

As ações da Jerónimo Martins caem 2,4%, para 12,545 euros, na bolsa de Lisboa. Já na bolsa de Varsóvia, as ações da Eurocash estão a subir 1,9% para 51,36 zlotys. Esta retalhista, que pertenceu à Jerónimo Martins entre 1995 e 2003, é detida em 43,8% e presidida pelo português Luís Amaral [acionista do Observador], que em entrevista recente ao Jornal de Negócios se mostrou tranquilo quanto ao provável novo imposto.

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“A taxa de retalho, se vier a existir, tem como objetivo proteger o pequeno retalho, que na realidade são os meus clientes. Se os objetivos da lei forem os anunciados, deverá beneficiar os nossos clientes, logo deverá beneficiar a Eurocash”, afirmou o empresário, citado pelo diário financeiro. Ainda assim, Luís Amaral reconheceu que “o grande retalho deverá sair prejudicado, pois perde competitividade num país em que o comércio independente é o mais forte da Europa”.

O problema com o franco suíço e os zlotys

Na banca, o BCP é acionista maioritário do Millennium Bank polaco e poderá ser um dos principais prejudicados pelas medidas que o partido Lei e Justiça prometeu durante a campanha. O partido quer responsabilizar o setor bancário pela maior parte dos encargos que implicará a conversão de empréstimos bancários denominados em francos suíços para zlotys.

As ações do BCP estão a cair 3,8% para 5,1 cêntimos esta manhã em Lisboa.

A legislação em causa procura aliviar as dificuldades que mais de meio milhão de devedores de crédito à habitação têm sentido desde que, em janeiro, o Banco Nacional Suíço deixou de indexar o franco ao euro. Isso fez disparar o valor do franco suíço, o que deixou em apuros quem, atraído pelos juros baixos, contratou, antes da crise financeira, créditos à habitação em francos suíços.

Também aqui existe alguma incerteza sobre a forma como a lei vai mudar. O Presidente polaco Andrzej Duda afirmou, recentemente, que é importante que se alivie os encargos de quem tem de pagar empréstimos em francos suíços mas defendeu que se chegue a uma solução “razoável”, que também tenha em conta a situação dos bancos que concederam estes empréstimos.

O índice PSI-20, como um todo, está a cair 0,8% esta segunda-feira, liderando as perdas entre as bolsas europeias.