Mário Nogueira, o líder do poderoso Sindicato dos Professores, elogia a juventude do novo ministro da Educação. A Justiça tece elogios a Francisca Van Dunem. A administração Interna e a Agricultura também estarão bem entregues, de acordo com responsáveis do setor. A CGTP está ainda cautelosa sobre o nome de Vieira da Silva à frente do trabalho, preferindo esperar por ver as políticas. Já a entregue da Cultura a João Soares, a confirmar-se, não parece ter sido bem recebida. Estas são as primeiras reações dos responsáveis dos vários setores à lista de ministros, divulgada pela TSF mas ainda à espera do ok final de Cavaco Silva, do novo Governo de António Costa.
Manuel Heitor, Ministro da Ciência Tecnologia e Ensino Superior, o mais elogiado
“Ao longo dos últimos anos, em alguns temas fraturantes, foi possível verificar que existe abertura e posições em comum com o novo Ministro. O SNESup espera assim que possam ser resolvidos problemas em matérias cruciais para a Ciência e Ensino Superior”.
O Ensino Superior, que volta a ter o seu próprio ministério, é o campeão dos elogios, com o novo ministro Manuel Heitor, professor catedrático do Técnico e antigo secretário de Estado de Mariano Gago, a receber as boas-vindas do Sindicato Nacional de Ensino Superior e com as expectativas em alta nas redes sociais.
Em comunicado enviado às redações, o Sindicato Nacional de Ensino Superior (SNESup) “congratula-se, assim como os docentes e investigadores, pela existência de um Ministério próprio, da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior” e refere que o nome do novo ministro “é bem recebido”.
“Ao longo dos últimos anos, em alguns temas fraturantes, foi possível verificar que existe abertura e posições em comum com o novo Ministro. O SNESup espera assim que possam ser resolvidos problemas em matérias cruciais para a Ciência e Ensino Superior, como por exemplo, o fim da precariedade laboral dos docentes e investigadores, a implementação de um regime para os docentes e investigadores do Ensino Superior privado, ou recuperado o financiamento no Ensino Superior e o investimento na Ciência.”
O físico e professor Carlos Fiolhais também elogia a separação da Educação. Não sem antes deixar críticas ao ex-ministro. “O Ministério de Nuno Crato era um monstro e teve comportamentos monstruosos na área da ciência. Hoje é claro para todos que o ex-ministro não foi ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Desinvestiu das universidades e do ensino superior. Ignorou a cultura científica”, disse ao Observador, lamentando que a avaliação da ciência em Portugal tenha passado a ser feita sob uma perspetiva de cortes pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.
O futuro parece-lhe mais risonho agora que a pasta está com “o Prof. Manuel Heitor, que conhece muito bem a ciência, tecnologia e ensino superior.”
“Tem uma rica experiência adquirida no tempo do Prof. Mariano Gago. Saberá ter como prioridade algo esquecido até hoje que é o futuro dos jovens cientistas, que poderão ser a mola propulsora do nosso futuro. Para isso é preciso criar condições para que não tenham de emigrar. (…) Ele é co-autor do “Livro Negro da Avaliação da Ciência em Portugal” e sabe bem os atropelos ao direito e à ética que tanto prejudicaram a ciência nacional.”
Por fim, um pedido: que o novo ministro ligue mais a ciência ao ensino superior, “por exemplo impedindo que dinheiros do Orçamento do Estado sejam entregues a instituições privadas em desfavor dos laboratórios das universidades públicas”.
Adalberto Campos Fernandes, Ministro da Saúde, pronto para os desafios?
Vai ter de lidar com o contexto de “insustentabilidade financeira”, “restabelecer o diálogo com alguns setores onde estava desgastado”, “reforçar os cuidados de saúde primários”.
Marta Temido, presidente da Associação dos Administradores Hospitalares, foi o único elemento do setor a reagir, em declarações ao Observador: “Acho que durante os últimos tempos fez propostas relativamente ao que faria de outra maneira se fosse ministro”, disse.
Segundo esta responsável, o novo ministro “assumiu o que noutros países se designa de ministro sombra, agora está na altura de pôr em prática. As expectativas são grandes, temos um ministro para responder a essas expectativas”, disse, ainda que os desafios, segundo ela, sejam vários: lidar com o contexto de “insustentabilidade financeira”, “restabelecer o diálogo com alguns setores onde estava desgastado”, “reforçar os cuidados de saúde primários”.
“Vai ter um período de graça, mas terá de mostrar que há capacidade de fazer diferente”, concluiu.
Para Pedro Pita Barros, professor de Economia da Nova SBE e especialista em economia da saúde, Adalberto Campos Fernandes “tem-se, ao longo dos anos, preparado para este tipo de funções governativas”, lembrou. Em comentário ao Observador, considera que o novo responsável “em conhecimento dos principais problemas do sector” e, “uma vez que participou na elaboração do programa eleitoral do PS para a saúde, é de esperar que o procure cumprir”, nomeadamente no que respeita à continuação da reforma dos cuidados de saúde primários.
“Tenho alguma expectativa quanto à forma como lidará com a inovação tecnológica, por um lado, e com os recursos humanos, por outro.”
Tiago Brandão Rodrigues, Ministro da Educação, e o trunfo da juventude
“Difícil é fazer igual ou pior, basta ter uma atitude diferente da que teve Nuno Crato e a sua equipa ministerial”.
Mário Nogueira, secretário-geral da FENPROF, foi taxativo. É um ministro melhor, porque não podia ser pior. Mesmo assim não deixou de elencar alguns desafios: “Independentemente da menor experiência do jovem Tiago Brandão Rodrigues nesta área não é mau ter um jovem no setor. Será bom rodear-se de uma equipa que o apoie”, disse à TSF.
“É bom que ele resolva alguns dos vícios que estão mais do que instalados no Ministério da Educação, que se não forem resolvidos podemos ter outra equipa ministerial com as mesmas práticas. (…) Difícil é fazer igual ou pior, basta ter uma atitude diferente da que teve Nuno Crato e a sua equipa ministerial”, acrescentou ainda o líder do sindicato dos professores.
O físico e professor universitário Carlos Fiolhais também confia que o cientista que veio de Cambridge “possa remediar alguns dos erros cometidos recentemente e dar à educação nacional uma atenção que não tem tido”, partilhou com o Observador. Defende, acima de tudo, que “é preciso confiar nos professores e alimentar neles a esperança. Dar verdadeira autonomia às escolas. Fazer delas espaços de aprendizagem, cultura e criatividade”, sublinhou.
João Soares, Ministro da Cultura, gera espanto
“João Soares ministro da cultura ( silêncio desconfortável no país) gastronómica”.
Ainda há dúvidas sobre se este é o nome definitivo na pasta da Cultura, por isso os agentes culturais preferem aguardar por uma confirmação oficial. Nas redes sociais, as reações são de espanto, e não pelas melhores razões.
“João Soares ministro da cultura (silêncio desconfortável no país) gastronómica (ouviu-se um ah de alívio em uníssono)”, escreveu Salvador Martinha, o humorista, no twitter.
João Soares ministro da cultura ( silêncio desconfortável no país) gastronómica (ouviu-se um ah de alívio em uníssono)
— Salvador Martinha (@SalvasMartinha) November 24, 2015
Francisca Van Dunem, Ministra da Justiça , recebe boas vindas
“É uma profunda conhecedora do Ministério Público, tem obra feita na Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa e portanto pensamos que é uma pessoa adequada para levar a bom porto as reformas da justiça.”
Apesar de elaborarem um caderno de encargos longo, face aos desafios que esperam a nova ministra, Van Dunem recebe vários aplausos dos responsáveis pelos setores que vai tutelar. “É uma profunda conhecedora do Ministério Público, tem obra feita na Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa e portanto pensamos que é uma pessoa adequada para levar a bom porto as reformas da justiça e designadamente no que diz respeito ao Ministério Público”, disse o Presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, António Ventinhas, ao Expresso e à TSF.
“Não vou estar a interpretar os estados de alma de António Costa. Só posso dizer que é um sinal de confiança na magistratura”, acrescentou Ventinhas, dizendo que os principais “desafios passam na área da justiça pela reorganização judiciária, pela reforma dos estatutos das magistraturas e pela abertura do novo curso de magistrados no novo Centro de Estudos Judiciários”.
“Existe uma grave carência de magistrados, existem muitos problemas que advieram da lei da reorganização judiciária e todas essas matérias terão que ser resolvidas para um bom funcionamento da Justiça”, concluiu.
Já Fernando Jorge, presidente do Sindicato do Funcionários Judiciais, juntou os seus ‘pedidos’. “O sistema de justiça precisa de ajustamentos, é preciso fazer algumas reformas na reforma que foi feita há um ano”, disse. Questionado sobre se espera que a nova ministra da Justiça, Francisca Van Dunem reabra alguns tribunais, o sindicalista defendeu que “ao nível dos tribunais que estão a funcionar como secções de proximidade, por exemplo Castro de Aire, Mértola e Arraiolos, justifica-se que voltem a ser tribunais de pleno direito e não esta coisa híbrida que são secções de proximidade”, disse à TSF.
Constança Urbano de Sousa, Ministra da Administração Interna, recebe aplausos
“Pelo menos já esteve no ministério, conhece um bocado a casa, não deve ser desconhecedora das problemáticas dos serviços de segurança.”
A experiência e conhecimento das pastas do ministério que vai titular, podem ser uma mais valia. “Traz-lhe vantagens mas também responsabilidades acrescidas. Espero que venha a tomar medidas que melhorem a capacidade técnica e humana do SEF, algo que é essencial neste período que o país e a Europa atravessam”, afirmou ao jornal Expresso Acácio Pereira, presidente do Sindicato dos Inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
Também César Nogueira, presidente da Associação de Profissionais da Guarda (APG), apontou essa experiência como importante: “Pelo menos já esteve no ministério, conhece um bocado a casa, não deve ser desconhecedora das problemáticas dos serviços de segurança. Vamos de imediato pedir-lhe uma reunião. Há muitas questões que são urgentes, em especial a problemática dos suicídios. Achamos que não precisa de grandes alterações, mas é preciso por em prática as medidas que já lá estão. É preciso alterar o plano nacional de prevenção dos suicídios, implementando as medidas que já lá estão e que nunca foram implementadas”, disse à TSF,
“Significa que já tem um conhecimento profundo da PSP [por ter lecionado no Instituto de Ciências Policiais e Segurança Interna], acredita Peixoto Rodrigues igualmente, presidente do Sindicato Unificado da Polícia.
Vieira da Silva, Ministro da Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, com ok de CGTP e UGT
“O que que conta é a vontade expressa pelo povo de se verificar uma verdadeira mudança de políticas. A área do trabalho deve readquirir uma importância especial”.
“Abre as melhores perspetivas para um franco diálogo, aberto, com dinâmica e sobretudo com grande responsabilidade”.
As duas centrais sindicais, CGTP e UGT, reagiram à escolha do novo ministro. Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, preferiu sublinhar a importância das políticas, desvalorizando os nomes: “Independentemente das pessoas indicadas, o que que conta é a vontade expressa pelo povo de se verificar uma verdadeira mudança de políticas. A área do trabalho deve readquirir uma importância especial porque o emprego continua a ser o elemento determinante para o desenvolvimento do pais e isso implica que haja uma valorização do trabalho e dos trabalhadores. O tempo dirá se é o homem certo”, disse.
Já Carlos Silva, secretário-geral da UGT, afirmou na TSF que Vieira da Silva “abre as melhores perspetivas para um franco diálogo, aberto, com dinâmica e sobretudo com grande responsabilidade. Ele já deu provas no passado e não vai certamente adulterar aquilo por que ficou conhecido: a reforma sustentável da segurança social entre 2006 e 2008. É um homem que sabe dialogar e sabe ter os parceiros sociais consigo na busca soluções para se encontrarem os melhores caminhos para o país”, disse o secretário-geral da UGT.
Capoulas Santos, Ministro da Agricultura, com caderno de encargos da CNA
“Vamos ver se há a tal mudança que é necessária na política agrícola nacional.”
João Dinis, dirigente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), falou com a TSF sobre o ministro que regressa à pasta: “Já era tempo de haver um novo governo. O dr. Capoulas Santos é um experiente nestas andanças. Nós também somos e até aí está tudo bem. Vamos ver se há a tal mudança que é necessária na política agrícola nacional e ver o que se pode fazer a nível da União Europeia para melhorar a situação dos agricultores portugueses, especialmente da agricultura familiar, da pequena e média agricultura.”