Os chamados “corredores de desenvolvimento” que procuram ligar África para impulsionar a produção agrícola e a exportação de minerais podem criar uma crise ambiental no continente, segundo um estudo australiano publicado esta quinta-feira.
“Acreditamos que estes corredores, que estender-se-ão ao longo de 53 mil quilómetros de comprimento, vão penetrar muitas áreas selvagens escassamente povoadas que são críticas para os ambientes naturais e para a vida selvagem em África”, disse o principal responsável pelo estudo, William Laurance, da Universidade James Cook, da Austrália.
Um total de 33 “corredores de desenvolvimento”, em projeto ou ativos, procuram interligar com estradas, linhas ferroviárias, terminais portuários e oleodutos diversas zonas da África subsariana para aumentar a produção agrícola, a exportação de minerais e a integração económica.
Estes corredores vão supor “o maior golpe em África de todos os tempos”, já que, entre outros aspetos, podem “ameaçar ou degradar cerca de 2.000 parques e áreas protegidas”, advertiu William Laurance, em comunicado.
O estudo, que foi publicado na revista científica Cell Press, avalia, entre outros aspetos, a distribuição das espécies selvagens em perigo, os ecossistemas únicos e a absorção do carbono na vegetação.
Os investigadores também levaram em consideração o tamanho das populações e o potencial agrícola de cada corredor.
O estudo conclui que seis dos corredores deveriam ser cancelados completamente e que outros 21 são “marginais”, ou seja, que têm um impacto ambiental alto ou um baixo potencial agrícola.
Contudo, os corredores que causam maior preocupação aos cientistas são aqueles que penetram em florestas tropicais ricas em biodiversidade ou na savana equatorial.
“Ninguém tem dúvidas de que África precisa de desenvolvimento social e económico e uma melhor segurança alimentar”, mas qualquer tipo de desenvolvimento deve “maximizar a produção agrícola sem degradar a incrível vida selvagem do continente nem as suas riquezas naturais”, afirmou William Laurence.
Segundo a Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO), os corredores agrícolas em territórios ligados por linhas de transporte apresentam um “potencial para o desenvolvimento sustentável”.