O cineasta português Rui Simões está a trabalhar três novos filmes em Moçambique, um como realizador, sobre a Casa dos Estudantes do Império, e outros dois em coprodução em obras do angolano Zezé Gamboa e do moçambicano Sol de Carvalho.

“Temos estes filmes nos próximos tempos e isso faz com que Moçambique se torne mais importante do que outro lugar e é óbvio que a minha vida mudou por causa deste país onde nunca tinha estado”, disse em entrevista à Lusa Rui Simões, durante uma visita a Maputo, onde apresentou cinco obras da sua autoria, todas abordando temas africanos.

Além da mostra, intitulada Cruzamentos Cinematográficos, iniciada a 18 de novembro e que terminou no sábado em Maputo e Inhambane, o realizador aproveitou para avançar no registo documental da sua obra “A Casa”, sobre os antigos estudantes da Casa dos Estudantes do Império, que este ano comemora cinco décadas, e por onde passaram alguns dos principais opositores africanos ao colonialismo português.

“Aproveitei para entrevistar individualidades que passaram pela Casa dos Estudantes do Império e que foram grandes dirigentes de Moçambique e assim farei noutros países, tentando enriquecer essa Casa, pela qual tenho um carinho especial”, assinalou,

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Além de “A Casa”, Rui Simões desenvolve, através da sua produtora, Real Ficção, em parceria com a Promarte, de Sol de Carvalho, dois projetos em Moçambique, e o mais adiantado é um filme do angolano Zezé Gamboa, que já tem financiamento para a preparação e escrita.

Trata-se de uma obra de ficção, avançou, baseada na história real de um antigo diplomata francês em Maputo que se acidentou de moto, numa viagem com a sua namorada a caminho de Inhambane.

“Eles ficaram um bocado perdidos e depois vieram as inseguranças e incompreensões, num filme sobre a relação com o outro, com dois personagens fortes, dois atores franceses que esperamos que sejam bastante importantes”, indicou o realizador.

Já o filme de Sol de Carvalho encontra-se ainda em fase de discussão e deverá abordar a guerra, não a luta anticolonial ou o conflito interno em Moçambique, mas uma abordagem mais geral a este tema e em particular a reinserção dos combatentes na sociedade mais os seus traumas.

Durante os Cruzamentos Cinematográficos, o realizador trouxe a Maputo e Inhambane os seus filmes “Bom Povo Português”, “Ole António Ole”, “Ilha da Cova da Moura”, “Kola San Jon é Festa di Kau Berdi” e “Guerra ou Paz”, e também o início de um projeto alternativo de exibição, num momento em que “o cinema está a passar uma crise muito grande” e em que obras como as de Rui Simões são difíceis de programar numa sala, “porque o rendimento tem de ser urgente”.

Aproveitando a parceria com Sol de Carvalho, Rui Simões acabou por “inventar os canais” e exibir cinema de “uma forma menos convencional”, uma vez que diz recusar-se a alterar os seus filmes ou render-se a facilidades.

“Como o cinema mudou muito e queremos que os nossos filmes sejam vistos, temos de fazer alguma coisa por eles”, defendeu o autor, que espera dar continuidade a estes Cruzamentos Cinematográficos já em março, trazendo a Moçambique e no mesmo conceito filmes de outros cinco realizadores e por ele produzidos.

Como há matéria-prima disponível, o objetivo é levar este projeto a outros lugares, a começar por Portugal, havendo já o desejo de o replicar em Angola, Goa e Brasil, neste caso cruzando obras de autores portugueses e brasileiros.

“É uma nova forma de exibição, forçando um pouco o mercado que nada faz por nós, porque nem na praça estamos, nem na rua!”, alertou Rui Simões, abrindo caminho para novos mundos antes de ser “riscado do mapa”.