O Conselho de Administração do Banif demarca-se, numa carta enviada aos colaboradores, da solução encontrada de venda do banco ao Santander, alegando que “não foi ouvido nem incluído nas negociações” desenvolvidas pelas autoridades – uma queixa feita ontem também pela Associação Portuguesa de Bancos.

“A opção que agora foi encontrada pelas autoridades não é a solução deste Conselho de Administração, que não foi ouvido nesta decisão, nem incluído nas negociações que a concretizaram“, lê-se na carta do Banif a que a Lusa teve hoje acesso.

Na missiva, com data de domingo, o Conselho de Administração, que agora cessa funções, salienta que a venda do Banif encerra “um ciclo de vários anos de luta pela sobrevivência do banco, enquanto entidade prestadora de serviços bancários universais, autónoma e independente”.

O Conselho de Administração lamenta “profundamente” que “todos os esforços desenvolvidos não tenham sido suficientes” para dotar o Banif de uma “estrutura acionista estável, com um investidor de referência apto a aportar os capitais de que o banco necessitaria para prosseguir a estratégia de negócio delineada, vendendo a posição do Estado português numa operação de mercado, com criação de valor para os seus acionistas e clientes”.

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“Estamos todavia seguros de que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para alcançar tais objetivos e que tal só não foi possível por circunstâncias que não puderam ser previstas”, acrescenta o documento, que termina com um agradecimento a todos os colaboradores pelo “inexcedível esforço e dedicação”.

O Governo e o Banco de Portugal optaram pela venda do Banif ao Banco Santander Totta, por um valor de 150 milhões de euros, no âmbito da medida de resolução aplicada ao banco cuja maioria do capital pertencia ao Estado português, de forma a impedir a sua liquidação.

A operação “envolve um apoio público estimado em 2.255 milhões de euros, que visam cobrir contingências futuras, dos quais 489 milhões de euros pelo Fundo de Resolução e 1.766 milhões diretamente do Estado”, disse o banco central, garantindo que esta solução “é a que melhor protege a estabilidade do sistema financeiro português”.

No domingo à noite, em comunicado, o supervisor bancário divulgou a operação, explicando que a mesma foi tomada face às “imposições das instituições europeias”, bem como devido à “inviabilização da venda voluntária do Banif”.

O ministro das Finanças, Mário Centeno, informou o Banco de Portugal (BdP) na quarta-feira que os desenvolvimentos no processo de venda do Banif indicavam que, caso este falhasse, a resolução era a única alternativa viável, segundo documento oficial.

“Em 16 de dezembro de 2015, o ministro das Finanças comunicou ao Banco de Portugal que, perante a sucessão de circunstâncias e desenvolvimentos havidos no processo de alienação voluntária, designadamente perante a incapacidade de construir um cenário de viabilidade a médio prazo para o Banif que fosse aceite pela Comissão Europeia, não parecia restar outra alternativa que não passasse pela resolução do Banif num contexto em que soçobrasse a solução de alienação voluntária”, lê-se num documento disponibilizado na segunda-feira pelo supervisor bancário.

O Banco de Portugal publicou as deliberações do Conselho de Administração relativas à resolução do Banif para “fins de conhecimento público” e é num desses documentos – relativo a uma reunião extraordinária da administração da entidade realizada a 19 de dezembro, sábado, na véspera do anúncio público da resolução – que se encontra esta informação.