Sem dramas. É assim que Marcelo Rebelo de Sousa pretende agir caso seja eleito Presidente nas eleições de 24 janeiro, deixando também a ideia de que tentará, de forma “discreta”, abrir caminho a “consensos de regime” que, “quanto mais amplos forem, melhor”.
Numa entrevista divulgada na edição de domingo do jornal Público, o candidato apoiado pelo PSD e CDS-PP declara a sua disponibilidade para dialogar com o Governo de António Costa, mas deixa entender que se aproximará tanto quanto for solicitado. “A minha predisposição é esta: ajudar o mais possível o desempenho de funções pelo Governo. Se o primeiro-ministro entende que é útil, muito bem, se não entende que seja útil, muito mal.”
Marcelo Rebelo de Sousa deixa claro que pretende ter um papel presente junto do Governo, com o qual estará pronto para dialogar a qualquer altura. “Como é óbvio, e já aconteceu com outros presidentes, os contactos não ficam apenas para a quinta-feira. Se houver um problema ao sábado, ao domingo, à segunda, à terça ou à quarta, tem de ser tratado. Quanto maior for a proximidade no tratamento das questões, como as mais urgentes, melhor para a eficácia da atividade governativa.”
Estas reuniões para lá de quinta-feira, defende, deverão ser feitas de forma discreta — uma referência que vai buscar aos tempos em que Jorge Sampaio estava em Belém e António Guterres era primeiro-ministro. E, claro, o próprio Marcelo Rebelo de Sousa na liderança do maior partido da oposição. Fala desses tempos como “um período difícil”, em que agiu “um bocadinho [contra] os barões” do PSD e que “implicou um contato muito próximo por canais muito variados”. “Mas era uma relação entre líder da oposição e primeiro-ministro ou Governo.”
Terá, então, “um contacto permanente e descomplexado”, com Governo e partidos. “Isso é preciso que fique claro desde o início. Se não, às tantas, fica a contabilidade: quantas vezes falou com o líder A, falou com o líder B ou o líder C.”
Conselho de Estado deixará de se reunir só “em momentos dramáticos”
Também o Conselho de Estado deverá reunir com uma regularidade fixa, a um ritmo de “quatro vezes por ano” que poderá futuramente ser revisto. O objetivo será o de normalizar este órgão consultivo: “Se for eleito Presidente, a minha ideia é mesmo desdramatizar, tornando normal o funcionamento do Conselho de Estado. Se só se reúne em momentos dramáticos — como o de um Orçamento do Estado cuja votação é um imponderável –, é muito difícil que não seja dramático”.
Em relação ao atual Governo do PS, viabilizado pelos votos no parlamento do Bloco de Esquerda, da CDU e também do PAN, Marcelo Rebelo de Sousa fixa como objetivo estratégico “a manuntenção da base política de apoio para que o Governo dure” — mesmo que para isso tenha de se virar, como já aconteceu com a resolução do Banif, à direita. “Isso é uma realidade que provavelmente vai ser construída todos os dias através de palataformas consecutivas de entendimento entre o partido do Governo e os que o apoiam no Parlamento, e, por outro lado, consensos de regime com a oposição, supondo que ela permanece quase como coligação.”
Mais rua, menos rua, mais Passos, menos Passos
Quanto à campanha, que se inicia oficialmente a 10 de janeiro e decorrerá até dia 22, o candidato da direita disse que objetivo será “gastar o mínimo possível e manter o máximo de contatos com instituições sociais e o máximo de contatos pessoais inorgânicos”. “Mais rua, menos rua, depende da chuva.”
Incerta como a meteorologia é ainda a presença de Paulo Portas e de Pedro Passos Coelho na campanha do candidato que escolheram apoiar para as eleições de 23 de janeiro. Para já, ainda não está nada agendado. “Só depois de eu acabar de definir a volta é que verei se faz sentido contar com a presença de dirigentes partidários”, respondeu, reiterando que a sua candidatura é independente e que só quando ela já estava lançada é que os partidos decidiram apoiá-la.
Porém, Marelo Rebelo de Sousa deixou entender que, conforme as coisas estão, não conta com a presença de Passos Coelho na sua campanha. Depois de dizer que não tem falado com o líder do PSD (“confesso que não tem sido possível, tão ocupado tenho andado”), o candidato a Belém deixa uma interpretação das palavras do ex-primeiro-ministro que, em janeiro de 2014, disse que o partido não devia apoiar para as presidenciais um “catavento de opiniões erráticas”.
Destas palavras, Marcelo Rebelo de Sousa retira um desejo de distanciamento de Passos Coelho, ou, por outro lado, qualquer convite ao ex-primeiro-ministro: “Quando disse que, por ele, não fazia questão de participar numa campanha que é independente, deve ter querido dizer que preferia manter-se distanciado da campanha presidencial”.