António Costa não irá antecipar o regresso de Cabo Verde, previsto para quarta-feira à noite e, assim, não estará presente no funeral do histórico socialista, Almeida Santos, que se realiza pelas 14h.
O primeiro-ministro manifestou esta terça-feira profunda tristeza pela morte do presidente honorário do PS, que considerou um dos grandes legisladores da construção do Estado de Direito democrático e um dos obreiros da descolonização. António Costa, também secretário-geral do PS, falava aos jornalistas à chegada à capital de Cabo Verde, Praia, logo após tomar conhecimento da morte do antigo presidente da Assembleia da República e ministro de Estado do Governo liderado por Mário Soares (1983/1985).
“Estou perante a perda de uma grande amigo, de um camarada, alguém com uma extraordinária vitalidade. Ainda no domingo todos o pudemos ver a discursar no apoio à candidatura presidencial de Maria de Belém”, começou por declarar o primeiro-ministro.
António Costa caracterizou depois António de Almeida Santos como “um homem extraordinário, um dos grandes legisladores que construiu o Estado de Direito democrático após o 25 de Abril de 1974, um dos obreiros da descolonização e um homem que ao longo de toda a sua vida pública – como deputado, como membro do Governo, presidente da Assembleia da República, ou presidente do PS – deu sempre tudo do melhor que sabia e tinha ainda tanto para dar à democracia e às ideias em que acreditava”.
“É com enorme tristeza que soube do seu falecimento. António Almeida Santos era das pessoas que nos levava a acreditar que havia vida eterna na terra. Era um miúdo quando comecei a ouvir Almeida Santos a falar na televisão e fez parte do meu crescimento e de toda a minha formação. É com profunda tristeza que o vejo partir”, acentuou o líder do executivo.
O primeiro-ministro enviou depois “um abraço a todos os socialistas, que estão neste momento a sofrer com muita pena, mas também à sua mulher, filhos e netos”. “É uma amizade que eternamente manteremos com António de Almeida Santos”, acrescentou.
António Guterres: “Uma pessoa absolutamente extraordinária, como é difícil encontrar”
O antigo primeiro-ministro António Guterres classificou de “enorme perda” a morte de Almeida Santos, um “homem bom, inteligentíssimo”, que “estava sempre a ajudar”.
“É uma dor muito grande vê-lo partir”, admitiu o ex-alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), à entrada para a Basílica da Estrela, em Lisboa, onde o corpo do ex-presidente da Assembleia da República se encontra em câmara ardente.
Guterres recordou Almeida Santos como “uma pessoa absolutamente extraordinária, como é difícil encontrar”, e definiu-o como “um amigo” sempre “pronto para ajudar”.
“Sempre foi um amigo para ajudar, sempre foi uma pessoa extraordinária. Ajudava toda a gente, os amigos e até alguns antigos inimigos, gente que o tinha perseguido em Moçambique e que ele, mais tarde, veio a ajudar aqui, quando foi ministro”, lembrou.
Passos Coelho: “Ficamos mais pobres”
O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, recordou Almeida Santos como “um político de grande estatura”, que “deixou uma impressão digital muito específica na construção do sistema democrático” em Portugal.
“Este desaparecimento foi um choque”, sublinhou o líder social-democrata, também à entrada para a Basílica da Estrela, em Lisboa.
O líder social-democrata classificou Almeida Santos como “um homem de grande humanismo”, com “uma visão aberta do mundo”, que “deixou muitas lições para serem aproveitadas pelas gerações mais novas”.
“Ficamos mais pobres”, salientou o ex-primeiro-ministro, depois de recordar a obra escrita de “um homem de grande inteligência”, que está “patente em todo o legado” que deixou.
Mário Soares “profundamente triste” pela morte do “amigo”
Também antigo Presidente da República Mário Soares lamentou esta terça-feira de manhã a morte do “amigo”. “Mário Soares está profundamente triste com a morte do seu amigo Almeida Santos”, adianta uma curta mensagem enviada à agência Lusa por fonte próxima do antigo chefe de Estado e fundador do Partido Socialista.
O ex-presidente da Assembleia da República e do PS morreu na segunda-feira em sua casa, em Oeiras, com 89 anos, pouco antes da meia-noite, depois de se ter sentido mal após o jantar.
Cavaco Silva: Almeida Santos foi um “um dos grandes obreiros da democracia”
“Ao tomar conhecimento do falecimento do dr. António de Almeida Santos, apresento à família enlutada as minhas mais sentidas condolências”, lê-se no site da Presidência da República. Cavaco Silva recorda Almeida Santos como um “homem de causas, causídico da liberdade”, distinguindo-se “pelas suas qualidades como jurista, sendo autor de vários diplomas estruturantes do nosso regime democrático”. “Manteve-se sempre fiel ao ideário e aos princípios que marcaram a sua trajetória de vida, na qual exerceu as mais altas funções do Estado, com destaque para a Presidência da Assembleia da República”, adianta.
O Presidente afirmou ainda que Almeida Santos foi “um dos grandes obreiros” do sistema democrático português e endereçou o “mais profundo sentimento de pesar” à família.
Ferro Rodrigues lembra “o grande legislador da democracia”
O presidente da Assembleia da República lembra Almeida Santos como “o grande legislador da democracia”. “Lutou pelas liberdades, antes e depois do 25 de Abril”, destacou Ferro, recordando os vários cargos de serviço “à causa pública”. Foi ainda, segundo este socialista, um “grande orador e escritor, que deixou a sua impressão digital em muitas e importantes leis da República”. “Até ao fim e como sempre esteve empenhado nas causas da cidadania”, destacou, considerando Almeida Santos “um dos grandes estadistas destes 41 anos de democracia”.
Sampaio enaltece “pilar sólido”
O antigo Presidente da República Jorge Sampaio afirmou que António de Almeida Santos “foi um pilar sólido” do Partido Socialista e “é indissociável” da democracia portuguesa. “Almeida Santos marcou, como poucos, a vida política portuguesa. Foi um pilar sólido, não só do PS (Partido Socialista), mas da nossa democracia, pela sua brilhante inteligência; pela sua capacidade de análise e visão estratégica; pela sua palavra certa; pela habilidade em esvaziar conflitos e gerar consensos, agregar pessoas e também de criar afectos”, de acordo com um comunicado de Jorge Sampaio enviado à agência Lusa. O ex-chefe de Estado português expressou ainda tristeza “pela notícia abrupta e inesperada da morte” do presidente honorário do PS e sublinhou as qualidades de Almeida Santos: “um jurista notável, um escritor de um talento raro, um orador na melhor tradição dos tribunos romanos, um leitor atento e quase insaciável”.
“Almeida Santos é indissociável da história contemporânea e democrática de Portugal. Esteve sempre presente, mesmo se muitas vezes invisível (…). E nunca desistiu de tentar fazer pontes em nome de valores em que acreditava, de uma visão do bem comum e de causas justas”, acrescenta Jorge Sampaio. O antigo Presidente disse sentir-se “privilegiado” pela oportunidade que teve, ao longo dos anos, “de ter podido aprender com Almeida Santos a arte da política e de olhar para o mundo com humanidade, sabedoria e também sentido de humor”.
José Sócrates fala do “legislador da liberdade”
O ex-primeiro-ministro José Sócrates garante que quem quer tenha conhecido António Almeida Santos está, agora, triste: “Todos aqueles que conheceram o Almeida Santos estão certamente mergulhados num grande vazio e numa grande tristeza, porque a sua morte causa-nos estes sentimentos, esta vontade de nos recolhermos em silêncio”.
A morte do presidente honorário do PS foi, para Sócrates, a perda “de qualquer coisa de raro”, cita a Lusa. O ex-primeiro-ministro acrescenta, ainda que Almeida Santos foi “talvez o legislador da liberdade” e que “foi o político que mais influenciou a ordem jurídica constitucional da liberdade e da democracia no pós-Revolução do 25 de abril”.
Sócrates destacou, também, as características pessoais de Almeida Santos: “Era um homem de uma grande generosidade, um homem muito afável, um homem carinhoso, um homem que levava a amizade a sério”.
Henrique Neto salienta o papel de “combate à ditadura”
Para o candidato presidenciável, e militante socialista, Almeida Santos “deve ser recordado pelo seu papel no combate à ditadura, enquanto membro da oposição democrática, e como eminente legislador no período democrático”. Num comunicado enviado à imprensa, a candidatura de Henrique Neto também refere o contributo de Almeida Santos para a legislação portuguesa, após o fim da ditadura do Estado Novo: “A sua influência decisiva em muita da legislação produzida em Portugal desde o 25 de abril, muita dela ainda hoje em vigor”.
Alberto João Jardim destaca as intervenções sobre a Madeira
Também o ex-presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, reagiu à morte do histórico socialista, salientando as “intervenções muito positivas [de Almeida Santos], como no caso da zona franca e no estabelecimento da normalidade de relações institucionais entre a República e a região autónoma”.
Na perspetiva de Alberto João Jardim, Almeida Santos preocupava-se “com a unidade nacional, mas aceitando o debate à volta do alargamento constitucional das autonomias políticas insulares”. Além disso, refere, também, um político da “maior categoria intelectual e cívica”.
MPLA lamenta a perda de “militante ativo na luta anticolonial”
Nem só os políticos portugueses demonstram o seu pesar pela morte de António Almeida Santas. O MPLA, partido no poder em Angola, destaca a sua “profunda consternação” pela partida do político que considera um “militante ativo na luta anticolonial”. A mensagem, à qual Lusa teve acesso, foi enviada ao primeiro-ministro, António Costa.
Nessa mensagem, é ainda dito que Almeida Santos “contribuiu, de forma decisiva, no processo de descolonização de Angola, que conduziu à proclamação da independência nacional e, posteriormente, no processo de estabelecimento de relações entre Angola e Portugal, assentes no respeito mútuo e na reciprocidade de vantagens”.
O partido liderado por José Eduardo dos Santos refere ainda que Portugal perdeu “um dos percursores da democracia”.
Joaquim Chissano recorda homem com o coração dividido
O antigo Presidente de Moçambique Joaquim Chissano recorda Almeida Santos como um homem cujo coração se manteve dividido entre Portugal e Moçambique, onde o político português viveu mais de duas décadas.
“Almeida Santos, que pertenceu ao Grupo dos Democratas, escolheu permanecer como português, mas sempre com uma grande parte do seu coração em Moçambique”, declarou Chissano ao programa Repórter África, da RTP, numa reação à morte do presidente honorário do PS. Destacando “o papel que ele jogou nos últimos anos do colonialismo” em Moçambique, Joaquim Chissano afirmou que Almeida Santos “continuou a colaborar no processo de construção do país”.
Presidente de São Tomé lembra “anticolonialista convicto”
O Presidente Manuel Pinto da Costa e o primeiro-ministro Patrice Trovoada, de São Tomé e Príncipe, lamentaram o falecimento de Almeida Santos, antigo presidente da assembleia da República portuguesa.
Em mensagem enviada ao seu homólogo Aníbal Cavaco Silva, o chefe de Estado são-tomense considera Almeida Santos “um anticolonialista convicto que viu o seu destino ligado a resistência à ditadura, descolonização e edificação do Estado Democrático de Direito”.
“Transmitiu sempre a sua densa e admirável cultura humanístico-jurídica que fez do mesmo um incontornável legislador da liberdade e, acima de tudo, um Homem-Grande na verdadeira aceção africana do termo”, diz Pinto da Costa.
O estadista são-tomense diz ainda na missiva que “os são-tomenses têm para com Almeida Santos uma enorme divida de gratidão pelo seu desempenho nas negociações do Acordo de Argel, etapa derradeira no processo que conduziu a independência nacional”.
Por seu lado, o primeiro-ministro Patrice Trovoada diz ser “com grande pesar” que recebeu a notícia da morte de Almeida Santos.
“Um homem extraordinário, um político de referência, um dos grandes legisladores que construiu o Estado de Direito democrático após o 25 de abril de 1974 em Portugal”, considera Patrice Trovoada.
O governante são-tomense tem Almeida Santos como “uma pessoa de uma vasta sabedoria, um combatente pela liberdade dos povos da língua portuguesa e um político que granjeou em toda a CPLP uma grande simpatia”.