O Presidente da República distinguiu oito ex-ministros pelo “espírito patriótico e de serviço” que demonstraram no exercício das funções, sublinhando que só “um elevado amor à camisola” leva alguns a aceitarem governar.

“Se a ingratidão no serviço público é muita vez suscitada, a República deve ter gestos de gratidão. É por isso que estamos aqui, as pessoas que vão ser agraciadas vão sê-lo sem que isso signifique qualquer juízo de valor em relação às políticas que executaram”, afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, na cerimónia de condecoração dos ex-ministros Vítor Gaspar, Bagão Felix, Álvaro Santos Pereira, Luís Campos e Cunha, Paulo Macedo, Maria de Lurdes Rodrigues, Nuno Crato e Rui Pereira.

As condecorações, disse Cavaco Silva, são atribuídas pelo “espírito patriótico e de serviço que demonstraram no exercício das suas funções”, porque a República deve reconhecer publicamente aqueles que “deram o melhor de si próprio para ajudar nas suas convicções a construir um Portugal melhor”.

O critério essencial de escolha para a imposição das insígnias, explicou o chefe de Estado, foi estarem atualmente de fora da vida política ativa, depois de terem servido o país em diferentes Governos e momentos históricos.

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“A função de ministro é talvez uma das mais ingratas da vida política portuguesa, sei como em diferentes ocasiões tem sido difícil convencer pessoas qualificadas para exercer as funções de ministro. Só um elevado sentido de serviço à causa pública, um grande amor à camisola leva alguns qualificados a aceitarem ser ministro”, frisou Cavaco Silva, sublinhando que os agraciados “não precisavam nada da vida política para se afirmarem nas suas vidas profissionais”, nem “ganharam nada materialmente que não pudessem ganhar no exercício das suas funções profissionais”.

“Ganharam apenas talvez a satisfação de servir a causa pública, de ter dedicado o seu melhor a Portugal”, disse.

Falando em nome dos oito ex-ministros, Bagão Félix – que exerceu funções de ministro nos Governos de Durão Barroso e Pedro Santana Lopes – apontou os aspetos que todos têm em comum.

“O primeiro ponto comum que temos é que somos todos diferentes, nos projetos, nos trajetos da vida, nas formações, na maneira de pensar, de agir, de acreditar e até de sonhar. Um segundo ponto que temos em comum tem a ver com os propósitos e com o sentimento do modo como exercemos os nossos cargos políticos e públicos que eu poderia sintetizar numa só palavra: Portugal”, declarou.

Na sua curta intervenção, Bagão Félix falou ainda do presente, falando em tempos difíceis, desafiantes, exigentes, de alguma crispação e alguma desarmonia entre direitos e deveres e “até de alguma escassez de exemplaridade”.

“Nós observamos e agradecemos esta condecoração numa perspetiva de que a política verdadeiramente se engrandece através da diferença, diferença de ideias e de ideais em nome de Portugal”, disse Bagão Félix.

A assistir à cerimónia estiveram dezenas de convidados, entre os quais o ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho e a ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque, antigos ‘colegas’ de Governo de quatro dos homenageados: Vítor Gaspar, Álvaro Santos Pereira, Nuno Crato e Paulo Macedo.

Os outros três condecorados – Luís Campos e Cunha, Rui Pereira e Maria de Lurdes Rodrigues – foram ministros do Governo socialista de José Sócrates.