António Costa está em vista à Grécia onde teve, na manhã desta segunda-feira, um encontro com Alexis Tsipras. Os dois primeiros-ministros uniram-se nos apelos às instituições comunitárias para que revejam as políticas de austeridade, mas o português não quer “confrontação” com a União Europeia. “Faltam instrumentos comuns e eficazes para permitir o crescimento económico e a criação de emprego”, queixou-se Costa, depois de Tsipras ter atirado aos programas que “agravaram os problemas sociais”. O PM grego colocou ainda “esperança” na solução política portuguesa.
“Não é insistindo na aplicação de políticas austeridade, que não levaram a resultados nos países onde foram aplicadas, que conseguiremos remover os problemas do desemprego, da pobreza”. Para Costa, o caminho passa por “melhorar a competitividade das nossas empresas e economias. É neste quadro que Portugal e a Grécia podem e devem trabalhar em conjunto, fazendo-o não numa lógica de confrontação com a União Europeia, mas numa lógica construtiva”. Costa também foi comedido quanto à reestruturação da dívida, dizendo que Portugal está a tentar “encontrar respostas que sejam aceites no espírito construtivos da União Europeia”.
Costa fez mesmo uma analogia, para pedir uma nova estratégia europeia: “Baixou a febre mas a doença está lá. E temos de tratar a doença que é a enorme assimetria que existe nas economias na zona euro”. Ou na fórmula escolhida por Tsipras para dizer o mesmo: “Teremos de entender, a dada altura, que estes programas não podem ser aplicáveis e os resultados não são o que se esperava”.
Alexis Tsipras aproveitou ainda o momento para elogiar a solução governativa portuguesa, apoiada em forças de esquerda, declarando que o “sucesso” português em “sair destas medidas de austeridade abre também a porta à esperança” da Grécia.
Costa havia de ser confrontado, de seguida, com os desafios pós-troika, e registou que Portugal ” tem sido apontado como um exemplo de um país que cumpriu mais escrupulosamente. Ficámos muito contentes com esse reconhecimento por parte da União Europeia, mas não ignoramos que a execução não impediu que a dívida tivesse aumentado”. E voltou a comprometer-se com um Programa Nacional de Reformas [a apresentar até ao fim do mês em Bruxelas] apostado em “resolver problemas estruturais que condicionam o problema da economia portuguesa”.
Além de concordar com Tsipras na linha a seguir no plano europeu, Costa ainda apontou os mesmos riscos que o seu homólogo grego quanto à austeridade, referindo-se à “emergência de populismos e radicalismos” na Europa. Antes da conferência de imprensa, os dois primeiros-ministros assinaram uma declaração conjunta em que se declararam contra as políticas de austeridade que, consideram, estão a “deprimir as economias e dividir as sociedades”, consta no texto citado pela Lusa. No mesmo documento, os dois países comprometem-se a “cooperar para fazer com que a União Europeia dê os passos necessários para a efetivação de uma política migratória efetiva nas suas fronteiras externas”.
O tema dos refugiados foi outro dos que esteve na agenda dos dois responsáveis políticos, com Costa a dizer mesmo que “na Grécia cruzam-se duas das principais crises que atravessam hoje a Europa” e ate começou por falar da crise dos refugiados” que “sublinha a necessidade de a Europa ser mais pró-ativa na sua política externa. Também deve ser mais forte na partilha comum da vigilância da sua fronteira externa”. E declarou “empenho e disponibilidade de Portugal em colaborar ativamente em todas estas dimensões” para resolver um “problema de toda a União Europeia”. Ainda esta segunda-feira, o primeiro-ministro português vai visitar o campo de refugiados de Eleonas.