A operação “Matrioskas”, que levou esta manhã de terça-feira a PJ a fazer buscas nos estádios do Benfica, do Sporting e do Sporting de Braga, conta já com seis arguidos. O inquérito, que dura há mais de um ano, investiga crimes de branqueamento de capitais, fraude fiscal, associação criminosa e falsificação de documentos. Suspeita-se que a SAD de Leiria tenha sido usada para lavar dinheiro proveniente de uma organização criminosa.

As 22 equipas da PJ fizeram esta manhã de terça-feira 22 buscas a casas, empresas e estádios em Lisboa, Leiria e Braga. Segundo fonte da PJ ao Observador, os inspetores procuraram elementos de prova para uma investigação que se prolongava há quase dois anos. Depois das buscas, o empresário russo que preside à SAD da União Desportiva de Leiria, Alexander Tolstikov, foi constituído arguido, assim como o próprio clube, a SAD e três outros suspeitos ligados à SAD. À Lusa, a PJ admite que venham a ser constituídos mais arguidos.

As buscas, esclareceu a mesma fonte à PJ ao Observador, procuravam provas e nada tiveram a ver com o Benfica, o Sporting e o Sporting de Braga — apesar de decorrerem nas suas instalações. Entre as provas, estarão contratos de jogadores russos assinados entre o União de Leiria e o Sporting, o Benfica e o Sporting de Braga.

Fim das buscas. As provas

Depois do anúncio das buscas nos estádios de futebol, pelas 12h55, a PJ informou em comunicado que na “Operação Matrioska”, foi apreendido “material com relevante interesse probatório e subsequente constituição de pessoas individuais e coletivas como arguidas. Minutos depois, também em comunicado, a Procuradoria-Geral da República informava que “as buscas abrangem, designadamente, os estádios de futebol de Braga e Leiria, as SAD do União de Leiria, do Sporting Clube de Portugal e do Sport Lisboa e Benfica bem como residências particulares, empresas, veículos, escritórios de contabilidade e um escritório de advocacia“. Naquele momento ainda não havia notícia de suspeitos constituídos arguidos.

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Alexander Tolstikov

O empresário russo Alexander Tolstikov, presidente da SAD

O inquérito, titulado pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) através Departamento de Investigação Criminal da PJ de Leiria, foi aberto no início de 2015 e “investigam-se crimes de branqueamento, fraude fiscal, falsificação de documentos e associação criminosa por parte de cidadãos nacionais e estrangeiros, correlacionados com a atividade desportiva”, referem os comunicados.

Na operação estiveram envolvidas 22 equipas da Polícia Judiciária, bem como um magistrado do Ministério Público, um magistrado judicial e um representante da Ordem dos Advogados.

Um clube, duas SAD. E os russos

A entrada de capital russo no União de Leiria foi anunciada em julho de 2015, com a constituição de uma nova Sociedade Anónima Desportiva (SAD). Em nota divulgada pelo clube, a SAD dava conta de um capital social inicial de um milhão de euros: 40% da União Desportiva de Leiria e 60% da DS Investment LLP, empresa do grupo russo D-Sports.

O mesmo comunicado anunciava que o conselho de administração seria composto por cinco elementos: Alexander Tolstikov, como presidente da SAD, dois outros representantes da DS Investment e dois do clube, Rui Lisboa, então presidente, e Vítor Silva, da área financeira.

À agência Lusa, Rui Lisboa assumiu, na altura, ser “um casamento difícil”, porque “foi necessário negociar e salvaguardar muitas coisas”. O Observador contactou Rui Lisboa, que remeteu esclarecimentos para “mais tarde”.

O dirigente disse, em março de 2015, que a ideia de extinguir uma SAD e criar outra era a de poderem “regressar ao futebol profissional o mais rapidamente possível e dar ao clube a dimensão que já teve noutros tempos”. “Temos um parceiro que parece vir com vontade de trabalhar e que tem alguma experiência, além de conhecimentos internacionais em mercados que podem ser bastante úteis a Leiria”, disse Rui Lisboa.

A primeira SAD do União de Leiria tinha sido criada em 1999 e extinta em 2013 por decisão dos credores.

(artigo atualizado às 14h43)