Sem nunca cruzar o olhar com o ex-marido, Bárbara Guimarães voltou, esta sexta-feira, a tribunal para ler mais uma série de notícias sobre si e Manuel Maria Carrilho. Várias informações publicadas dando conta de episódios da relação dos dois constam como prova no processo de violência doméstica e de difamação. “Isto é tudo monstruoso”, acabou por desabafar perante a juíza. Enquanto chorava.
A terceira sessão de julgamento, que decorre no Campus de Justiça em Lisboa, foi mais uma vez marcada pela leitura de várias notícias publicadas em jornais e revistas e que dão conta de acusações diversas que o ex-ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, fez e que terão ferido a apresentadora de televisão. “É importante ler tudo o que está na acusação”, disse a certa altura o advogado de Bárbara, Pedro Reis, que faz questão que as dezenas de notícias sobre o casal sejam lidas, ouvidas e vistas na integra em tribunal.
Quando instada a comentar uma entrevista que deu à revista Flash, em 2012, e em que ela tecia fortes elogios a Manuel Maria Carrilho, Bárbara respondeu que isso fez parte de uma estratégia. “Declarações que fui proferindo cada vez com mais afinco”. Sentia uma grande “pressão psicológica” por parte do ex-marido. “Ele controlava todas as revistas, tudo o que dizia. Depois dizia que eu era estúpida e burrinha”. Carrilho, sentado mais atrás, ouvia e ia tirando notas a caneta numa folha de papel.
“Por receio do comportamento que ele tinha, exagerava nas declarações. (…) Quanto mais eu dissesse bem, era melhor para depois prestarmos uma declaração à imprensa em que nos íamos separar”, justificou. “Queria passar a imagem de bom pai e bom marido por causa dos meus filhos” para que ele aceitasse o divórcio.
Seguiu-se um texto secundário sobre a ex-mulher de Carrilho, funcionária da Gulbenkian, que afirma também ela ter sido vítima de violência domestica. Bárbara emocionou-se e chorou enquanto lia a descrição das agressões. A juíza interrompeu. “Compreendo a leitura das notícias, mas isto é sobre a Bárbara”. E ordenou que passasse à frente.
O tema seguinte: o silicone e o botox. Carrilho diz em várias notícias que o comportamento de Bárbara mudou quando chegou aos 40 anos, porque se sentia “velha”. Então submeteu-se a várias cirurgias estéticas. “Eu nunca pus botox e não sei se tenho que falar sobre a minha intimidade”.
A juíza respondeu que ela devia falar sobre tudo o que considerasse que serviria de prova. O advogado dela anuiu.
Seguiu-se uma acusação de alcoolismo, em que Carrilho declara que a mulher se enfiava na cozinha com as amigas a beber e nem o deixava entrar para cozinhar. “Não me lembro de ele cozinhar lá em casa, fez uma ou duas vezes um arroz de brócolos. Ele não suportava o cheiro da cozinha e dos cozinhados. Até mudámos de exaustor…”. E continuou com as justificações. “Isto não se diz, é monstruoso, um dia a minha filha vai ler isso”. E começou a chorar. Carrilho olhou para ela e, de seguida, para o chão. De repente ela parou de chorar e recordou o dia em que o pai foi internado por causa de uma bactéria — enquanto Carrilho o acusava de ser, também, dependente do álcool.
Chegou a vez da mãe. Das acusações contra a mãe que, alegadamente, não a defendeu em várias investidas do ex-padrasto. Bárbara despejou meia dúzia de elogios sobre ela. Subiu o tom de voz. E soluçou, nervosa. A juíza interrompeu outra vez. “Não se aflija, nos resolvemos isto tudo”
“Infelizmente lá mais para a frente voltaremos a isto tudo, sou titular do outro processo e cá continuaremos em pleno convívio. Isso é algo que vamos revisitar lá mais adiante”, responde a juíza.
Joana Ferrer foi também sorteada para julgar o processo de difamação que a mãe de Bárbara moveu contra o ex-ministro. “Fui uma feliz contemplada”, ironiza a juíza. “Houve um colega meu juiz, faço a esta confidencia a título de brincadeira, que respondeu: podes fazer um pedido no Conselho Superior de Magistratura para teres exclusividade no julgamento da pessoa em causa”, contou. Sá e Cunha, advogado de Carrilho, soltou um sorriso.
Mais umas notícias. Que Bárbara não conduzia em segurança e que isso preocupava Carrilho quando ela transportava os filhos. E que ele nem a deixava tocar no carro dele porque já sabia que era perigoso. “Parece que estou a suar por ter que estar a justificar, eu sempre conduzi os meus filhos com segurança”, disse a apresentadora de televisão.
“São 16h10”, respondeu a oficial de justiça à juíza. Hora de agendar uma próxima sessão e de terminar a sessão mais cedo. “Um despachinho acompanhado de um beijinho à Carlota” (a filha mais nova do casal), diz a juíza. E terminou a sessão mais cedo por haver uma festa na escola da criança e pela presença dos pais ser imprescindível.
Carrilho levantou-se e aproximou-se do único acesso por onde Bárbara se podia dirigir para abandonar a sala. Tentou desviar o olhar, enquanto mantinha uma postura austera. Ela não o olhou sequer. Contornou-o e abandonou a sala.
Advogado de Bárbara quis calar Carrilho
O advogado de Bárbara Guimarães pediu à juíza que repreendesse Manuel Maria Carrilho pelas declarações que ele prestou aos jornalistas, no final da sessão anterior, à porta do tribunal. Pedro Reis queria, ainda, que caso o ex-ministro não respeitasse uma ordem de silêncio, fosse afastado do julgamento.
No final da última sessão, Manuel Maria Carrilho disse aos jornalistas que tinham acabado de assistir a uma “longa série de patranhas”, referindo-se às declarações da ex-mulher Bárbara Guimarães em tribunal. O advogado Pedro Reis juntou cópias de jornais e revistas com as suas declarações e entregou à juíza. O arguido “tem como objetivo transportar este processo do local próprio, onde deve ser tratado, para a praça pública”, disse no requerimento, lembrando que o arguido recusou, para já, prestar declarações em tribunal.
Pedro Reis alegou que o “comportamento indecoroso” de Carrilho violou o artigo 324º do Código do Processo Penal, que estabelece os deveres de quem assiste à audiência. E que a juíza o devia advertir o ex-governante sobre “a censura desta conduta e a impossibilidade de a repetir, com todas as legais consequências”, como o afastamento do julgamento.
Já na sessão anterior, Pedro Reis tinha manifestado algum desagrado à juíza pelas constantes intervenções de Carrilho, sem autorização. Uma delas referente à festa da escola da filha do casal, marcada para o mesmo dia do julgamento.
O procurador do Ministério Público (MP) considerou que o artigo invocado pelo advogado não “tem por objeto as condutas que são relatadas na própria audiência de julgamento e, ao contrário do requerido, dizem respeito ao comportamento dos intervenientes processuais fora do julgamento”. “Será sempre difícil ao tribunal determinar o comportamento do arguido fora da sala de audiência,”, rematou.
A defesa de Carrilho concordou com o MP e passou a palavra à juíza Joana Ferrer Antunes. A juiza recusou o pedido do advogado da apresentadora de televisão, por considerar que a norma invocada “não tem aqui qualquer aplicação”.
Juíza queria abrir sessões às televisões, MP rejeitou
Na sessão da última sexta-feira, dia 13 de maio, a juíza perguntou a todas as partes do processo se concordavam com a presença de câmaras de televisão no julgamento em que Carrilho é acusado de violência domestica e difamação pela ex-mulher, Bárbara Guimarães. Hoje, veio a resposta. Ainda antes de começar a interrogar alegada vítima, Joana Ferrer disse ter “más notícias”.
A procuradora do Ministério Público que tem seguido o processo em julgamento – e que nesta sessão está a ser substituída por um colega – recusou que a sessão fosse seguida por televisões, mantendo-se como até aqui: com os jornalistas a assistirem. “Não havendo consenso, não poderei permitir”, justificou a juíza. O advogado de Bárbara Guimarães também não se mostrou favorável a esta publicidade, enquanto a defesa de Carrilho aceitava que as imagens das sessões fossem difundidas pela televisão, desde que salvaguardadas aquelas em que o filho do casal deverá ser chamado a falar.