Noite de sábado, 21 de maio. Uma rapariga de 16 anos foi visitar o namorado de há três anos a casa. Estavam sozinhos, a namorar. A jovem acordou no dia seguinte sob o efeito de drogas, confusa, nua e com ferimentos e sangue em várias partes do corpo. Estava numa outra casa. Tinha sido violada por 33 homens.
O crime aconteceu numa favela na zona oeste do Rio de Janeiro e está a indignar o Brasil, depois de alguns dos homens terem partilhado imagens da violação na internet, com a adolescente nua a ser abusada. O vídeo foi entretanto retirado e restam apenas os nomes das contas de Twitter de alguns deles.
A jovem acordou no domingo de manhã rodeada de mais de 30 homens armados. Foi para casa pelo próprio pé, de táxi. Na terça-feira, dia 24, recebeu a informação de que circulava na internet um vídeo com ela a ser abusada. São 40 segundos de uma jovem no chão, quase inconsciente, com risos e vozes masculinas em fundo, diz a BBC. Era este o título a publicação: “Espremendo a mulher e fazendo um túnel para mais de 30”.
Foram entretanto identificados quatro suspeitos, o suposto namorado, os que postaram o vídeo na internet e ainda um outro que pousou numa selfie ao lado da jovem já depois do crime. Mas ainda não foram detidos. Numa conferência de imprensa dada esta tarde de sexta-feira, o chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Fernando Veloso, afirmou que estavam perante “indícios veementes” de violação mas que ainda não tinham reunido as provas suficientes para pedir a prisão dos quatro homens identificados. Segundo o chefe da Polícia, só o exame físico ao corpo funcionará como prova para confirmar a violação.
“Não me dói o corpo, dói-me a alma”
Esta sexta-feira, a jovem que foi vítima dos abusos, e cuja identidade está a ser preservada, usou o Facebook para agradecer o apoio que tem recebido depois de o caso se ter tornado público e para dizer que a “dor” que sente é maior na “alma”.
“Todas podemos um dia passar por isso… Não, não dói o útero e sim a alma por existirem pessoas cruéis sendo impunes!! Obrigada ao apoio”, escreveu.
Segundo as informações que circulam nas redes e na imprensa, Juninho terá sido um dos violadores, juntamente com Michel Brasil e outro utilizador de nome Riquinho. As contas nas redes sociais já foram apagadas. A publicação dos elementos na internet motivou 800 denúncias à polícia, com várias pessoas a entregarem print screens do vídeo.
https://twitter.com/amandainhell/status/735460008813592577
https://twitter.com/brronagh/status/735466214579961856
A rapariga prestou entretanto um depoimento à polícia, a que a revista Veja teve acesso. Nele, a jovem conta que sente “fortes dores” dentro do corpo. “Como se fosse no útero”. O nome dela não foi divulgado para proteger a identidade e a rapariga encontra-se em casa até que o processo comece a ser resolvido. A Polícia Civil já identificou também dois homens que publicaram as imagens da adolescente na internet, mas optaram por também não divulgar nomes para “não atrapalhar as investigações”, esclarece a Globo.
Este tweet contém excertos de uma publicação de Facebook que está a ser atribuída à vítima, mas ainda não há confirmação absoluta dessa informação.
https://twitter.com/clexaways/status/736140489951436800
O crime aconteceu numa zona pobre do Rio de Janeiro. Não se sabe nada certo sobre o paradeiro do namorado. Há relatos de que o rapaz também participou na violação, mas não está confirmado. Há também quem diga que o rapaz era traficante de droga. E, para algumas pessoas, esse facto “justifica” o abuso sexual:
https://twitter.com/brronagh/status/735477102334627840
Houve quem arranjasse explicações para o ato, mas também houve quem se manifestasse contra a “cultura de violação”. A campanha #EstuproNuncaMais invadiu o Twitter.
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal do Rio de Janeiro (CDDH) afirmou que exige rapidez na identificação dos responsáveis e posterior punição. “Trata-se de um ato de barbárie e covardia”, afirmou o vereador Jefferson Moura, presidente da comissão, escreve a Globo. De acordo com o Relatório Anual brasileiro de Segurança Pública, o Brasil regista uma violação a cada 11 minutos.
https://twitter.com/itsfeeIing/status/735476303814594561
https://twitter.com/heysophi_/status/736177946394820608
Já há um símbolo em homenagem ao crime cometido contra a jovem de 16 anos: