Quando a poesia se apresenta como uma arte da imagem, a que tipo de imagens faz apelo? E como? Estas perguntas são um dos pontos de partida da segunda edição das jornadas Carmina que hoje se iniciam em Famalicão. Promovidas pela Fundação Cupertino de Miranda e apoiadas pela câmara local, estes encontros decorrem entre a noite de hoje (com a exibição do filme A mão inteligente” (41’), 2002, de Luís Alves de Matos) e sábado, dia 18. Nelas participarão poetas, artistas plásticos, criadores audiovisuais, críticos e ensaístas, que participarão em debates e leituras de poesia.

Nestes encontros debater-se-ão temas como o papel das revistas de poesia, já que nestas existem condições privilegiadas para o diálogo entre a escrita e o desenho, a ilustração e a experimentação gráfica. Significativamente haverá uma homenagem a Ana Hatherly, uma autora que explorou de forma original a relação entre texto e imagem, e entre escrita e gestualidade, alguém que era ao mesmo tempo escritora e artista visual e nos deixou há menos de um ano, em agosto de 2015. E que também refletia sobre todas estas relações, como em Tisanas, onde notou que “a obra de arte é um acontecimento que consome ao ser consumida” ou que “o escritor foi sempre um funâmbulo cego e o leitor é apenas um espectador de passagem”.

Um outro momento forte das jornadas Carmina 2 será o lançamento de uma antologia de poesia. Se há dois anos foram José Tolentino Mendonça e Pedro Mexia que selecionaram poesia portuguesa do século XX que interrogava Deus, este ano a organização da antologia coube a Joana Matos Frias e reúne poemas de autores portugueses dos século XX e XXI. Em Passagens: Poesia, Artes Plásticas podemos encontrar as palavras de 60 autores dedicadas à emoção e à perceção das artes plásticas, com destaque para a pintura.

É grande a variedade e maior a riqueza dos textos reunidos, podendo o leitor descobrir uma Manhã no Louvre, de Pedro Tamen, ou o Centro Georges Pompidou de Alexandre O’Neill, ou Sobre um desenho de Miguel Ângelo de Sophia de Mello Breuner Andresen, ou “O Balouço”, de Fragonard de Jorge de Sena, ou ainda O Grito: variações de Ana Luísa Amaral, para citar apenas alguns exemplos.

Tudo, claro, para além de textos de Ana Hatherly, como aquele com que se encerra antologia: “O artista, o poeta, o escritor, os que perguntam: todos são caçadores de simulacros, incansáveis calculadores de improbabilidades. Pombas ou abutres, frágeis canários ou escondidos melros, raspam, rasgam, rompem, sempre roendo as suas próprias garras. O invisível que há neles então emerge”.

Um bom mote para esta Carmina 2, de 16 a 18 de junho em Famalicão. O programa completo pode ser encontrado aqui.

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