O relógio ficou parado nas 13h54. O edifício já não se aguenta sem a ajuda de andaimes. As bilheteiras estão abandonadas. Os painéis de azulejos desapareceram. As pessoas também. O triste destino a que esteve votada a Estação Sul e Sueste, junto à Praça do Comércio, em Lisboa, parece estar prestes a mudar. A antiga estação fluvial passou esta quarta-feira para as mãos da câmara municipal e a intenção é transformá-la num terminal marítimo-turístico, de onde saiam os barcos para passeios no Tejo.

Em vários anos, esta é a enésima ideia apresentada para aquele espaço, classificado como monumento de interesse público desde 2012. Depois de até se ter sugerido que ali ficasse instalada uma Loja do Cidadão, a estação deverá, assim, regressar à sua função original, a de embarque e desembarque de passageiros que usam o Tejo como via de transporte. Desta vez, porém, os destinatários são os turistas.

O plano da câmara, elaborado em conjunto com a Associação de Turismo de Lisboa (ATL), prevê a reabilitação do edifício modernista e de dois pontões de embarque destinados a barcos da dimensão de um cacilheiro. Prevê igualmente a criação de um pontão mais pequeno, para embarcações tradicionais e à vela, a criação de dois restaurantes e esplanadas, bem como o arranjo do espaço público exterior — o que inclui a reposição do chamado muro das namoradeiras e a reabilitação na zona ao lado do Cais das Colunas.

Um programa ambicioso que, para o presidente da autarquia, demonstra a “importância estratégica deste investimento”. Depois de assinar o protocolo de cedência do edifício entre o Estado e o município, Fernando Medina disse que “este projeto era o que faltava, é a última peça no amplo programa de requalificação da frente ribeirinha”, começada há quase dez anos pelo executivo de António Costa, lembrou o autarca.

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As obras de recuperação do imóvel terão a assinatura da arquiteta Ana Costa, neta de Cottinelli Telmo, que foi o autor do projeto original, em 1931. Um anterior plano para a estação, também da autoria de Ana Costa, tinha um custo previsto de 11 milhões de euros. Mas, agora, a ATL estima gastar apenas sete milhões, já com o projeto de espaço público incluído. Este é assinado por Bruno Soares, que foi responsável pelo novo desenho da Praça do Comércio e que já em 2010 tinha um projeto para aquele local.

Ao apresentar os traços gerais dos trabalhos previstos, o diretor-geral da ATL afirmou que a requalificação da zona ribeirinha de Lisboa é “uma intervenção que tem sido espetacular” e que este passo visa “criar boas condições operacionais e financeiras” para dar fôlego a uma atividade “ainda muito subaproveitada”: a exploração das potencialidades turísticas do Tejo. Pouco depois, Fernando Medina enfatizou esta ideia, ao dizer que “um dos principais ativos” de Lisboa, o rio, “vai ser posto ao serviço da cidade”. Não há um prazo previsto para a reabertura da estação, mas os responsáveis mostraram o desejo de a ter pronta no fim de 2017.

A representar o Estado na assinatura do protocolo estiveram os ministros Mário Centeno e Pedro Marques. Num breve discurso, o ministro das Finanças recorreu a memórias da infância para elogiar o acordo agora alcançado. A Estação Sul e Sueste era “a minha porta de entrada em Lisboa vindo do sul, onde pertenço”, disse Centeno, que depois disse que uma das prioridades do Governo passa por disponibilizar os edifícios estatais à “fruição do público”. “Lisboa vai amanhecer muito mais lisboeta quando a obra estiver concluída”, afirmou o ministro.