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Habitantes de Veneza estão a perder a paciência com o excesso de turistas

Este artigo tem mais de 5 anos

As manifestações contra a massificação do turismo em Veneza estão a subir de tom. A UNESCO alerta para os sérios riscos que a cidade enfrenta nos próximos anos. Alguns são semelhantes aos de Lisboa.

Os venezianos estão particularmente fartos dos grandes navios de cruzeiro que "despejam" milhares de turistas na cidade todos os dias. A UNESCO alerta também para os riscos ambientais da passagem destes navios nos canais
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Os venezianos estão particularmente fartos dos grandes navios de cruzeiro que "despejam" milhares de turistas na cidade todos os dias. A UNESCO alerta também para os riscos ambientais da passagem destes navios nos canais

ANDREA PATTARO/AFP/Getty Images

Os venezianos estão particularmente fartos dos grandes navios de cruzeiro que "despejam" milhares de turistas na cidade todos os dias. A UNESCO alerta também para os riscos ambientais da passagem destes navios nos canais

ANDREA PATTARO/AFP/Getty Images

Todos os dias chegam a Veneza 60 mil turistas em navios de cruzeiro. Para uma cidade pequena, onde vivem cerca de 55 mil pessoas, os efeitos são dramáticos e têm levado a uma degradação crescente das condições de vida, alertam vários grupos de ativistas. No domingo passado, dezenas de venezianos e ambientalistas organizaram um protesto num dos principais canais da cidade, durante o qual gritaram contra os cruzeiros e os turistas que se aproximavam.

As manifestações contra os cruzeiros em Veneza não são novidade, mas este tipo de protesto é inovador e assinala o início de uma fase mais agressiva contra a turistificação em massa da cidade italiana. O grupo Comitato No Grandi Navi — “comissão contra os grandes navios”, em tradução livre — é uma das organizações que estão a planear mais ações para os próximos meses. “Queremos soluções do governo”, disse Marco Baravalle, porta-voz daquele grupo, ao jornal local La Nuova. As queixas são várias. Por um lado, os navios são enormes para a escala da cidade e aportam junto às zonas históricas, como a Praça São Marcos. Habitantes e ambientalistas afirmam que a passagem dos cruzeiros pelos canais da Lagoa tem consequências negativas para a qualidade da água e para a saúde pública — além do constante trabalhar dos motores e do fumo, estas embarcações também têm potentes radares que emitem radiações fortes, alegam.

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Mas a consequência mais visível, dizem os ativistas, é a degradação da vida na cidade. Dos 22 milhões de turistas que Veneza recebe anualmente, apenas quatro milhões lá pernoitam. “A maioria das pessoas só quer tirar uma selfie na Praça São Marcos antes de voltar aos navios”, disse Marco Caberlotto, do grupo Generazzione 90, ao jornal inglês The Guardian. Como o Observador já explicou em abril, esta tendência levou a uma diminuição dos empregos no setor do turismo, a um aumento generalizado dos preços da comida, transportes e habitação. O que trouxe ainda uma mais consequência: a imparável saída de venezianos da cidade. Todos os anos cerca de mil pessoas abandonam Veneza devido ao aumento exponencial das rendas e à crescente escassez de casas para arrendar, uma vez que os senhorios têm optado cada vez mais por arrendar a turistas em plataformas online, como o AirBnB e o HomeAway.

Em outubro de 2015, a UNESCO publicou um relatório de monitorização ao estado de Veneza, que é Património Mundial desde 1987. No documento, a organização de cultura das Nações Unidas alertava para “o intensivo tráfego e a inapropriada exploração dos recursos da Lagoa”, que pode “contribuir para a sua deterioração extrema e irreversível, caso não as autoridades não tomem medidas urgentes”. A UNESCO sublinha, particularmente, “o impacto negativo dos grandes navios que atravessam os canais de São Marcos e da Giudecca, perto das infraestruturas citadinas” e deixa claro que “o risco de acidentes” como o encalhamento de navios e o derrame de petróleo “não pode ser negligenciado”.

O turismo é um assunto cada vez mais na agenda das cidades europeias. Em Lisboa, por exemplo, já são muitas as vozes que se queixam do que dizem ser o excesso de turismo e das suas consequências negativas. Na terça-feira, o presidente da câmara municipal disse numa conferência que não sabia “o que é ter turistas a mais” numa cidade. Mais tarde, quando criticado por deputados na assembleia municipal, Fernando Medina acabou por dizer que “é um erro achar que a cidade é a mesma e não tem que adaptar as suas políticas a uma realidade que mudou”.

Uma das queixas mais frequentes dos lisboetas é semelhante à dos venezianos: o elevado preço do arrendamento de habitações na cidade, sobretudo porque os senhorios optam por arrendar a turistas. No início deste mês, durante uma reunião em que ouviu queixas dos habitantes de Lisboa, Fernando Medina deu a entender que está a ser preparada uma nova legislação que visa contrariar essa tendência. “Claramente tem de haver uma alteração ao quadro legal” de forma a “reforçar a proteção dos residentes”, disse.

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