Abdul Razak Ali Artan teve um perfil feito por um jornal universitário, ao estilo de “Humans of New York“, em que o homem que viria a ferir 10 pessoas com uma faca de talhante no campus de Ohio State, na segunda-feira, aparecia a lamentar ser olhado pelos outros com desconfiança só pelo facto de ser muçulmano. Minutos antes do ataque, num post no Facebook, aparecia, irado, a dizer que tinha chegado ao “ponto de exaustão” e que estava farto de ver os EUA “intervirem” nos outros países.
Queria poder rezar em público, mas tenho algum medo com tudo o que aparece nos media. Sou um muçulmano, não sou como os media me retratam. Se as pessoas olham para mim, um muçulmano a rezar, não sei o que vão pensar, o que vai acontecer. Mas não os censuro. São os media que colocam essa imagem na cabeça delas, portanto as pessoas vão ter essa imagem na cabeça e isso faz com que fiquem desconfortáveis. Estou com um pouco de medo, nesta altura. Mas fi-lo, confiei em Deus. Dirigi-me a um canto e rezei”.
O desabafo estava num perfil feito pelo jornal The Lantern, que tem uma rubrica inspirada na conhecida página Humans of New York, onde se fazem perfis de pessoas aleatoriamente escolhidas para contar a sua história. No The Lantern, Abdul aparecia como um jovem tranquilo que queria poder fazer as suas rezas — cinco vezes por dia — em público.
Nos perfis feitos após o ataque, os jornais escreveram que Abdul era um “refugiado vindo da Somália que deixou a terra natal em 2007, viveu no Paquistão e chegou aos EUA em 2014 como residente legal permanente”. Começou por estudar na faculdade de Columbus State mas transferiu-se para Ohio State e estava no terceiro ano de gestão logística. Foi abatido a tiro por um polícia depois de ter conduzido um carro contra um grupo de estudantes e de ter saído do veículo a esquartejar pessoas ao acaso, usando uma faca de talhante.
Segundo a NBC News, antes desse ato, Abdul, com 18 anos de idade, tinha deixado uma mensagem irada no Facebook onde se liam referências a “ataques de lobos solitários” e a um líder terrorista nascido nos EUA chamado Anwar al-Awlaki, morto em 2011 por um drone da CIA no Iémen.
“América! Parem de interferir com outros países, especialmente muçulmanos. Nós não somos fracos. Nós não somos fracos. Lembrem-se disso”, escreveu Abdul no Facebook.
Duas horas antes desta mensagem, que está a ser investigada pelas autoridades, Abdul tinha escrito outra mensagem sucinta e enigmática. “Forgive and forget. Love” (Esquecer e perdoar. Amor”.