Vinho que é vinho também é branco. E ao contrário do que se possa pensar, esta não é uma bebida que se destina exclusivamente aos dias quentes que pedem por frescura e, quiçá, aromas mais frutados e texturas menos complexas. Na gíria dos vinhos há também os chamados “brancos de inverno”, à partida com madeira e estrutura.

“São brancos gordos que dão uma sensação volumosa na boca”, começa por dizer o escanção Sérgio Antunes. Diz ele também que os vinhos com evolução — entenda-se alguma idade — são muitas vezes ótimas propostas para levar à boca e ao nariz nos dias frios de inverno, quando a chuva aterroriza a paisagem do lado de lá da janela e a lareira suplica por lume. Falamos, a título de exemplo, dos não tão tradicionais Portos brancos ou dos Tawny com alguma idade.

“São ainda aquilo a que chamamos de vinhos gastronómicos”, continua o homem responsável pela carta de vinhos do restaurante LOCO — um dos novos estrela Michelin nacionais –, onde curiosamente os clientes tendem a pedir mais brancos do que tintos. E se no ano passado escrevemos a propósito de um tinto feito para acompanhar o bacalhau, não é de estranhar que haja brancos capazes de harmonizar com comidas mais pesadas, amigas das temperaturas mais baixas.

Falta referir a acidez que, apesar de não soar tão bem quanto o desejado, é elemento chave no equilíbrio de qualquer vinho. Outro protagonista desta história vínica é ainda a madeira, particularmente responsável pela untuosidade de alguns vinhos, ainda que haja castas brancas capazes de produzir o mesmo efeito: antão vaz, viosinho ou chardonnay.

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Dada a explicação e traçado o perfil, selecionámos cinco propostas de vinhos brancos de inverno com a ajuda do escanção de serviço — três são vinhos recentes, acabados de chegar ao mercado, os restantes já andam por aí algum tempo a acumular fama e sucesso.

Quinta do Gradil Reserva Branco 2015

Puxa pela mineralidade e pela acidez, garantem-nos os enólogos da casa. O vinho à base de chardonnay e arinto, colheita de 2015, pretende homenagear os dias frios de inverno e é apenas uma das muitas propostas da Quinta do Gradil, que tem uma gama permanente de bivarietais e cujos monovarietais são lançados consoante as colheitas existentes. O néctar da Região Vitivinícola de Lisboa pertence a uma das quintas mais antigas do concelho de Cadaval e a prová-lo está a fachada de um palácio setecentista que mora lado a lado com toneis de inox de enormes dimensões. As vinhas, essas, estão por todo o lado.

Região: Lisboa
Produtor: Quinta do Gradil
Preço: 14,90€

DOC Douro Meruge 2015

O Meruge branco 2015 é um vinho de guarda que apresenta um trio de características que nem sempre andam de mãos dadas: é fresco, frutado e complexo. Estagiou em madeira e, reza a respetiva ficha técnica, apresenta aromas de fruta madura e alguns frutos secos. A acidez é coisa que lhe assiste e confere equilíbrio ao monocasta viosinho. O vinho é um dos ex-líbris da Lavradores de Feitoria, empresa criada em 2000 que resultou da união de 15 produtores, proprietários de 19 quintas distribuídas pela região do Douro. O nome de batismo, esse, deve-se a uma propriedade em particular, a Quinta da Meruge, que entre muitas vinhas tem tantas outras ervas silvestres com esta designação (“morugem”).

Região: Douro
Produtor: Lavradores de Feitoria
Preço: 20€

Pôpa Black Edition

Chamam-lhe um branco com alma de tinto do Douro, e não é para menos. O Pôpa Black Edition branco, colheita de 2015 e proveniente de vinhas velhas, com cerca de 60 anos, é a aposta dos irmãos Stéphane e Vanessa Ferreira nos brancos de inverno. Trata-se de um vinho com mais barrica, fermentando e estagiado em madeira. “Não é suposto ser pesado, ele mantém uma certa elegância. Tem um lado floral e um final de boca longo, e pede pratos com mais gordura”, explica Stéphane ao Observador. De referir que a Quinta do Pôpa leva no nome a alcunha do avô dos dois irmãos, um homem que nasceu entre vinhas que não lhe pertenciam mas que sempre sonhou em ter o seu “pedacinho do Douro” — não viveu para ver as videiras da família crescerem, mas ainda hoje é homenageado através dos vinhos que a casa produz.

Região: Douro
Produtor: Quinta do Pôpa
Preço: 13,50€

Teixuga 2013, Caminhos Cruzados

Este vinho, feito a partir de vinhas velhas com predominância da casta encruzado, representa a gama superior da Caminhos Cruzados, empresa criada em 2012 por um empresário têxtil desejoso de regressar às origens e de colocar Nelas no mapa dos grandes vinhos do Dão. Neste caso, a ambição traduziu-se em cerca de 1500 garrafas de um vinho que se quer complexo e longevo, sobretudo depois de ter estagiado 19 meses em barricas novas de carvalho francês e outros 12 em garrafa. A casta encruzado é uma das que mais permite aos vinhos brancos envelhecer bem, tal como já explicou ao Observador Vasco D’Avillez, presidente da CVR de Lisboa. E é precisamente por isso que Lígia Santos, filha do fundador da Caminhos Cruzados, diz que, volta e meia, estes vinhos são os tintos dos brancos.

Região: Dão
Produtor: Caminhos Cruzados
Preço: 35€

Vieira de Sousa White 10 anos

Dos socalcos do Douro nasce este Porto branco, cujas uvas tiveram direito a fermentar em lagares de pedra e foram pisadas a pé, tal como manda a tradição. Após a adição de aguardente vínica, o vinho foi envelhecido em tonéis durante décadas a fio até chegar ao copo na forma de um elegante líquido dourado. Esta é apenas uma das propostas da casa Vieira de Sousa, uma empresa familiar com ligações seculares ao vinho. Quem o garante é Luísa Borges — bisneta de José Silvério Vieira de Sousa, que associou o negócio do vinho ao nome de família já no século XIX –, que conta ainda que foi só a partir de 2008 que a empresa começou a engarrafar os próprios vinhos. A marca nasceu na Quinta do Roncão Pequeno, apesar de existirem mais propriedades situadas ao longo dos rios Douro e Pinhão: contam-se diferentes altitudes e diferentes exposições, mas uma só missão, a de manter o estilo clássico e tradicional do vinho do Porto.

Região: Douro
Produtor: Vieira de Sousa
Preço: 18 – 20€