Não acabou bem um telefonema entre Donald Trump, o novo Presidente dos EUA, e Malcolm Turnbull, o primeiro-ministro australiano. O The Washington Post noticiou esta madrugada que, no mesmo fim de semana em que Trump conversou com Vladimir Putin e mais quatro líderes internacionais, o Presidente dos EUA irritou-se e terminou abruptamente um telefonema com Turnbull que era para durar uma hora mas que acabou após 25 minutos.

Com a divulgação da notícia, Donald Trump reagiu com um tweet a criticar o “acordo idiota” de partilha de refugiados com Austrália, celebrado no tempo de Barack Obama. Palavras duras? Trump diz que é mesmo assim, “duro” nos contactos com outros líderes mundiais. “Acreditem em mim, quando ouvirem falar das chamadas telefónicas duras que tenho, não se preocupem, não se preocupem”. Aos olhos do presidente norte-americano, há uma razão para esse estilo: “Virtualmente, todos e cada um dos países do mundo aproveitaram-se de nós, mas isso não vai continuar a acontecer”.

Antes da conversa entre os dois líderes, a Austrália dizia que tinha garantias expressas de Washington de que o acordo iria ser mantido. Mas, segundo fontes ouvidas pela redação do The Guardian na Austrália, no seio do Governo de Camberra o acordo já está a ser visto como “morto”.

Donald Trump terá dito a Malcolm Turnbull que se os EUA avançassem com aquele acordo, isso iria “matá-lo [Trump], politicamente”. Mais tarde, à imprensa, o primeiro-ministro australiano recusou que este possa ser chamado um “acordo idiota” e disse que Trump lhe garantiu que não irá bloquear o acordo: “talvez seja um acordo que ele [Trump] não teria feito, mas a questão é que temos um compromisso claro de que irá respeitar o acordo que está assinado”.

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Contudo, o tweet de Trump a dizer que vai “estudar” o acordo — “idiota” — foi posterior à hora a que, segundo Camberra, Trump terá reafirmado o compromisso com o acordo assinado pelo seu antecessor.

Isto dá para acreditar? A Administração Obama concordou em receber milhares de imigrantes ilegais da Austrália. Porquê? Vou estudar este acordo idiota“. Ao seu estilo, Donald Trump não perdeu tempo, ainda na noite de quarta-feira, em oferecer a sua versão da disputa que terá levado a que o Presidente dos EUA tenha tido, “de longe, a pior chamada de sempre” (na descrição feita pelo The Washington Post). Surpreendentemente, a “pior chamada de sempre” foi com um dos aliados históricos dos EUA, o governo australiano.

Malcolm Turnbull também já comentou o incidente, desmentindo as notícias de que Donald Trump lhe desligou o telefone na cara — “essa descrição não é correta”. O primeiro-ministro australiano descreveu a conversa como “muito franca e direta”.

Certo é que a chamada deveria ter durado uma hora mas Trump exaltou-se ao fim de 25 minutos e a chamada terminou. Donald Trump deixou clara a sua posição: “Não quero receber essas pessoas. A Austrália quer mandar para cá os próximos bombistas de Boston“, terá afirmado Trump, numa referência ao atentado de 2013 na Maratona de Boston, pelos irmãos Tsarnaev.

Há fotos de Donald Trump ao telefone com Turnbull, na Sala Oval (acompanhado pelo conselheiro principal, Steve Bannon, que também está nas notícias hoje devido a declarações polémicas proferidas há vários meses no seu programa de rádio).

O que está em causa neste acordo polémico?

Os “milhares” de refugiados referidos por Trump são, na realidade, 1.250 pessoas que tentaram imigrar ilegalmente para a Austrália e que estão, neste momento, em centros de detenção australianos nas ilhas de Manus (Papua Nova Guiné) e Nauru. As Nações Unidas já criticaram de forma veemente as condições em que as pessoas estão a ser mantidas nesses centros de detenção, incapazes de voltar para a origem mas, também, proibidas de ir para o continente.

Nas vésperas de Donald Trump vencer as eleições, Barack Obama assinou um acordo para receber esses refugiados (a maioria proveniente do Irão), que a Austrália não quer que fiquem no país. Em troca, a Austrália aceitou receber refugiados de El Salvador, Guatemala e Honduras — estes são os termos de um acordo que foi mediado pelo Alto Comissariado para os Refugiados da ONU (o organismo anteriormente liderado por António Guterres, agora secretário-geral da organização).