Marine Le Pen poderá vencer as eleições presidenciais que se realizam em França em maio próximo, mas esta eventualidade não aumentará a probabilidade de o país decidir abandonar a zona euro. Esta é a conclusão a que a Bloomberg chegou a partir das opiniões de analistas financeiros de seis bancos que se pronunciaram sobre o risco de o país se retirar do espaço da moeda única europeia.

Os analistas admitem que, mesmo que a candidata da extrema-direita venha a ter sucesso numa eventual segunda volta, agendada para 7 de maio, a probabilidade de alcançar uma maioria absoluta nas eleições legislativas que terão lugar em junho é reduzida. Isto significa que as condições que Le Pen terá para concretizar a saída de França do euro serão limitadas, refere a Bloomberg.

Uma vitória não deve, ainda assim, ser subestimada pela potencial perturbação que poderá provocar na zona, sobretudo em Itália. Um dos analistas alerta que uma vitória de Le Pen “provocaria uma fuga de capitais maciça, não apenas a partir de França, mas também para fora de países periféricos como Itália” e seria o “princípio do fim” da União Económica e Monetária.

O que dizem, então, os analistas?

Valentin Marinov, Crédit Agricole

As sondagens indicam que Marine Le Pen perderá numa segunda volta das eleições presidenciais contra Emmanuel Macron ou François Fillon, facto que, para o analista do Crédit Agricole, ajuda a explicar a “relativa” resistência recente da taxa de câmbio do euro. Valentin Marinov aconselha “prudência”, apesar de tudo, e adianta que a saída de França do euro seria um processo “longo e complexo” e exigiria uma revisão constitucional. Para o analista do banco francês, as hipóteses de Le Pen ascender à presidência no desfecho da segunda volta das eleições são de 35%.

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François Cabau, Barclays

As hipóteses de uma vitória da candidata da extrema-direita são “muito, muito escassas”, refere François Cabau, economista no Barclays. O analista do banco britânico adianta que o cenário poderá ser mais otimista para as ambições de Le Pen no caso de o adversário na segunda ser um destes dois: Benoit Hamon ou Jean-Luc Melenchon. Também este analista considera que a possibilidade de a Frente Nacional obter uma maioria nas eleições legislativas que se seguem à presidenciais é “improvável”. Deste modo, Le Pen teria de governar em coabitação, não teria oportunidade de governar de acordo com o respetivo programa e enfrentaria dificuldades em fazer uma revisão constitucional.

Erik Nielsen, UniCredit

Existe “um certo risco” de Marine Le Pen vencer as eleições presidenciais, refere Erik Nielsen. O analista do banco italiano UniCredit recorda que todas as sondagens colocam a líder da Frente Nacional numa segunda volta e que, a partir do momento em que a luta é “um contra um, nunca se sabe o que vai acontecer”. Niesen afirma que o cenário de uma retirada da zona euro por parte de França permanece como um cenário de “risco muito baixo” já que, uma vez mais, são reduzidas as possibilidades de vir a conseguir uma maioria nas legislativas. Erik Nielsen acrescenta que continua a existir no país uma maioria a favor da permanência entre o grupo de países que partilham a moeda única.

Joerg Kraemer, Commerzbank

As hipóteses de Marine Le Pen vir a ocupar a presidência de França resumem-se a 20%, de acordo com Joerg Kraemer, economista que trabalha para o Commerzbank em Frankfurt, cidade onde se localiza a sede do Banco Central Europeu. Caso a candidata alcance o objetivo, é “provável” que o país abandone a zona euro, considera o analista do banco alemão que acrescenta: “sem o peso político e económico” de França, é “improvável que o resto da zona euro sobreviva”. Uma vitória de Le Pen, adianta Kraemer, “provocaria uma fuga de capitais maciça, não apenas a partir de França, mas também para fora de países periféricos como Itália”. Seguir-se-ia a imposição de controlos de capitais e de “feriados bancários” que representariam o “princípio do fim” da União Económica e Monetária.

Andrew Cates, Nomura

Andrew Cates, analista do Nomura considera que nenhuma sondagem sobre qualquer dos países europeus onde se realizam eleições em 2017, como são os casos de França, Alemanha e Holanda, aponta para grandes hipóteses de haver “choques anti-sistema” e qualquer candidato com esta característica enfrentaria, potencialmente, “formidáveis obstáculos legislativos” para concretizar políticas anti-União Europeia. Outro analista do banco japonês, Charles St-Arnaud, referiu, numa nota enviada aos clientes, que o cenário admitido pelo banco japonês é o de que Emmanuel Macron será o sucessor de François Hollande na presidência francesa, mas que o partido deste candidato não terá maioria na Assembleia Nacional de França. Para este economista do Nomura, as possibilidades de Marine Le Pen vir a ser a próxima inquilina do Palácio do Eliseu “são baixas” mas a hipótese não deve ser negligenciada. O analista acredita que Le Pen seria forçada a um período de coabitação e que uma eventual saída de França da zona euro seria decidida pelas instâncias judiciais que, admite Charles St-Arnaud, poderiam optar por impor a realização de um referendo.

Raphael Brun-Aguerre, JPMorgan Chase

É “fortemente provável” que Marine Le Pen consiga ir à segunda volta das eleições presidenciais, mas a candidata deverá perder por uma margem “decente”, seja qual for o oponente, diz Raphael Brun-Aguerre. O analista do JPMorgan Chase sublinha, também, que, mesmo em caso de vitória, Le Pen não conseguirá uma maioria nas eleições legislativas, o que reduzirá a capacidade para concretizar um eventual abandono de França da zona euro.