Depois do atentado terrorista que matou pelo menos cinco pessoas em Londres esta quarta-feira, houve uma entre as várias fotografias que registaram o incidente que recebeu mais atenção do que as restantes. Trata-se da imagem de uma mulher muçulmana, vestida com um hijab, que olha para o telefone ao mesmo tempo que passa com aparente indiferença ao lado de uma das vítimas do atentado. Enquanto isso, pelo menos quatro pessoas estão de pé, ao lado da vítima.

Rapidamente, a fotografia espalhou-se pelas redes sociais e muitos aproveitaram-na para tentar criar a seguinte dicotomia: de um lado, um grupo de cidadãos de ascendência europeia, talvez cristãos, preocupados com uma vítima de um atentando do qual se suspeitou imediatamente ser cometido por um radical islamista; enquanto isso, uma mulher com véu, muito provavelmente muçulmana, passava impávida.

Seguem alguns exemplos disso mesmo no Twitter:

https://twitter.com/SouthLoneStar/status/844644675415937024?ref_src=twsrc%5Etfw&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.thesun.co.uk%2Fliving%2F3158465%2Fvile-trolls-muslim-woman-london-terror-attack%2F

“Mulher muçulmana não presta atenção nenhuma ao ataque terrorista e caminha causalmente por um homem a morrer enquanto olha para o telemóvel”, escreveu um utilizador do Twitter, dos EUA, cuja mensagem teve quase 2 mil partilhas.

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Outra utilizadora escreveu, com alguma ironia: “Esta mulher mulher [que está] a mandar mensagens enquanto os infiéis morrem é a verdadeira vítima do ataque de Londres”.

https://twitter.com/LanaShadwick2/status/844925503198912516

Em resposta a outro utilizador, Lana Shadwick, jurista e analista para o site de extrema-direita Breitbart, escreveu: “‘Sem contexto?’ Uma mulher caminha numa ponte em Londres despreocupada por uma mulher que morre aos seus pés”. Depois acrescentou “res epsa loquitur”, expressão em latim que significado “a coisa fala por si mesma”.

Fotógrafo diz que mulher estava “perturbada e horrorizada”

Em declarações à televisão australiana ABC, o autor da fotografia em causa desautoriza as interpretações que acusam aquela mulher com um hijab de ter agido de forma despreocupada. Segundo Jamie Lorriman, a mulher em causa parecia estar “perturbada e horrorizada” apesar de, naquela altura, o local do incidente estar numa “atmosfera estranha de calma”. “Ninguém estava a gritar nem aos berros”, disse.

“As pessoas que criticam a mulher na fotografia estão a ser muito seletivos”, acrescentou. “Noutra fotografia da sequência, ela parece estar consternada.”

Talvez propositadamente, a imagem que foi posta a circular nas redes demonstra como a mulher em causa olha para baixo, em direção ao telemóvel, dificultando assim perceber a sua expressão facial. Porém, numa fotografia tirada na mesma ocasião, segundos antes, é possível vê-la de olhos erguidos e com uma expressão facial que parece estar longe da “despreocupação”.

“Sinto-me tão mal pela mulher na fotografia. Se ela viu isto, deve estar a sentir-se pessimamente”, disse o fotógrafo.

No Twitter, também houve quem saísse em defesa da mulher em questão, partilhando outras fotografias em que pessoas aparentemente de ascendência europeia e que provavelmente não serão muçulmanas caminham ao lado das vítimas sem oferecer ajuda. “Se alguém publicar a fotografia da mulher a caminhar ao lado desta cena em Londres, respondam com a fotografia deste homem a fazer o mesmo”, escreveu um utilizador daquela rede social.

Outra utilizadora, também ela muçulmana, reagiu à fotografia desta maneira: “Para mim, isto valida os meus medos. Hoje evitei os transportes públicos porque sabia que ia ser julgada como esta mulher”.