As organizações não-governamentais ligadas à proteção das tartarugas marinhas em São Tomé intensificaram, nos últimos dias, a campanha contra a captura, abate e consumo de tartaruga marinha, que está em vias de extinção, disse uma das organizações.
“Muita gente pensa que a tartaruga marinha é peixe e por isso tem estado a consumir a sua carne”, disse aos jornalistas Domingas Monteiro, da organização Tatô, após encontros com professores e alunos.
As campanhas estão a decorrer, nesta primeira fase, “em forma de sensibilização nas escolas e nas comunidades”, tendo esta semana a Tatô feito duas palestras nas escolas de São João, na capital e outra numa escola secundária em Mé Zochi, no centro da ilha de São Tomé.
“Estamos a explicar às crianças e aos jovens que a tartaruga não é peixe, ela é da família dos répteis, logo não deve ser consumida”, disse a responsável da Tatô que vê nas crianças e nos adolescentes o público-alvo dessa sensibilização.
Segundo a ativista, “essa é uma forma dramática de incutir nas crianças” a mensagem de rejeição, sobretudo da carne de tartaruga.
Nos últimos meses, as organizações não-governamentais, autoridades ligadas ao setor das pescas e a sociedade civil são-tomense desdobraram-se em campanhas de preservação das tartarugas, que estão em vias de extinção, particularmente na ilha de São Tomé.
Na ilha do príncipe, classificada pela Unesco como reserva mundial da biosfera, está em curso um programa regional de proteção das tartarugas que, segundo as autoridades locais, tem tido sucesso.
“Toda a população sabe que aqui não se pode abater, não se pode capturar nem comer a carne da tartaruga. Quem for denunciado (…) assumirá as suas consequências”, disse à Lusa fonte do Governo Regional.
An Dollem, da Fundação Príncipe Trust, uma ONG ligada à proteção das tartarugas marinhas na ilha do Príncipe, disse à Lusa que as tartarugas Sada (Tartaruga-de-bico), Ambulância (Tartaruga-de-couro) e a Tartaruga verde ou Mão branca estão todas classificadas na lista vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) como criticamente ameaçadas.
As duas primeiras são “muito difíceis encontrar” na ilha do Príncipe, enquanto a Mão Branca é mais comum.
“A Fundação Príncipe Trust tem uma equipa local dedicada, com guardas experientes e conhecedores, que asseguram com todos os esforços a proteção destas tartarugas. Durante os últimos três anos têm investido significativos esforços de investigação e de patrulhamento, a fim de assegurar a conservação destas espécies emblemáticas”, disse An Dollem.
“Além disso, as campanhas de sensibilização (…) já resultaram numa diminuição de ovos roubados e da captura ilegal de tartarugas, tanto em terra como no mar”, acrescentou.
Essa instituição lançou há cerca de um ano a “campanha captura zero” que pretende levar às comunidades a mensagem de que “uma tartaruga viva vale mais do que uma tartaruga morta”.
Para apoiar iniciativas de pequena escala que irão beneficiar as comunidades locais, foi criado um fundo que resulta da cobrança de uma taxa aos turistas que visitem um projeto de conservação de tartarugas no Príncipe.
Das sete espécies de tartarugas marinhas existentes em todo o planeta, cinco podem ser encontradas nos mares de São Tomé e Príncipe.
Em dezembro, em entrevista a Lusa, a bióloga marinha Sara Viera alertou que a tartaruga Sada, uma das cinco espécies existentes em São Tomé e Príncipe, pode desaparecer “em menos de cinco anos”, correndo também as outras quatro espécies “um sério risco de extinção”.
São Tome e Príncipe aprovou em 2014 legislação que proíbe a captura e comercialização de tartarugas marinhas, mas ao que tudo indica o seu efeito pratico ainda não está a resultar.
É nas praias das comunidades de Morro Peixe e Micoló, no norte de São Tomé, e Santana e Porto Alegre, no sul, que se regista maior atividade de captura e abate das tartarugas marinhas.