Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, prescindiu do apoio do Partido Socialista nas eleições autárquicas de outubro. A decisão foi tomada durante uma reunião do núcleo duro da candidatura esta quinta-feira à noite, motivada pela entrevista de Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS ao Observador, em que a dirigente socialista disse que contabilizava os votos em Rui Moreira como votos no PS.

A informação foi inicialmente avançada pelo Expresso e confirmada pelo Observador junto de fonte próxima do autarca. A decisão de prescindir do apoio dos socialistas foi tomada de forma unânime pelos conselheiros de Rui Moreira e comunicada ao autarca, que retirou a mesma conclusão: a sua candidatura não pode ser condicionada por aquilo que considera serem tentativas de condicionamento à sua independência.

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Entretanto, a concelhia socialista do Porto emitiu um comunicado, aqui citado pelo Expresso, onde considera “surpreendente e inesperada” a decisão de Rui Moreira. De acordo com a nota de imprensa, o PS/Porto vai reunir-se esta sexta-feira à noite para “analisar a situação política autárquica no Porto”

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Segundo a TSF, o autarca portuense deve reunir com Manuel Pizarro, vereador socialista e aliado do presidente da Câmara, esta sexta-feira para comunicar uma decisão que já está tomada. E aqui há um ponto sensível: entre Rui Moreira e Pizarro as relações foram sempre as melhores, como lembra fonte próxima do autarca. O próprio autarca portuense já tinha garantido que ia convidar o socialista para integrar o seu executivo camarário e essa possibilidade mantém-se, mas com uma grande diferença: Pizarro pode ser convidado, mas não enquanto socialista, algo que deixa o dirigente do PS numa situação muito sensível. Uma coisa é certa: a lista de Rui Moreira não terá membros do PS.

A mesma fonte lembrou, de resto, o comportamento diametralmente oposto do CDS, que, apoiando Rui Moreira desde as primeiras eleições, nunca entrou em lógicas de “mercearia” ou de discussão de lugares nas listas à autarquia.

Na verdade, e como contava o Observador aqui, o facto de Ana Catarina Mendes ter afirmado, em duas ocasiões, que o PS esperava ter uma representação forte nas listas de Rui Moreira, fez com que Rui Moreira e os seus apoiantes mais próximos perdessem a paciência. Se a primeira afirmação ao Expresso já tinha sido considerado muito infeliz, a repetição da mesma ideia ao Observador com um acrescento — o de que a vitória de Rui Moreira será também a vitória do PS — precipitou esta decisão.

Nessa entrevista ao Observador, Ana Catarina Mendes foi perentória ao afirmar que “todas as vitórias dos candidatos do PS e das listas que o PS integra serão vitórias do PS” e que o PS “estava absolutamente convicto de que terá representação forte” nas listas de Rui Moreira.

Um dia depois, em entrevista à agência Lusa, a socialista admitiu que as suas palavras podiam ser mal interpretadas e tentou fazer o controlo de danos possível: a vitória de Rui Moreira será de Rui Moreira, mas “será também festejada pelos militantes socialistas”.

Mas os estragos já estavam feitos. Esta sexta-feira, o autarca portuense vai estar esta sexta-feira no jornal da noite, da SIC, para explicar as suas motivações. Até lá, não são esperados quaisquer comentários oficiais sobre o caso, sabendo-se apenas que a decisão de Rui Moreira é “irreversível”.

Ana Catarina Mendes: a vitória de Rui Moreira no Porto “será uma vitória do PS”

PS “pôs-se a jeito”

O deputado Fernando Jesus, que foi dirigente concelhio e federativo do PS no Porto ao longo de anos, diz ao Observador que “o PS se pôs a jeito”. Este socialista, que foi contra a candidatura de Manuel Pizarro à câmara — e contra o acordo de gestão na autarquia com Rui Moreira —, afirma que isto “é o culminar de uma estratégia errada”. As consequências ainda não são claras: “O PS tem de fazer uma avaliação muito profunda sobre como sair desta solução. O partido tem de encontrar soluções que podem ou não passar por uma candidatura de Pizarro”. Para o deputado, o vereador socialista e presidente da federação “fica fragilizado e não fica em boas condições” para se candidatar, o que torna a situação “ainda mais difícil” e delicada.

Apesar das críticas ao partido, Fernando Jesus acusa Rui Moreira de ter uma posição “pouco democrática” contra os partidos. “É inqualificável receber o apoio do PS ao longo de quatro anos e, por causa de uma frase da secretária-geral adjunta, normal na vida dos partidos — ao dizer que é também uma vitória do PS —, Rui Moreira levar a sua irritabilidade a este ponto”.