Numa altura em que o Brexit está a forçar muitos cidadãos europeus que residem no Reino Unido a pedir a nacionalidade britânica, para assegurarem os seus direitos depois da saída do país da União Europeia, a jornalista britânica Amelia Hill — que trabalha no The Guardian — foi no sentido contrário e decidiu pedir, para si e para os seus filhos, a nacionalidade alemã. O objetivo? Evitar ficar “prisioneira” de um país cujo sistema de saúde pode “implodir” e que pode ficar num “pântano induzido pelo Brexit”.

“A partir de agora, os meus filhos terão sempre o direito de estudar, trabalhar, viver e amar no estrangeiro. Isso não lhes pode ser tirado. E eu estou incrivelmente orgulhosa de lhes ter dado isso”, escreveu Amelia num artigo de opinião publicado no diário britânico The Guardian. “Não estava certamente habituada a sentir-me assustada com a possibilidade de o futuro do meu país ficar irrevogavelmente fraturado e desfeito”, admite.

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Na verdade, Amelia só pôde fazer o pedido de dupla nacionalidade ao abrigo da lei da recuperação da nacionalidade devido às raízes alemãs da sua família, porque este é um direito “reservado a quem foi perseguido com bases políticas, raciais ou religiosas durante a ditadura nazi, assim como os seus descendentes”, explica a jornalista. O avô de Amelia, um judeu alemão, viu-se forçado a abandonar a Alemanha no início da II Guerra Mundial e encontrou refúgio no Reino Unido.

“Eu nunca fui levada a sentir-me envergonhada — ou orgulhosa — da minha herança alemã. Nunca fui levada a pensar em mim de outra forma que não britânica e cristã”, explica Amelia, sublinhando que nunca pensou pedir a dupla nacionalidade, já que sempre se sentiu britânica. “Mas isso foi antes do resultado do referendo. Como membro apaixonado dos 48% [que votaram pela permanência na UE], senti a minha identidade britânica desmoronar-se de forma dramática e inesperada”, recorda a jornalista britânica.

Inicialmente, Amelia pensou na possibilidade de tornar a sua família alemã apenas como uma brincadeira. Depois, pensou mais a sério. E avançou. Poucos dias depois do referendo, submeteu os documentos necessários para o processo. Cinco meses depois, recebeu a resposta de parabéns: podia ir à embaixada alemã em Londres preencher os últimos formulários, levantar o certificado de dupla nacionalidade e encomendar o passaporte e o bilhete de identidade alemão.

Amelia não o fez de imediato. “Agora que sabia que era realmente possível, sentia-me estranhamente inquieta com essa possibilidade. Eu era completamente britânica, pensei. Talvez fosse um projeto de vaidade que se tivesse descontrolado?”, questionava-se. A certeza veio quando “a paisagem política continuou a escurecer” com a “versão extrema do Brexit de Theresa May”.

Agora, Amelia e os seus filhos são germano-britânicos. “Assegurei direitos que sempre tive e que ainda não tinha perdido”, esclarece a jornalista. “O que quer que aconteça a este país agora, sob quaisquer desculpas miseráveis dos políticos”, Amelia e a família têm “opções”, conclui.