Há um ano, o discurso tinha demorado sete minutos. Desta vez durou apenas cinco. Nas comemorações deste 10 junho, o Presidente da República disse que “queremos um país “independente e livre”, que seja “independente do atraso, da ignorância, da pobreza, da injustiça, da dívida, da sujeição, livre da prepotência, da demagogia, do pensamento único, da xenófoba e do racismo”.

Tal como no ano passado, a breve intervenção do Presidente não fez qualquer referência a casos concretos da política nacional, e dirigiu-se também aos emigrantes portugueses. As comunidades que, segundo Marcelo Rebelo de Sousa, fazem dos portugueses “andarilhos” por “vocação e desígnio”. Embora falasse em abstrato, parecia referir-se à Venezuela quando disse que enviou uma palavra de “incondicional solidariedade em especial para as [comunidades] que mais sofrem ou desesperam”.

Perante os militares em parada dos três ramos das Forças Armadas, o Presidente elogiou a importância da instituição para a soberania e para a democracia: “Dia das Forças Armadas, dos portugueses em armas que nos deram vezes sem conta a independência e a liberdade“. Partiu depois dessa ideia para referir que é a partir dessa condição que é possível ao País desenvolver-se: “[Devemos] respeitar quem nos deu a independência e a liberdade de sermos como somos, criar riqueza, combater a pobreza, superar injustiças promover conhecimentos, abraçar uma pátria sem fronteiras espirituais de uma pátria que nasceu para ser ecuménica e fraternal”.

Antes de discursar, Marcelo Rebelo de Sousa passou as tropas em revista na Foz, no Porto — cidade a que se referiu como “nobre, livre e independente, que nunca traiu” — em cima de um velho jipe UMM azul, português. No fim da cerimónia, depois de condecorar vários militares e assistir à parada, o Presidente parte para o Brasil, onde vão prosseguir as comemorações do Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas. O Presidente da República falou depois do patologista portuense Sobrinho Simões — convidado este ano para presidir às cerimónias — que fez um discurso que incidiu, em grande parte, na diversidade dos portugueses do ponto de vista genético com os respetivos reflexos culturais.

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O curto discurso de 2016: a celebração do povo e as elites que falharam

O ano passado, na cerimónia que decorreu na Praça do Comércio, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa fez um elogio ao “povo”, que “não vacila, não trai, não se conforma e não desiste”. “Nos momentos de crise, quando a pátria é posta à prova, é sempre o povo quem assume o papel determinante”, disse o Presidente da República antes de viajar para Paris, onde decorreu o resto das comemorações.

A intervenção foi curta, durou apenas sete minutos, e o Presidente lembrou que desde “a arraia-miúda” que no século XIV “valeu ao mestre de Avis”, até aos “tempos de crise” em que “foi o povo” que “soube compreender os sacrifícios e privações em nome de um futuro mais digno e mais justo”. Também elogiou o povo também para atirar às “elites que falharam”. Foi sempre o povo a lutar por Portugal, mesmo quando as elites falharam — ou melhor as que como tal de julgaram — em troca de prebendas vantajosas de títulos pomposos, de meros ouropeís luzidios, de auto contemplações deslumbradas ou simplesmente tiveram medo de ver a realidade e de decidir com visão e sem preconceito”, disse o Presidente em 2016.