António Barreto, ministro da Agricultura do I Governo Constitucional e grande responsável pela Lei de Bases da Reforma Agrária de 1978, considera que existem vários mitos associados ao período de ocupações de terrenos agrícolas que marcou o período pós-25 de Abril. À cabeça, a ideia de que o fenómeno foi espontâneo e desorganizado, quando, na verdade, foi um processo controlado pelos sindicatos, Governo e Forças Armadas. Ou que se deveu à alta taxa de desemprego que assolava o Alentejo — quando existia “pleno emprego” — ou ao número de terrenos abandonados — quando apenas “10% do território do Alentejo estava abandonado”.
Em entrevista ao Observador, emitida em direto — no site e no Facebook —, e que será publicada na íntegra hoje à noite, a propósito do seu novo livro Anatomia de uma Revolução (Dom Quixote), António Barreto recorda os tempos do PREC, admite que sentiu a sua integridade física em risco pelo menos “três vezes” e fala da pressão dos comunistas. Durante o período mais tenso, contou, as desocupações de terras eram acompanhadas por brigadas da GNR excessivamente musculadas, como medida de persuasão. Os militantes do PCP chamavam-lhe “aparato fascista”, mas não sabiam de uma coisa: as metralhadoras que os militares carregavam “estavam carregadas com balas que não eram verdadeiras”.
A relação (passada e futura) com o PCP acabou por dominar grande parte da entrevista — ele que foi um dos ministros mais contestados do I Governo Constitucional. Para Barreto, os comunistas sempre souberam que a sua posição dependia da “correlação de forças” entre os vários blocos partidários e adaptaram-se permanentemente às circunstâncias. Ontem, como hoje. “Reparem que Jerónimo fala em nova correlação de forças. Tal como fez Cunhal. É esse o carácter essencial dos comunistas”, lembrou.
Na entrevista, que o Observador aqui condensa em 39 tweets, publicados durante o direto, o sociólogo não esconde, aliás, a descrença que mantém na aliança de esquerda. “Criou-se a ideia de que todos os partidos têm direito a ser Governo. Não sou obrigado a gostar de um Governo onde os comunistas estão”, diz.
A terminar, António Barreto ainda falou sobre o estado da Justiça portuguesa. “Estamos a viver um dos momentos mais drásticos para a Justiça. Se não dá conta disto e isto acaba em nada, é o descrédito total”, diz.
Os mitos da reforma agrária
“A partir de 1975 as ocupações começam a ser organizadas pelos sindicatos. As Forças Armadas foram absolutamente instrumentais” #ABarretoObs
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“Em 1974, havia pleno emprego no Alentejo. A ideia de que havia muita gente sem trabalho é um mito” #ABarretoObs
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"É hoje sabido que o Alentejo teria 10% do território abandonado. Criou-se a mitologia de que o Alentejo estava abandonado” #ABarretoObs
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“A divisão do país em Norte/Sul era real. Os comunistas não queriam ir para o Norte porque sabiam que eram mal recebidos” #ABarretoObs
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Reparem que Jerónimo fala em nova correlação de forças. Tal como fez Cunhal. É esse o carácter essencial dos comunistas”. #ABarretoObs
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"Alguma vez teve medo de represálias? Fisicamente? Três vezes, mas sem grandes consequências”. #ABarretoObs
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“Alguns dos passos dados desde o 25 de Abril até ao 25 de Novembro estavam compendiados. Cunhal sabia o que tinha de fazer” #ABarretoObs
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Sobre as brigadas que o acompanhavam. “O PCP chamava-lhe o aparato fascista. Mas as balas não eram verdadeiras” #ABarretoObs
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O atual Governo e a “geringonça”
“O bom momento do Governo no último ano e meio se deve, em grande parte, à complacência da imprensa” #ABarretoObs
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“Creio que existe algum preconceito contra a direita. A maior parte da direita também tem vergonha de dizer que é de direita”. #ABarretoObs
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“Criou-se a ideia de que todos os partidos têm direito a ser Governo. Não sou obrigado a gostar de um onde os comunistas estão” #ABarretoObs
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“Governar com BE e PCP é mais um passo para chegar aos objetivos não-Europa, não-euro, não-NATO, não-democracia” #ABarretoObs
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“Quem impediu a coligação com os comunistas foram sempre os socialistas. Incluindo António Costa” #ABarretoObs
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“O que mudou foi que o @_pcp_ percebeu que era agora ou nunca” #ABarretoObs
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“É tão mau fazer a divisão esquerda/direita como era mau fazer divisão católicos/maçons. É mau para o país” #ABarretoObs
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“A oposição enganou-se desde o primeiro dia. Um Governo que passa no Parlamento é legítimo. Durou um ano a engolir esse sapo” #ABarretoObs
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“O que o Governo está a fazer é uma austeridade diferente. Ainda não é alternativa nenhuma” #ABarretoObs
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“O primeiro-ministro comprou a paz social com Bloco de Esquerda e PCP” #ABarretoObs
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A gestão dos incêndios de Pedrógão Grande
“Apesar de ter havido progressos, a prevenção pública é muito frágil. Qualquer rabanada de vento tem consequências negativas” #ABarretoObs
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“Este Governo não fez muito pior ou muito melhor que o anterior. Nem o anterior fez muito pior ou melhor que o anterior” #ABarretoObs
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Sobre os incêndios. “Quando os nossos amigos estão no Governo a culpa é da Natureza” #ABarretoObs
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“O Governo fez tudo para dissolver responsabilidades. O que o PM fez ao dizer que tinha feito perguntas foi pura manipulação” #ABarretoObs
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O futuro político de PS, PCP e Bloco
“O @psocialista ou tem mais votos e dispensa o PCP. Ou tem de ceder a mão, porque o PCP está atento à correlação de forças” #ABarretoObs
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“Se os votos derem maioria absoluta ao @psocialista, Costa trata o BE e o PCP com piparotes. Ou obriga-os ir para o Governo” #ABarretoObs
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E se António Costa não conseguir maioria absoluta? “O PCP e o Bloco vão fazer mais exigências e vão ser muito mais assertivos” #ABarretoObs
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O estado do país
“Sou otimista em relação à minha vida. Não sou otimista em relação a Portugal”
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Sobre o garrote do endividamento. “Os portugueses talvez tivessem mais autonomia durante os reinados dos Filipes” #ABarretoObs
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“A Europa está hoje fraquíssima. Está condenada ser um parque temático. Isto é mau para um país que precisa do exterior” #ABarretoObs
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“A única coisa sólida que existe em Portugal é o Estado. A economia desapareceu e há pouca cultura” #ABarretoObs
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E o estado da Justiça
“Tenho uma visão muito cética e negativa da Justiça portuguesa dos últimos 50 anos. Confundiu-se independência com autogestão” #ABarretoObs
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Sobre os mega processos que estão a ser investigados. “Estamos a viver um dos momentos mais drásticos para a Justiça” #ABarretoObs
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O número de políticos e empresários implicados em investigações judiciais dão “uma lista única na Europa e talvez no Mundo” #ABarretoObs
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“Se a Justiça não dá conta disto e isto acaba em nada, é o descrédito total” #ABarretoObs
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“Os juízes não têm direito à greve” #ABarretoObs
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