Cabo Verde apresentou esta segunda-feira 40 embaixadores urbanos, que são personalidades de diversas áreas que, durante um ano, vão levar mensagens de sensibilização às respetivas comunidades sobre a importância de urbanização e habitação sustentáveis, resilientes, inclusivas e seguras.

Um deles é Gamal Mascarenhas, que nasceu em Achada de Santo António, na Praia e que se recorda de que há mais de 40 anos “mais de metade do bairro era plano” e “havia espaço à vontade”.

Mas cresceu “só com casas e edifícios” e hoje é o bairro mais populoso de Cabo Verde, acrescentou.

Professor de Educação Física, músico, ativista social e artista, Gamal Mascarenhas lamentou, porém, que o bairro não tenha “uma única placa desportiva pública”, facto que considerou trazer muitos problemas para a comunidade.

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“Há muitos jovens sem espaço de lazer, sem espaço para prática do desporto”, indicou, dizendo, por isso, que foi com agrado que aceitou o convite para ser um dos 40 embaixadores cabo-verdianos da ONU-Habitat.

O meu grande objetivo, como ativista cultural que trabalha com os jovens na área de desporto voltado para a arte, é sensibilizar as autoridades para que não aconteça nunca mais o que aconteceu em Achada de Santo António”, apontou.

Pedindo “mais cuidado” nas construções, Gamal Mascarenhas sugeriu, por isso, que as legislações deveriam definir regras para o número de casas, espaços abertos, praças, parques, espaços para prática desportiva.

Para a cidade poder respirar. Porque para a cidade ser inclusiva tem de ter espaço de inclusão. Não é só dizer para ser inclusiva, mas deve haver espaço para a inclusão acontecer”, afirmou.

Outros dos ativistas urbanos é Big-Z Patronato, músico, que pertence a duas comunidades na cidade da Praia – Vila Nova e Ponta d’Água – onde notou que a questão da habitação “não é grande coisa”.

Por isso, disse que aderiu à campanha da ONU-Habitat em Cabo Verde para sensibilizar a comunidade sobre a importância de uma melhor habitação, esperando melhorias “daqui uns anos”.

Muitas vezes, vemos as coisas a acontecerem na nossa comunidade, queremos ajudar, mas não temos os meios. E estou aqui a ver se consigo ajudar com a minha música”, prometeu Big-Z Patronato, que falava aos jornalistas no âmbito da apresentação dos restantes embaixadores.

Em declarações aos jornalistas, a coordenadora cabo-verdiana da ONU-Habitat, Janice da Silva, disse que os 40 embaixadores urbanos de boa vontade foram apresentados hoje para assinalar o dia mundial do Habitat, que é celebrado anualmente na primeira segunda-feira do mês de outubro.

Durante um ano, os ativistas, todos voluntários, vão levar mensagens às comunidades sobre a importância de ter uma urbanização sustentável, cidades mais resilientes, mais sustentáveis, mais inclusivas e mais seguras, num projeto orçado em 500 mil dólares.

Os embaixadores são personalidades que foram escolhidas em diferentes setores da sociedade cabo-verdiana, residentes e na diáspora, desde jornalistas, ativistas sociais, músicos, peixeiras, urbanistas, engenheiros, desportistas, que terão intervenção nacional.

Reconhecendo a responsabilidade de fazer parte do projeto, todos prometeram formar uma “equipa ganhadora” em prol de uma melhor habitação em Cabo Verde, país que cresceu muito nas últimas décadas e que acumulou muitos problemas com assentamentos informais.

Mas Janice da Silva acredita que, com vontade política, cooperação e recursos internos e internacionais, ainda é possível reverter a questão de urbanização rápida no arquipélago, um dos 20 países que aderiram ao programa global de melhoria dos assentamentos da ONU Habitat.

A coordenadora indicou que “em breve” o país vai beneficiar de “recursos consideráveis”, os quais não enumerou, mas garantiu que haverá melhoria na urbanização e assentamentos humanos.

Janice da Silva disse que Cabo Verde colocou o habitar na agenda pública, mas que ainda enfrenta problemas de assentamentos informais, com destaque para a cidade da Praia e as ilhas do Sal, Boavista e São Vicente.