No fim-de-semana, um pos no Facebook da marca Dove causou polémica e chocou o mundo: uma mulher negra despia a camisola e, aparentemente, “transformava-se” numa mulher branca, naquilo que era apresentado como uma montagem de antes e depois. As críticas foram muitas, a Dove pediu desculpa e retirou o post, as redes sociais incendiaram-se e recordaram todas as outras ocasiões em que a marca foi insensível com a temática do racismo.

Dove pede desculpa por partilha “racista” no Facebook

Agora, a modelo negra que aparece no anúncio decidiu recorrer ao jornal britânico The Guardian para, num artigo de opinião, expor aquilo que pensa sobre o assunto. Lola Ogunyemi é nigeriana, nasceu em Londres e viveu quase toda a vida em Atlanta. Começa por dizer que cresceu “com uma noção bastante clara de que a sociedade pensava que as pessoas de pele escura, principalmente as mulheres, ficariam mais bonitas se a sua pele fosse mais clara”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A modelo revela que não hesitou quando recebeu o convite da Dove para integrar a campanha e que só se apercebeu de toda a polémica através da mensagem de um amigo, que lhe perguntava se a pessoa que tinha acabado de ver naquele anúncio era mesmo ela. “Fui à internet e descobri que me tinha a cara de uma inconsciente campanha racista”, afirma Lola Ogunyemi.

Se pesquisarem ‘anúncio racista’ no Google neste momento, uma fotografia da minha cara é o primeiro resultado. Eu tinha ficado entusiasmada por fazer parte da campanha e promover a força e a beleza da minha raça, logo, ver tudo isso a juntar-se ao ultraje generalizado foi perturbador”, revela a modelo, que diz ter aceitado o convite para representar todas as mulheres de pele negra.

Lola Ogunyemi defende-se da envolvência racista e de discriminação e diz que não tinha qualquer noção de que seria apresentada como inferior ou como o “antes”, numa montagem de antes e depois. “Teria sido a primeira a dizer que não”, assegura, acrescentando que “teria saído do set, isso é algo que vai contra tudo aquilo em que eu acredito”.

A imagem que causou o caos

A primeira versão do anúncio, um clip de apenas 13 segundos divulgado no Facebook, apresentava apenas três modelos e Ogunyemi era a primeira a aparecer. “Eu adorei. Os meus amigos e a minha família adoraram. As pessoas felicitaram-me por ser a primeira a aparecer, por estar fabulosa e por representar a magia da rapariga negra. Eu estava orgulhosa”. Depois, o anúncio completo, de 30 segundos, estreou na televisão norte-americana e a reação foi idêntica: nunca achou o conteúdo da campanha racista nem de nenhuma maneira inferiorizador.

Sobre o porquê de o anúncio ter enfrentado este tipo de críticas, Lola Ogunyemi não tem grandes respostas. “Consigo ver como as imagens que estão a circular na internet podem ser mal interpretadas, tendo em conta que a Dove já recebeu repercussões sobre o mesmo assunto anteriormente. Existe falta de confiança, e acho que o público teve justificação no que toca à revolta inicial. Ainda assim, consigo ver que muito foi deixado de fora. A narrativa foi escrita sem dar contexto aos consumidores para que formassem uma opinião informada”.

Por fim, a modelo afirma que, apesar de compreender a decisão da Dove de pedir desculpa e retirar imediatamente a campanha de circulação, esperava que a marca defendesse a visão criativa e a escolha de uma mulher negra como a cara do anúncio. E deixa um recado: “eu não sou apenas uma vítima silenciosa de uma errada campanha de beleza. Eu sou forte, eu sou bonita, e eu não vou ser apagada”.